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Denise Steiner

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A médica Denise Steiner é dermatologista, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia e doutora pela Unicamp

Mitos e verdades sobre a Vitamina D

Será verdade que, em doses altas, a vitamina seria capaz até de evitar a Covid-19?

Por Denise Steiner
Atualizado em 24 abr 2020, 09h00 - Publicado em 24 abr 2020, 09h00
 (Photo by Cathy Scola/Getty Images)
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A vitamina D está em evidência tanto pela sua importância na saúde óssea como também porque inúmeros artigos a colocam como milagrosa, curando o câncer ou aumentando a imunidade geral dos indivíduos. Recentemente, na mídia, um cientista pós-graduado afirmou que uma única dose altíssima de vitamina D seria capaz de evitar a infecção pelo coronavírus. Isso é perigoso, pois além de não estar embasado por estudos científicos bem desenhados, cria uma expectativa irreal na população leiga, que obviamente sempre prefere as curas milagrosas.

A vitamina D é considerada quase um hormônio, que age em vários receptores teciduais do nosso organismo. Ela, sabidamente é importante para os ossos, pois estimula a absorção do cálcio do nosso intestino e viabiliza a mineralização do osso. Essa relação da vitamina com a saúde esquelética está cientificamente estabelecida. Porém, mais recentemente, há evidências que essa vitamina também traz benefícios para doenças cardiovasculares, diabetes, infecções e doenças autoimunes.

A maior parte de vitamina D do nosso organismo é obtida quando a radiação solar UVB chega na pele e promove sua ativação. É importante salientar que a radiação solar necessária para ativação da vitamina D é também aquela que queima a pele e causa câncer de pele. Essa radiação chamada luz ultravioleta B chega à superfície terrestre entre 11 e 14 horas do dia e penetra na pele lesando o DNA celular.

A partir da sua ativação pela luz UVB, ela passa por metabolização dentro do nosso organismo e se torna a vitamina D ativa que age nos receptores específicos. Além da produção na pele, também pode ser adquirida através da dieta ou por suplementação vitamínica.

A definição de deficiência de vitamina D, baseada nos níveis séricos de 25 (OH) D é motivo de controvérsia na literatura. Valores acima de 30 ng/ml são considerados como satisfatórios por todos os autores. Níveis inferiores a 20 ng/ml podem ser consensualmente considerados como deficiência de vitamina D. Valores intermediários entre 20 e 30 ng/ml são considerados como limítrofes. Hoje, os níveis séricos de vitamina D parecem estar baixos em grande parte da população. É bom lembrar que a pigmentação da pele e a idade também afetam a produção da vitamina. Indivíduos com fototipos altos podem ter sua produção de vitamina D alterada, já que a melanina absorve a radiação UV na epiderme, o que limita o número de fótons disponíveis para converter moléculas de 7-DHC em pré-vitamina D3. A diminuição de vitamina D nos idosos é bem conhecida.

Em geral, o uso de filtro solar para prevenir o aparecimento do câncer de pele poderia ser o culpado por esses níveis mais baixos na população em geral. Segundo estudo publicado por De Paula Correa, avaliando o nível de radiação na cidade de São Paulo durante um período de 3 anos, a exposição não intencional ao ambiente externo pelo tempo de 10 minutos diários, somente das mãos e face, seria suficiente para a produção adequada de vitamina D em uma pessoa de Fototipo II. Os dados apresentados pelo estudo já consideram os dias nublados e chuvosos, portanto, somente 10 minutos de exposição ao ambiente externo, qualquer que seja o clima, nas mãos e face, seriam suficientes na cidade de São Paulo.

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O uso adequado de fotoprotetores reduz de forma significativa a quantidade de radiação UVB que atinge a superfície cutânea, podendo interferir teoricamente na produção de vitamina D. Entretanto, na prática, o protetor solar não é aplicado na quantidade adequada e com a frequência e regularidade recomendadas, permitindo que suficiente radiação UVB atinja a pele para a produção da vitamina D. Assim, o uso de fotoprotetores, da forma como é habitualmente utilizado pelos usuários, não poderia ser considerado como um fator predisponente ao desenvolvimento de deficiência de vitamina D.

Recomendações da Sociedade Brasileira de Dermatologia

A exposição ao Sol, de forma intencional e desprotegida, não deve ser considerada como fonte para a produção de vitamina D ou para a prevenção de sua deficiência;

Recomendar o uso de protetores solares com FPS superiores a 30 para todos os pacientes, acima de 6 meses, expostos ao sol;

Orientar a não realizar exposição solar sem o uso adequado de protetores solares;

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Orientar os pais de crianças abaixo de 6 meses a não expor diretamente ao sol e não fazer uso regular de fotoprotetores;

Pacientes considerados como sendo de risco para o desenvolvimento de deficiência de vitamina D devem ser monitorados através de exames periódicos e podem utilizar fontes dietéticas ou suplementação vitamínica para a prevenção de deficiência de vitamina D.

São considerados fatores de risco para a deficiência de vitamina D:

a) Lactentes recebendo amamentação exclusiva.
b) Idosos (pele envelhecida produz menos vitamina D).
c) Indivíduos com baixa exposição ao Sol.
d) Condições climáticas extremas.
e) Uso rigoroso de medidas de fotoproteção.
f) Cobertura da pele por práticas religiosas.
g) Fototipos V e VI.
h) Pacientes com síndrome de má absorção.
i) Obesos mórbidos.

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A dose diária recomendada de vitamina D para a prevenção de deficiência em indivíduos de risco é a seguinte:
a) 0-12 meses: 400 UI/dia
b) 1 a 70 anos: 600 UI/dia
c) > 70 anos: 800 UI/dia

Por fim, a SBD entende que a política para a prevenção ao câncer de pele, através da fotoproteção consciente, é medida prioritária em termos de Saúde Pública para o Brasil, particularmente na área da Dermatologia. A SBD continua a estimular a população a evitar a exposição ao sol sem a adequada proteção, especialmente no período de maior risco, entre 10 e 15 horas.

Em tempos de isolamento, não se cobre tanto a ser produtiva:

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