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A jornalista Ana Claudia Paixão (@anaclaudia.paixao21) fala de filmes, séries e histórias de Hollywood
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Juliette Gréco, a musa de preto que encantou gerações

A cantora faleceu em Paris, aos 93 anos. Ela foi a inspiração para o movimento existencialista pós-guerra por seu estilo cool, despretensioso e imortal

Por Ana Claudia Paixão
24 set 2020, 18h30

A imagem de Juliette Gréco era quase sempre de um olhar sério, quase triste, de preto, sem grandes gestos ou arrebates de voz. Aliás, seu timbre, grave e rouco, não tinha alcance. Mas seu estilo ditou moda e a transformou em um ícone francês. Seu apelo era tão forte que o filme Educação, estrelado por Carey Mulligan, dedicou uma parte de sua trilha sonora e trama para mostrar a obsessão da personagem Jenny por ela. Para Jenny (Mulligan), Juliette era o símbolo pós-guerra de uma mulher moderna, misteriosa, independente. Porque essa era mesmo Juliette Gréco.

Quando surgiu, foi considerada moderna, seus gestos curtos eram um contraste se comparados à Edith Piaf, por exemplo. Para os filósofos e poetas, Juliette simbolizou a femme fatale moderna e escreviam canções especialmente para ela, que mesclava uma maneira de cantar, falando. Ao subir ao palco, ela simplesmente anunciava o nome do poeta e do autor da música antes de começar a cantar.

As músicas, geralmente melancólicas, ganhavam outro peso com sua interpretação. Ficou famosa a descrição de Jean-Paul Sartre, que dizia que ela tinha “um milhão de poemas em sua voz”. “É como uma luz quente que alimenta as chamas ardendo dentro de nós. Graças à ela, e para ela, eu escrevi canções. Em sua boca, minhas palavras viram pedras preciosas”, ele escreveu.

(REPORTERS ASSOCIES/Gamma-Rapho/Getty Images)

A lista de admiradores por Juliette Gréco era longa e diversa, desde o músico Miles Davis, com quem teve um romance, ao produtor Darryl F Zanuck, o fotógrafo Robert Doisneau e o diretor Jean Cocteau, para citar apenas alguns.

Ela nasceu no sul da França, mas ainda jovem se mudou com a família para Paris, onde vivia na Rivière Gauche, a área intelectual e estudantil da cidade. Durante a Segunda Guerra Mundial, seus pais lutaram pela resistência contra os nazistas. Juliette e sua irmãs foram presas pela Gestapo e interrogadas. A experiência traumática foi relatada em sua autobiografia, em 1982. Para a cantora, a partir daí, lutar contra a opressão, terrorismo e por liberdade passou a ser uma questão de sobrevivência e princípio. Quando foi libertada, meses depois de ser presa, demorou a reencontrar sua família, mas a mãe e a irmã sobreviveram.

Após a guerra, conheceu Sartre, Simone de Beauvoir e outros poetas, dos quais ficou amiga. A escritora Anne-Marie Cazalis que a encorajou a cantar, mas foi Sartre que deu o empurrão decisivo. Ele lhe escreveu uma canção, La Rue des Blancs-Manteaux e, por meio dessa performance, ela passou a ter o contato com músicos, levando-a a descobrir uma canção que virou um de seus hits mais famosos, Je suis comme je suis (Eu sou como eu sou). Juliette virou o símbolo do movimento existencialista em Saint-Germain, como o filme Educação ressaltou.

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(Frank Hoensch/Redferns/Getty Images)

Os romances de sua vida também ficaram famosos. Miles Davis não quis se casar com ela para poupá-la da pressão e racismo nos Estados Unidos. Ficaram amigos e ele a visitou pouco antes de morrer, em 1991. Por conta de sua relação com Zanuck, Juliette estreou em Hollywood em 1958 e fez alguns filmes nos Estados Unidos. O ator Philippe Lemaire é o pai de sua única filha, Laurence-Marie. Se casou depois com o ator Michel Piccoli e seu último marido, o músico Gérard Jouannest, a acompanhou até sua morte, em 2018.

Juliette escreveu uma segunda biografia, em 2012, quatro anos antes de sofrer um derrame, em 2016. Sua filha faleceu no ano seguinte e em seguida, seu marido. A última apresentação de Juliette Gréco foi em Paris, em 2017.

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Sua contribuição artística e política serão lembradas como sua voz marcante. Mais uma estrela que nos deixa em 2020. A tout à l’heure, Juliette.

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