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Por Ana Carolina Coelho. Feminista, mãe, escritora, poeta, dançarina, plantadora de árvores, pesquisadora e professora universitária
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Técnicos da vida alheia insistem em julgar impiedosamente as mães

Amaternando o Viver: conheço diversas histórias de situações em que a pessoa era uma completa desconhecida, mas fez questão de “dar sua opinião”

Por Ana Carolina Coelho
25 jan 2021, 14h30

Ser mulher é uma armadilha. Se você quer alguma coisa do “mundo feminino” é uma “escolha sua”; se você decide rejeitar algo desse “mundo”: “ah! você está indo contra sua natureza!”. Nas artimanhas argumentativas para tornar a vida das mulheres uma arapuca sem fim, razão, emoção e biologia se fundem na mesma conversa.

Um dos exemplos mais evidentes disso é ser mãe. Se desejamos a maternidade, foi uma “opção pessoal”; se não a queremos, somos “fêmeas antinaturais”. Somos figuras públicas julgadas por toda e qualquer ação. Se não temos certeza como agir, não estamos deixando nosso “instinto materno” aflorar; se sabemos o que fazer, somos “arrogantes que não aceitamos a ajuda/opinião de ninguém”.

Existe inclusive, hoje em dia, um mercado imenso de produtos e pseudoprofissionais que oferecem soluções rápidas e fáceis, como receita de bolo, para todas as questões da maternagem. É a versão das dietas milagrosas para a maternagem. No cerne dessa procura por uma resposta está uma antiga mistura de sentimentos tão conhecidos pelas mulheres: insegurança, frustração, preocupação e medo de ser criticada.

Existe um dito popular que afirma que todo brasileiro, durante o campeonato mundial, é um técnico e juiz de futebol. Uma adaptação bastante verossímil dessa frase seria: toda pessoa no MUNDO sabe mais e melhor sobre nossas/os filhas/os do que nós, mães. Eu conheço mulheres profissionais fantásticas, especializadas na área em que a criança apresenta alguma questão, sendo impiedosamente criticadas por esses “técnicos da vida alheia”, ao insistirem em manter o tratamento adequado.

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Maternar é processo lento de estudo e prática constante e as mães, em geral, procuram muito saber e fazer o melhor que podem. Mesmo assim, conheço diversas histórias de situações em que a pessoa era uma completa desconhecida, mas fez questão de “dar sua opinião” sobre a educação, o comportamento da criança ou da mãe, sem sequer saber o contexto.

Eu me lembro que quando minha filha mais velha tinha mais de 1 ano e meio, ela teve dias seguidos de febre e mal estar e recusava todos os alimentos que oferecíamos. Monitoramos atentamente com a pediatra que marcou um horário, alguns dias depois e, obedientemente, fomos. Compromissos adiados e desmarcados, a vida estava em suspenso. Na sala de espera, depois de uma sequência de noites mal dormidas de preocupação e vigília, eu abri uma papinha industrializada – se ela comesse algumas colheradas seria uma vitória, porque já estávamos considerando uma internação hospitalar – mas minha pequena se recusava a comer.

Em um ato de desespero, eu pedi ao meu esposo que procurasse um pacotinho de sal – já que ela ainda não comia nada feito com sal – e, “talvez quem sabe” o gosto salgado lhe agradasse. Quando, de repente, uma completa estranha que estava na sala de espera, uma mulher que eu nunca vi na minha vida, uma dessas “juízas de filho alheio” sentenciou: VOCÊ NÃO PODE DAR SAL PARA SUA FILHA!

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E, pela primeira vez, eu não tive a reação imediata insegura de tentar me explicar, para convencer a outra pessoa que eu tinha muitas razões e havia todo um contexto para eu ter feito aquele pedido. Eu tive apenas uma raiva imensa e incandescente: de ser julgada, de ser exposta, da falta de empatia e, principalmente, do ato desamoroso de outra mulher sobre a minha maternidade.

Eu a ignorei. Pela primeira de muitas vezes, eu fiz o que EU julgava, dentro de toda a análise e seguindo TODAS as orientações da pediatra – que me assegurou que um pouco de sal aos quase dois anos de idade nenhum mal faria a minha amada filha, levando em consideração todos os hábitos alimentares de sua dieta balanceada – ou seja, dentro de um contexto coerente eu estava agindo de maneira amorosa e correta: eu estava amaternando.

Mas eu continuei com muita raiva. Nesse tribunal infinito o veredicto é o mesmo para todas nós: culpadas. Somos condenadas por desejar, recusar, querer, sonhar, fazer ou desistir. Bem, se nós, filhas, sabemos de uma coisa é que nunca é bom deixar uma mãe irritada. Eu decidi lutar. Se, como diz Rita Lee, “para pedir silêncio eu berro, para fazer barulho eu mesma faço”, decidi que se já nasci condenada em uma armadilha, vou aproveitar para viver. Não quero as escolhas falsas que me oferecem: nós podemos mais sim.

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Estava lendo, esses dias, um livro com a minha filha mais nova, e eu mostrei a figura de uma casa com uma janela no alto, onde havia um bolo, e um urso lá embaixo observando a guloseima. Eu disse: – E agora, Aurora? O bolo está longe! Tadinho! Como ele vai fazer?”. Ela olhou para mim com a voz mais debochada do mundo e disse: “– Ué, mãe! É só pegar uma escada!”. Se ela fosse adolescente, eu certamente teria ouvido um “dãããã” no final da frase. A solução é simples e óbvia.

Na luta materna, precisamos de ajuda mútua, pois algumas escadas são maiores e mais pesadas. Juntas, nós, mulheres, podemos “amaternar” o viver e degustar quantos bolos nós quisermos; quebrar as jaulas dos julgamentos e rir das armadilhas. Nem o céu pode limitar nossa caminhada unida. Se um dia fomos primariamente sentenciadas, que nos rebelemos e façamos de cada condenação um degrau rumo às estrelas.

Mães, de quantos sonhos você já abriram mão por causa de outras pessoas?

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Dias mulheres virão!

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