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Sozinha no mundo

Após perder o marido, Maria conhece Gérson e consegue reerguer sua autoestima e retomar sua vida

Por Redação M de Mulher
Atualizado em 16 jan 2020, 16h53 - Publicado em 8 fev 2012, 21h00

Aquilo não poderia ter acontecido. “Mataram o José, mataram o José!”, berrava um menino, meu vizinho, que vinha correndo pelas vielas da favela onde morávamos em direção à minha porta. Meu corpo todo estremeceu ao ouvir os terríveis gritos. Era início de 2005. Os passos apressados do garoto se aproximavam do meu barraco. Eu apenas esperava o momento em que bateria em minha janela, sem conseguir largar meu bebê, Jesuíno, que acabara de completar 1 ano. “Mataram o José”, continuou gritando o menino, cada vez mais próximo de minha casa.

Ouvi o alvoroço começando do lado de fora. Muita gente falava. Reconheci a voz de minha comadre. Todos gritavam, choravam e clamavam por justiça. Palavras de vingança saíam da boca de todos que desejavam redenção. Sem reagir, continuei sentada na cadeira velha de fórmica que havia ganhado de minha patroa na época do meu casamento.

Jesuíno apenas me encarava. Havia acabado de dar a mamadeira para ele; meu pequeno estava com a barriga bem cheia. Suas bochechinhas salientes lembravam a de seu pai. Já os olhos mais amendoados tinham puxado à mulata aqui. Seu rosto se iluminava de candura naquele momento. “Mataram o José, gente…”, continuava a falar o moleque, muito conhecido na comunidade. Na cozinha, ainda tomada pela penumbra da madrugada, só a luz de meu filho iluminava minhas ideias. Aquela mesma energia me dizia: “Está tudo bem, Maria. Está tudo bem…”. Meus olhos, então, correram para o velho armário de aço. Notei, em uma das portas entreabertas, o saco de plástico de supermercado. Ele estava ali havia semanas sem que eu tivesse coragem de tocá-lo. Sabia o que tinha ali dentro, mas, na verdade, não queria acreditar.

Finalmente, bateram à minha porta. Coloquei Jesuíno no bercinho e fui abrir a porta como se não soubesse de nada que estava acontecendo lá fora. “Maria, José foi morto pelos policiais na entrada da comunidade. Disseram que ele voltava de um assalto”, contou-me, afobado, o garoto. Fiquei em silêncio. Em seguida, voltei a olhar para o armário onde meu marido costumava guardar uma arma. O saco estava vazio. O revólver tinha sido levado.

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