De empacotadora a empresária
Saí do Ceará sem dinheiro. Hoje, dou autógrafo nas minhas lojas
Abri minha empresa com R$ 8 mil.
Hoje, tenho 5 megalojas e
100 funcionários
Foto: Bob Paulino
Nasci num sítio no meio do mato em Barro, no interior do Ceará. Fui registrada como Josefa Adecilda Silva de Araújo. Meus pais eram agricultores e lutaram para sustentar os sete filhos seis mulheres e um homem. Apesar do sufoco, nunca faltou comida na mesa. Mas sempre tive vontade de vencer. Só não sabia como.
Uma das minhas irmãs, que já morava em São Paulo, me pediu para vir ajudá-la. Minha sobrinha havia quebrado a perna. Foi assim que, aos 16 anos, vim parar na cidade grande.
Foram três dias de ônibus até São Paulo. Eu não tinha dinheiro pra comer nas paradas. Por isso, levei uma marmita de frango com farinha. Cheguei à capital sem dinheiro pra nada. Via as pessoas se arrumando pra ir trabalhar e queria fazer parte daquilo. Um dia fui a um mercado e pensei: “Pronto, é aí que vou conseguir um emprego”.
Provei que tenho talento
Eu não tinha carteira de trabalho nem documento nenhum, mas tanto insisti que virei empacotadora na seção infantil. Na hora de fazer o crachá já fui pedindo: “Josefa, não, pelo amor de Deus, que isso não é nome comercial. Coloca aí Sylvia Araújo”. Quase um ano depois, no dia do meu aniversário de 18 anos, 25 de janeiro, me promoveram para o setor de vendas.
Um cliente que eu atendia me disse: você é tão espontânea, merece mais que esse emprego. Eu disse logo: “Se o senhor tem algo melhor pra me oferecer, eu quero”. Mal sabia: ele era dono de uma loja de roupas.
Trabalhei lá por um tempo, mas não sosseguei. Quando eu saía pra almoçar, ficava de olho nas placas de emprego. Um loja de móveis deixou o anúncio na vitrine: “Contrata-se vendedora, 35 anos, salário de R$ 10 mil”. Entrei, e a moça me disse: “Não sabe ler, não? A vaga é para 35 anos”. Respondi: “Sei, sim, tenho 22 anos, mas com meu potencial posso oferecer até mais do que uma pessoa de 35”. O dono, que estava perto, ouviu a conversa. Comecei lá no dia seguinte.
No primeiro mês bati a cota. Vendi quase a loja inteira pra um cônsul que nem falava a minha língua. Não entendi nada do que ele dizia. Mas vendi.
Fui pra outra loja de móveis e fiquei por 12 anos, seis meses como vendedora e o restante como gerente. Nesse meio-tempo, conheci meu marido, um pernambucano do ramo têxtil, em um restaurante nordestino de forró. Um ano depois, engravidei. Resolvi acompanhar os primeiros passos do meu filho, porque no ramo moveleiro trabalha-se de segunda a domingo.
Recebi vários convites pra voltar a trabalhar, até que me deu um estalo. Por que não abrir minha própria loja? Eu estava com 33 anos e uma poupança de R$ 8 mil reais. Não queria saber de ajuda de marido. Precisava fazer aquilo sozinha.