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Fui perseguida por ser lésbica

Eu e minha companheira perdemos nossos empregos e fomos humilhadas

Por Redação M de Mulher
Atualizado em 21 jan 2020, 11h46 - Publicado em 30 out 2008, 21h00
Daniele Zebini (/)
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Fui perseguida por ser lésbica

O amor verdadeiro não escolhe sexo, raça ou religião
Foto: Divulgação

Não desejo a ninguém o que passei. Voltei para a escola em que lecionava depois do feriado de Páscoa, dei as aulas do primeiro período normalmente e, no intervalo, fui chamada para uma reunião. Encontrei a diretora, Cleidinei, e a professora Noyr, com quem eu namorava havia um mês. A conversa não era sobre trabalho.

“Eu soube que vocês estão tendo um relacionamento homossexual. Isso é verdade?”, perguntou a diretora. Eu disse que sim, não tinha nada a esconder. Nem imaginava que a minha chefe já tinha levado o caso à Secretaria da Educação de Campo Grande. A orientação que ela recebeu foi taxativa: rescindir o contrato da Noyr e me afastar do cargo. Eu era concursada e não podiam me demitir. Foi então que descobrimos como tudo aconteceu.

Confiamos na pessoa errada

Eu dava aulas na zona rural há 15 anos e desde junho de 2006 lecionava na Escola Oito de Dezembro. Alfabetizava crianças de 1ª a 4ª série. Em fevereiro de 2007 a Noyr foi contratada para a cadeira de Língua Portuguesa dos alunos de 5ª a 8ª. Como a escola fica na zona rural, a 230 km de Campo Grande, os professores moram no alojamento. No meu quarto havia três camas de solteiro onde dormíamos eu, a Noyr e a professora Maria de Jesus.

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Aos poucos eu e a Noyr fomos descobrindo afinidades e nasceu um sentimento. E, numa das idas a Campo Grande, começamos a namorar. Mas nunca deixamos transparecer nada na escola. Nosso relacionamento era tão escondido que às vezes a gente colocava bilhetinhos uma na gaveta do armário da outra para que ninguém desconfiasse do nosso amor. Mas a Maria de Jesus era muito minha amiga e a Noyr também gostava dela. Sugeri: vamos contar à Maria sobre nós? Como ela demonstrava tanto afeto por nós e até chamava a Noyr de filha, contamos. Era uma segunda-feira.

A Maria fez a maior festa. Nos abraçou e tudo. No domingo era Páscoa e os professores do alojamento foram pra Campo Grande visitar suas famílias. Foi quando a Maria nos apunhalou pelas costas. Ela contou a nossa história para Nancy, sua irmã, que é amiga da diretora. A partir daí a nossa vida se tornou um inferno.

Noyr e eu ficamos em choque ao descobrir a traição da Maria. Mas o pior mesmo foi a atitude da diretora. Imagina perdermos o emprego por causa da nossa opção sexual! Ela disse que nos afastaria para “evitar que a notícia chegasse ao conhecimento da comunidade”. Fiquei arrasada. Eu tinha planejado a minha aposentadoria pra dezembro. Queria fazer uma festa, convidar os colegas. Em vez disso, nem pude me despedir das minhas crianças. Saí da reunião direto para o carro que me levou à Secretaria da Educação, como se fosse uma criminosa. E chorei. Chorei durante as mais de duas horas do caminho. A Cleidinei não me dirigiu a palavra.

Quero justiça!

Pedi uma reconsideração sobre o caso, mas me foi negada. Então ficamos as duas desempregadas e ainda viramos alvo de fofoca. Diziam que a gente namorava dentro da escola, que todo mundo sabia. Mentira! Eu tenho 27 anos de profissão. Imagina se não teria postura na frente das crianças! Tudo porque amo outra mulher. Se fôssemos heterossexuais, nada disso teria acontecido.

Apesar da humilhação que sofri, não vou me esconder. Vou brigar pelos nossos direitos. Já entramos com um processo e pedimos R$ 500 mil por danos morais e perdas salariais da Noyr. O meu processo será por danos morais, também calculado em R$ 500 mil. Queremos o dinheiro, claro, mas o que conta é o reconhecimento de que não fizemos nada de errado. Eu quero justiça!

Debate: Quem você acha que está com a razão? 
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