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Por que meninas adolescentes não veem mulheres como aptas para a liderança?

Não estamos educando nossas meninas para serem líderes e para confiarem na liderança feminina. Entenda por que é urgente debater esse assunto.

Por Júlia Warken
Atualizado em 21 jan 2020, 17h14 - Publicado em 4 nov 2015, 14h15

É indiscutível que atualmente mais mulheres estão chegando ao topo, seja nas empresas ou na política. Já para alcançarmos a igualdade… ainda temos um longo caminho a percorrer. Até aí, não temos grandes novidades. Mas como será que as novas gerações estão absorvendo essas mudanças? Ainda não como gostaríamos, segundo uma recente pesquisa realizada pela Universidade de Harvard.

Os adolescentes de hoje seguem acreditando que os homens estão mais aptos a serem líderes do que as mulheres. É o que revela o estudo realizado com 20 mil meninos e meninas americanos com idades entre 11 e 18 anos. Dentre as conclusões da pesquisa, descobriu-se que 23% das garotas preferem líderes políticos homens, 69% disseram ser indiferentes e apenas 8% preferem ver mulheres no poder. Já entre os garotos, 40% preferem líderes homens, 56% são indiferentes e 4% preferem mulheres.  

Em se tratando de um modelo de liderança mais próximo à realidade dos jovens, utilizando a figura do líder de classe como objeto, a conclusão foi semelhante: a maior parte das escolas mostrou ter mais meninos ocupando essa função. Dentre as razões para essa preferência, uma das mais mencionadas foi: meninas costumam ser muito emotivas e dramáticas. O sentimento de competitividade e inimizade entre meninas também aparece como fator determinante para que garotas optem por apoiar líderes de classe do sexo masculino. Outro dado curioso é que a maior parte das mães dos alunos também demonstrou ter mais confiança em meninos como líderes de classe.

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Ainda abordando o papel de liderança dentro das escolas, outro dado chama a atenção: garotas são mais suscetíveis a apoiarem outras garotas quando estão cientes de que há desigualdade de gênero dentro do ambiente escolar. Ou seja, a rivalidade compulsória é mais facilmente combatida quando o machismo é compreendido como algo real.

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Para a socióloga Arlene Ricoldi, especialista em Sociologia das Relações de Gênero e pesquisadora do departamento de Pesquisas Educacionais da Fundação Carlos Chagas, em São Paulo, a raiz do problema (que também é uma realidade aqui no Brasil) está na educação. “O comportamento esperado das meninas é que sejam boas. Quando uma menina se comporta mal a observação é ‘puxa, e é uma menina!’. Em relação aos meninos, ocorre o contrário: são estimulados à transgressão. Os líderes, em geral, são aqueles que ‘projetam para a frente’, o que implica em inovação e transgressão. Essas características não são estimuladas nas meninas. Aliás, elas são até reprimidas”.

A pesquisa de Harvard diz o mesmo. O estudo americano propõe mudanças na educação, sendo uma delas a abolição do pensamento de que, se um garoto transgride regras, ele está “apenas sendo menino”. Arlene também chama a atenção para outra questão perturbadora: como as meninas são mais cobradas no quesito disciplina, elas acabam se destacando mais no rendimento escolar. Quando elas chegam ao mercado de trabalho, no entanto, as boas notas da infância/adolescência não significam destaque profissional.

“Nas nossas escolas o que se espera e se premia é o ‘bom comportamento’. Ficar em silêncio, ouvir o professor, realizar as tarefas, ter boa frequência… esse padrão de bom comportamento é, basicamente, seguir as regras estabelecidas, e, de preferência, sem questionar”, diz Arlene. Para além do conhecimento e da disciplina, é a transgressão e a ambição que vão definir quem serão os líderes. Ou seja, por mais que as escolas estejam premiando as meninas (pelas notas e bom comportamento), elas não estão focadas em desenvolver líderes.

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Mais do que modificar esse molde entre os adultos, é preciso também debatê-lo com as crianças e adolescentes. Tanto o estudo de Harvard quanto a jornalista Marcia Veiga, pesquisadora de Comunicação, Gênero e Produção do Conhecimento dizem isso. “Quando não problematizados, valores arraigados que dominam o senso comum tendem a ser reproduzidos, ainda que inconscientemente”. Na sociedade em que vivemos, as qualidades tipicamente masculinas (como força, pró-atividade e autoridade) são tidas como superiores e, para que isso seja desconstruído, precisa ser debatido. “Para que a gente possa compreender as relações entre homens e mulheres numa sociedade é importante observar não apenas os sexos, mas tudo aquilo que socialmente se construiu sobre os sexos”, acrescenta Márcia.

Ou seja: tem que falar sobre desigualdade de gênero, sim! “Transformar padrões sociais passa necessariamente pelas formas de conhecer e pela educação”, frisa Marcia. Não é papo chato, é papo transformador. E é urgente!

 

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