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Esta revista quis ensinar mulheres brancas a fazer penteado afro. E não deu muito certo

Militantes acusaram a publicação por "apropriação cultural"

Por Julee Wilson (colaboradora)
Atualizado em 21 jan 2020, 19h51 - Publicado em 13 ago 2015, 09h29
Reprodução/ Twitter (/)
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Mais uma vez a apropriação cultural está desencadeando uma onda de polêmica, e, pela enésima vez, o caso diz respeito aos cabelos de mulheres negras.

A revista Allure está ao centro de uma tempestade de reações a um tutorial de cabelos publicado em sua edição de agosto de 2015 com o título “Você (Sim, Você) Pode Ter um Penteado Afro*”). O asterisco diz “mesmo que seus cabelos sejam lisos”.

O tutorial traz fotos de uma atriz branca – Marissa Neitling, de “The Last Ship” –, e é complemento de uma matéria de beleza de Danielle Pergament intitulada “Back To Cool”. Para a matéria, o cabeleireiro Chris McMillan transformou os cabelos de cinco atrizes de Hollywood, convertendo-os em penteados popularizados nos anos 1970: o corte tigela, o ondulado suave, a franja comprida e o afro.

Não surpreende que o artigo, provavelmente voltado a leitoras brancas, esteja causando comoção. Considerando a importância do penteado afro para a identidade cultural e a história politicamente carregada dos afro-americanos, há várias razões pelas quais este editorial desagradou a muita gente.

“O problema da matéria da Allure vai muito além da crítica de praxe – que a revista não usou uma mulher obviamente negra para ilustrar a matéria –, incluindo a oportunidade perdida de transmitir a uma base de leitoras que obviamente deve ser sobretudo muito branca e oferecer dicas a mulheres negras sobre como cuidar seus próprios penteados afros, em vez de mostrar às brancas como roubar um penteado que não foi feito para elas”, foi a reação dos editores da Clutch.com, que, ao lado do pessoal da BlackGirlLongHair.com, foram os primeiros a tomar nota do editorial. “As negras não começaram a usar o penteado afro para ser bonitinhas.”

Branca com cabelo afro na revista Allure

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O penteado afro, em especial, teria sido uma oportunidade perfeita para a revista usar uma atriz negra –mas não se vê nenhuma atriz negra na matéria. Nos lembramos da situação recente em que a Teen Vogue foi criticada por usar uma modelo branca para ilustrar tranças senegalesas.

Uma porta-voz da Allure disse ao HuffingtonPost que o artigo reflete o nível de autoexpressão “que acontece hoje em nosso país” (os EUA):

“O penteado afro tem uma história cultural e estética rica. Nesta matéria, mostramos mulheres usando penteados diferentes como expressões individuais de estilo. O uso da beleza e do cabelo como forma de autoexpressão espelha o que acontece em nosso país hoje. A criatividade é ilimitada – e maravilhosa.”

Vale notar, contudo, que a apreciação da história “cultural e estética rica” do afro não foi mencionada no artigo. Assim, reconhecer a beleza do penteado, ensinando às mulheres brancas como imitá-lo, sem uma contextualização histórica e sem lhe dar o respeito devido, é problemático.

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O tutorial também usa o termo pejorativo “rag curls” (cachos de trapos) quando fala em manipular os cabelos para formar um penteado afro. De novo, achamos chocante.A linha que separa apreciação cultural e apropriação cultural não apenas não fica clara, como foi atravessada. O mínimo que se pode dizer é que a escolha infeliz de termos e o uso de uma modelo branca se devem a um trabalho fraco de edição ou a uma provável falta de diversidade étnica no nível editorial da revista.

Se a Allure tivesse citado sua apreciação do penteado afro, talvez o artigo não tivesse sido tão criticado.

Chris McMillan, o cabeleireiro consultado para a matéria, disse ao Huffington Post que o uso do afro por mulheres brancos foi inspirado por Barbara Streisand no filme “Nasce uma Estrela”. Ele disse também que se surpreendeu com as reações negativas e que quer ler mais sobre a controvérsia gerada pela matéria.

“Aprendi a fazer cabelos com as garotas afro-americanas na escola de estética, e elas me ensinaram mais que qualquer outra pessoa sobre cabelos”, ele disse. “E eu faço cabelo de negros.”

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Pedimos a alguns blogueiros sobre cabelos negros, stylists de cabelos e influenciadores da comunidade negra que manifestassem suas reações. Veja o que eles disseram:

“Esta gafe mais recente da Allure destaca ainda mais a necessidade de uma presença maior de jornalistas e editores negros nas redações das grandes revistas, para que alguém possa explicar a elas por que ensinar brancas a copiar penteados negros pode não ser boa ideia. Algo que já pudemos ver inúmeras vezes é que as pessoas adoram a cultura e a criatividade negra, mas não as pessoas negras. Estas publicações precisam fazer mais do que apenas usar negros como inspiração de estilo.” — Britni Danielle, Clutch.

“Ri muito quando vi isso, mas fiquei irritada. Isto não é um afro. Não é a mesma coisa que uma negra fazer um permanente ou um aplique nos cabelos. É bom lembrar que fomos apresentadas ao alisamento numa época em que nos faziam sentir que nosso cabelo era um problema que precisava ser resolvido. O que foi feito foi simplesmente uma apropriação muito insensível, e é especialmente irritante quando se considera toda a troca pública de ideias que temos em torno dessas coisas.” — Jamilah Lemieux, jornalista e editora da Ebony.com.

“Isto é insensibilidade disfarçado de inclusão. Há muitas mulheres brancas com cabelo naturalmente grosso e cacheado que poderiam facilmente fazer um penteado afro. O erro cometido aqui foi com a modelo e com a ideia de que uma apropriação cultural pode virar um penteado divertido para o verão. O movimento dos cabelos naturais nasce do desejo de dar às negras a confiança necessária para aceitar sua própria beleza natural, de uma maneira que as grandes revistas mainstream geralmente não fazem. Em comparação com isso, este artigo é cruel e irônico.” — Danielle Henderson, jornalista.

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“Para falar a verdade, não me ofendi nadinha quando li o texto da Allure. Na verdade, me senti lisonjeada. Considerando que há décadas as mulheres brancas vêm fazendo coisas para ficarem parecidas conosco (por exemplo, bronzeamento, injeções nos lábios, implantes no bumbum, etc.), é incrível ver que agora querem reproduzir nossos cachos. A imitação é a forma mais elevada de elogio. Para mim, é engraçado e não é razão para protestar. Às vezes levamos essas matérias de beleza a sério demais. Temos manchetes muito mais perturbadoras com que nos preocupar (por exemplo o caso de Sandra Bland).” — Christina Brown, fundadora da LoveBrownSugar.com.

“Sou um cabeleireiro legítimo que curte todas as inovações que surgem em minha área. Acho que as mulheres com cabelo encarapinhado têm o direito de ter cabelos lisos e as mulheres de cabelos lisos têm direito de fazer um penteado afro cacheado encarapinhado. Mas também sou um dos muitos novos guardiões da instituição da beleza e defensor da diversidade. O problema da Allure e de seus críticos é que a Allure se vê como Bíblia da beleza, mas deixa a desejar em matéria de imagens e temas que reflitam o mundo real em que vivemos. A revista cria o problema da etnicidade apropriada e estraga as coisas para todo o mundo que quer e tem o direito de ficar com a aparência que bem entende, sem carregar a bagagem de ódio capilar criada pelos guardiões antigos para quem o ‘afro-americano’ ainda é uma textura.” — Anthony Dickey, stylist de cabelos e proprietário da Hair Rules.

 

Este artigo foi originalmente publicado pelo HuffPost US e traduzido do inglês.

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