A arquitetura modernista e as muitas plantas da casa de Carol Nóbrega
Moradora de uma casa modernista dos anos 1970, a proprietária da FLO atelier botânico mostra seu habitat solar
Passar pela porta da moradia de Carol Nóbrega e Antonio Jotta é ser tomada por uma série de sensações. Primeiro, a de deslumbramento, seguida, quase de imediato, do sentimento de paz.
E não é só porque eles são dois apaixonados por plantas — e mais do que isso, afinal, são os nomes por trás do FLO atelier botânico —, mas porque foram capazes de conquistar uma conexão com o espaço que vai além da escolha dos móveis ou da paleta de cores. A áurea iluminada, dominada por tons crus, reverbera pelos ângulos da casa de arquitetura modernista, construída em meados de 1970.
Acima, o quadro é obra de @johnnybetti: “Depois de escolhido, ele trocou o pincel principal por um modelo japonês, porque sabe do nosso amor por essa cultura”
Apesar da atmosfera de galeria de arte, Carol e Jotta conseguiram transformar o espaço em lar, que abriga, além dos dois, as bulldogs, Fiona e Luna, e, futuramente, o bebê do casal. “Como é uma casa de personalidade, já parece que moramos aqui há muito tempo. Não é aquela tela em branco que você não sabe o que fazer. Ela tem alma própria”, conta Carol sobre a mudança, que ocorreu em fevereiro deste ano.
“Esta casa tem uma alma própria, e nos conectamos muito com isso. Eu sinto que é uma honra morar aqui”
Carol Nóbrega
Apelidada gentilmente de nave espacial pelos moradores, a estrutura é coberta por um teto curvo. Seu interior, preenchido pela suavidade de linhas arredondadas, contrastantes com o acabamento de concreto, ainda ganha desenhos no chão pela luz que entra nas janelas retráteis da sala. Uma verdadeira obra de arte.
Seguindo pelo corredor do estar, uma vistosa porta em tom grená esconde a salinha com ares de refúgio. É nela que o casal encontra tempo para relaxar — Jotta com o violão e Carol com os cristais, outro item abundante no FLO.
Esse cômodo traz também um móvel cheio de história: o armário antigo de farmácia que os acompanha desde quando o ateliê ainda funcionava dentro do antigo apartamento do casal. Ali, uma porta de vidro revela outro cenário paradisíaco: o quintal. Lá, os dois reservam espaço para as plantas da casa.
“Imagine ao longo dos anos quantas plantas juntamos! Mas, como moramos em várias casas, muitas foram plantadas de forma fixa. E que bom que fizeram parte da nossa vida. Agora, vão fazer parte da vida de outra pessoa”, explica. Apesar do número menor de espécies, todas são icônicas.
ANSEIO PELA PRIMAVERA
Em 2020, o setor de plantas e flores movimentou R$ 9,6 bilhões em todo o Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Floricultura (Ibraflor). Porém, muito antes do hype do urban jungle na decoração, Carol e Jotta vislumbraram na botânica a possibilidade de um negócio, iniciado de forma despretensiosa.
Fundado em 2013, o FLO surgiu do desejo do casal de mudar de área, já que ambos trabalhavam em uma agência de conteúdo focada em moda e beleza.
“Eu estava bem cansada da tarefa mecânica na frente do computador. Sentia falta de algo, mas não sabia o quê.” Essa vontade foi descoberta durante uma ida à Nova York. A viagem não programada veio de uma premiação dada pelo Instamission, projeto criado pelo Instagram, que, à época, dava missões fotográficas para os usuários em troca de recompensas — o clique escolhido foi um registro do casamento. “Aproveitamos para conhecer bairros menos turísticos e descobrimos lojas e restaurantes incríveis. Todos decorados com terrários, como nunca havíamos visto antes”, relembra.
E esse não foi o primeiro insight entregue pelo acaso: durante a lua de mel, em Paris, eles se depararam com floriculturas muito particulares. “As prateleiras eram cobertas por musgos, parecia um jardim encantado. Aquilo ficou na nossa cabeça”, diz. Jotta voltou com a ideia fixa de fazer um terrário. “Sempre tivemos plantas, o que era algo diferente entre os amigos. Achávamos estranho ir na casa das pessoas e não ver vasos. Penso que é um hábito herdado das nossas famílias”, relata a designer de moda.
Contudo, sabiam que criar um do zero não seria tarefa simples. “Fomos ao Ceagesp e descobrimos um novo mundo, que ainda não conhecíamos de perto”, relembra Carol sobre a tarefa executada com sucesso. Pouco tempo depois, sem ideia do que dar para uma amiga numa festa, o casal decidiu presenteá-la com um terrário.
A reação da anfitriã e dos outros convidados não poderia ter sido melhor, e o presente resultou em dezenas de encomendas. A ideia se profissionalizou e chegou no que hoje é o FLO, ateliê na Vila Madalena, bairro de São Paulo, com um imenso catálogo de plantas e também de oportunidades para se aproximar do universo botânico.
“O negócio foi crescendo, crescendo… Até entendermos que precisávamos parar para planejar. A ideia não era sair fazendo terrários, queríamos que a pessoa sentisse, de alguma forma, o encanto que sentimos nas viagens.” A loja conceito oferece arranjos, plantas para interiores, cursos e até mentoria. Além disso, a disponibilidade é farta e imediata, sendo possível adquiri-los não só por encomenda. Afinal, “flor não pode ser uma coisa só para datas especiais”, pontua Carol.
O aniversário do empreendimento é celebrado, por uma feliz coincidência, sempre na primavera. Este ano, já são dez, e o casal sabe exatamente como o marco será festejado. É que o fim de setembro é também o período previsto para a chegada do novo membro da família. “Antes de nos mudarmos para cá, estávamos num apartamento. Me deu um alívio tão grande saber que seria mãe aqui!” Com certeza, as primaveras na nave serão especiais.