Novo livro da psicanalista Jamieson Webster faz análise sobre o sexo
Em 18 ensaios, a autora reflete sobre a profundidade do ato sexual e analisa conceitos do comportamento humano

“Este livro é uma reflexão psicanalítica sobre o sexo, mas também uma reflexão sexual sobre a psicanálise.” A frase, que está na quarta capa de Sexo e Desorganização, resume o que a autora Jamieson Webster tenta (e consegue) fazer ao longo de 18 artigos. Trazendo à baila autores como Freud, Lacan e Adorno, a psicanalista torna conceitos mais acessíveis em meio a temas complexos. O livro foi publicado pela Ubu, R$ 69,90. Abaixo, confira a entrevista completa:
Como foi seu primeiro contato com a psicanálise? Como você vê o papel da palavra nessa abordagem?
Lembro-me de encontrar e comprar aos 14 anos uma cópia de Transtornos de Personalidade Graves, de Otto Kernberg, em uma livraria no sul de Miami. Parece quase incompreensível, conhecendo o livro agora, que eu pudesse ler ou entender qualquer coisa naquele livro… mas a compreensão é superestimada. Mais tarde, fui apresentada a Jacques Lacan e a importância da linguagem veio à tona. A ideia de que uma pessoa é como um texto que você pode ler com atenção, sucintamente, virar do avesso, ouvir o que ela diz — apesar de si mesma —, se atentar ao ritmo mais do que o conteúdo… tudo isso me parece ético, bonito.
No livro você fala sobre a possibilidade de abertura que a falha traz. Você pode dar mais detalhes?
Vivemos em um mundo que celebra e elogia o sucesso e humilha e descarta o que vê como fracasso, falha. Porém, a história da psicanálise é uma história de fracasso, impossibilidade, falta de comunicação, erro e impotência no cruzamento entre os mundos adulto e infantil. Ferenczi chamou isso de “A Confusão de Línguas”. Quando escutamos as pessoas, especialmente as criativas, observamos que a criatividade vem muito mais do fracasso do que da resiliência. A adaptação é sempre desadaptativa, aberrante, contingente.

Logo no início, ao falar sobre o tempo, você menciona a não linearidade do sexo. As culturas ancestrais africanas e indígenas falam em tempo espiralar e vivenciam o corpo e o sexo de maneiras diferentes, como a poligamia. Essa seria uma maneira positiva de desorganizar desejos?
SIM! Há muito conhecimento que foi perdido das culturas indígenas. Suas organizações variadas têm muito a nos ensinar. Infelizmente, com nossa cultura globalizada e impulsionada pela internet, acho que será muito difícil não cair em um mundo cada vez mais homogêneo. Sabemos disso quando viajamos. Às vezes parece que não fomos a lugar nenhum.
Entendemos que Freud foi um homem de seu tempo (como todas nós somos) e sua teoria é sempre atualizada. Se você pudesse escolher um conceito dele para (re)criar, qual seria?
Eu sou uma dessas Freudlósofa, caso ainda não tenha ficado óbvio até agora. Então, eu realmente não consigo escolher. Estou interessada em toda a sua obra, o jogo rigoroso de seu pensamento, onde começa, como começa e onde termina. Mas acho que para responder à sua pergunta, eu diria que é a terapia ou o trabalho da psicanálise com pacientes que eu destacaria. Fazemos algo muito único com os pacientes, que ainda se relaciona com o método de Freud, mas que adaptamos a um novo momento histórico. Gostaria que pudéssemos dizer mais sobre esses temas como analistas clínicos. Espero que com este livro eu tenha tentado um pouco.
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