Tenho orgulho do meu trabalho e, principalmente, de mim mesma
Foto: Arquivo pessoal
Às 9 da manhã estou de pé. Tomo banho, escovo o cabelo e passo batom vermelho. Visto um dos meus vestidos de cetim bege e então vou à luta. Minhas amigas dizem que saio para trabalhar como se fosse uma professora. Mas sou catadora de lixo.
Há dois anos o vestido de cetim é o meu uniforme. Desde que passei a cuidar da minha aparência, sofro menos preconceito com a minha profissão. Antes, quando eu saía para trabalhar de qualquer jeito, tinha vergonha e via olhares de reprovação. Hoje tenho orgulho de mim e das minhas conquistas.
Comecei a catar lixo há sete anos. Eu trabalhava em uma loja de móveis e só ganhava R$ 260 por mês. Um dia vi uma mulher recolhendo papelão na rua e imaginei: se ela faz isso é porque dá dinheiro! Eu estava infeliz no trabalho, então saí e comecei a catar lixo. Meu marido dizia que era coisa de miserável. No início foi duro. Eu não sabia nem empilhar o papelão e tinha que juntar pelo menos mil quilos pra receber alguma coisa.
Passei a trabalhar dez horas por dia. Minha filha Cíntia, que na época tinha 18 anos, e o João, de 10 anos, me ajudavam quando podiam. Já a Layla, que tinha 16 anos, nem chegava perto. Ela tinha vergonha do que eu fazia.