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Por Ana Carolina Coelho. Feminista, mãe, escritora, poeta, dançarina, plantadora de árvores, pesquisadora e professora universitária
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O caos e a coragem cotidianos da vida com crianças

Pelo passado e pelo futuro, milhares de mães convivem com esses mesmos dilemas nesse exato momento

Por Ana Carolina Coelho
16 ago 2020, 17h00

As manhãs na minha casa nunca foram exatamente momentos de meditação. Quando eu morava sozinha eram, ao menos, instantes silenciosos, mas no ritmo acelerado de quem tem que se organizar rápido para chegar a tempo ao trabalho. Agora, vários anos depois, um casamento, vários bichos e duas crianças, as manhãs parecem querer comprovar a teoria do caos: as instabilidades das condições iniciais modulam efeitos e consequências imprevisíveis a longo prazo. Em outras palavras, mesmo com todo esforço de planejamento e rotina, acordar em uma casa com crianças pequenas é experienciar o sentido exato da noção de surpresa. De toda forma, procuramos dar o mínimo de constância, mesmo sabendo da existência das muitas variáveis, perturbações e ruídos, que alteram completamente os resultados práticos em nossos dias.

Tenho evitado, a todo custo, escrever as expressões: “em tempos de pandemia” ou “no novo normal”, por vários motivos, dentre os quais elenco dois que dizem respeito ao cotidiano da maternagem: primeiro lugar, com pandemia ou sem pandemia, a vida com filhas/os é nunca saber com exatidão o estado presente das coisas. Em segundo lugar, não há nada de novo e muito menos de normal em estar em casa, confinada, sobrecarregada de tarefas laborais, domésticas e, em muitos casos, tendo que nos expormos na rua, mesmo amedrontadas com o cenário atual. Nós, mães, estamos no limite de nossas forças e trabalhando no modo confusas, tristes, raivosas e preocupadas “tudoaomesmotempoagora”, como diriam os Titãs.
É um ano cujos lamentos são aplacados por pequenas alegrias, cheio de abraços distantes e promessas de reencontros. É um ano de solidões nas telas e crianças andando pela casa, sozinhas ou com irmãs/os, reinventando o viver. Todo amanhecer agora me parece um desafio maior. Embora aqui sejamos bons em estabelecer pequenas rotinas no caos, cada dia marca um acúmulo de feridas que o distanciamento social tem causado em todas/os nós.

Em uma dessas manhãs indiscerníveis, tinha trabalhado quase a madrugada toda e, no alvorecer, fizemos “a troca de turno da guarda real” e eu pude descansar um pouco, o que na prática significa meia hora mais tarde que o habitual. As crianças estavam sentadas à mesa e a minha mais velha, para variar estava falando e, de repente, eu a ouço antes que ela me veja: “a mamãe luta pelo passado e pelo futuro. É isso que ela faz e é por isso que ela trabalha tanto.” Eu parei no ar, estática. Eu sou professora de História e as meninas, desde que nasceram, acompanham minhas conversas, aulas, orientações, palestras e também as constantes ausências “porque mamãe está no computador trabalhando”. Mesmo assim, eu sempre me surpreendo com a capacidade de Clara Rosa em expressar o que ela entende do “mundo dos adultos”. Quando eu apareci na sala, ela sorriu e perguntou se eu queria café, como se ela não tivesse acabado de dizer palavras tão potentes e fortes. Maternar e trabalhar envolve um equilíbrio tênue entre dois fazeres marcados pelo esforço, dedicação, entrega e amor. Eu sou mãe e professora na mesma intensidade. E poeta e escritora e dançarina. Viver é. E existir só funciona na plenitude ou algo em nós fica pela metade. Muitas vezes essa é sensação que eu tenho com tudo – que estou me desfazendo em pedaços desiguais e dispersos – tamanha é a lista de tarefas a cumprir.

Esse ano tem testado rotineiramente nossas noções de limites. Alguns dias já amanhecemos no final das nossas forças. E, felizmente, existem manhãs que são faróis: o corpo moído da tempestade da noite insone é acalentado por uma frase que sinaliza que o caminho vale a pena. Bebi o café, de uma garrafa térmica que convive com mamadeiras e brinquedos, e me recarreguei para mais um dia caótico e repleto de desafios. A luta é constante e viver requer coragem, afetos e sentidos e eu sei que não estou sozinha. Pelo passado e pelo futuro, milhares de mães convivem com esses mesmos dilemas nesse exato momento. Fica aqui o convite: vamos juntas?

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