Paixão madura

No dia em que finalmente me separei de Paulo Roberto, há exatos 10 anos, prometi para mim mesma: homem, nunca mais. Lógico que falei aquilo motivada pela raiva de ter sido trocada por uma vizinha vagabunda, que, até então, eu acreditava ser uma de minhas melhores amigas.

Os anos foram passando e eu me dediquei à criação de Flávio, assumindo por completo o papel de mãe. O de mulher, sublimei. Sem namorados, vivia numa clausura não forçada. Simplesmente, não queria mais me envolver com homem algum para não correr o risco de enfrentar novas decepções mais à frente.

Apesar disso, mantive minha vaidade. Era como se, ao contrário de toda essa atitude solitária, estivesse sempre me preparando para encontrar um amante que me fizesse feliz para sempre. Aos 45 anos, gastava boa parte do meu salário de advogada com um monte de cosméticos. Sempre adorei perfumes, batons e essas coisas que guardamos na bolsa e nas gavetas de nossas cômodas.

Esse investimento dava retorno: recebia cantadas de todos os lados, dos colegas de trabalho ao moço da quitanda. Eu me fingia de morta, não queria dar liberdade a eles, mas, no fundo, o assédio diminuía um pouco a dor da minha solidão.

Flávio, meu filho, havia completado 20 anos naquele início de junho de 2004. Decidi que faríamos uma comemoração em nossa casa de praia. No começo, ele torceu o nariz: “Mãe, mas a senhora vai estar na festa com meus amigos da faculdade?”, resmungou. “Claro, por quê? Você me acha velha demais para estar no meio dos jovens?”, brinquei, apertando as bochechas rosadas do meu menino.

Ele chamou uns 20 amigos para passar aquele final de semana conosco na casa de Ubatuba. O lugar, aliás, era a única boa lembrança de meu marido, que foi obrigado a deixá-la para nós dois, após a separação. Encomendei carnes, bebidas e, lógico, um bolo enorme, que Flávio na certa iria odiar ao ver, de surpresa, na hora do Parabéns a Você.

Vânia, minha melhor amiga, havia se comprometido a ir comigo. Mas, na última hora, precisou acompanhar seu pai ao hospital e me deixou na mão. “Mãe, tem certeza de que a senhora quer mesmo ir?”, perguntou meu filho, quase implorando para que eu o deixasse em paz.

Eu acenei afirmativamente. “Sim, sou sua mãe e quero participar desse momento importante da sua vida”. Não estava indo apenas por isso. Queria ver gente nova, sentir o ar renovador da juventude. Estava num momento da vida em que precisava dessa reciclagem.

Chegamos mais cedo do que todos. Eu, Flávio e Maura, a namorada dele. Arrumamos as mesas, a churrasqueira e nos certificamos de que a piscina estava limpa. Da janela da cozinha, observei os dois se beijando e fazendo juras de amor. Aquilo me tocou. Quando adolescente fiz tantas juras e ouvi tantas outras. Que fase linda da minha vida… Ah, a inocência perdida!

No início da tarde, os amigos dele começaram a aparecer. Aos poucos, a casa de praia ficou lotada de gente animada, linda e jovem. Todos chegavam com mochilas nas costas e muita disposição para o final de semana.

Apenas um dos amigos veio sozinho. Leco era o apelido dele. Moço bonito, bronzeado e alto. Quando Flávio nos apresentou, tive a impressão de que aquele garoto de 20 anos me olhou de uma maneira diferente. Talvez, do mesmo jeito que eu havia olhado para ele assim que o vi.