Criei um banco
Nós, moradores, nos unimos e criamos o Banco Palmas. Emprestamos o nosso dinheiro, o palma, sem juros!
O Banco apóia a comunidade local que, em contrapartida, apóia o Banco
Foto: Divulgação
Quando cheguei ao Conjunto Palmeira era um estudante de teologia de 22 anos com muito trabalho a fazer. As pessoas que moravam ali tinham sido retiradas de uma área com potencial turístico pelo governo e foram largadas naquele descampado sem estrutura. Demoraram 13 anos para construirmos casas, termos calçamento nas ruas, água e luz. Tudo na base do mutirão. Mas as pessoas eram muito pobres. Passavam fome. E não tinham dinheiro para pagar as contas que chegavam. O bairro não gerava renda. Pensando nisso eu e o pessoal da associação de moradores tivemos uma idéia maluca: criar um banco!
No segundo dia o banco quebrou
Mas nós não tínhamos dinheiro. Então pedi R$ 2 mil emprestados a uma ONG. Em janeiro de 1998 inauguramos o Banco Palmas. Dividimos o dinheiro em partes iguais e emprestamos a cinco pessoas. Os juros eram menores que os dos bancos normais. No dia seguinte surgiram 150 pessoas e não tínhamos nada para emprestar. Estávamos quebrados! Ouvi muita piada por causa disso, mas não desisti. Peguei R$ 30 mil emprestados de ONGs internacionais. Foi o último empréstimo que fiz para pôr o banco de pé.
Todo mundo apostava que íamos entrar pelo cano. Até porque nunca consultamos SPC ou Serasa antes de aprovar um empréstimo. Nós conversamos com o vizinho para saber se a pessoa é boa pagadora. “E aí, fulano, o beltrano é trabalhador? Você emprestaria dinheiro a ele?” “Ih, rapaz, ele é o maior cachaceiro!” Tiro e queda. Se o vizinho fala mal, a gente não empresta mesmo.