Nós, os três
Casados há dois anos, Lauro e Joana vivem uma relação a três com Raul. Será que esse amor incomum tem futuro?

É possível manter uma relação a três?
Joana acha que sim!
Ilustração: Ana Bento
A paciência era das qualidades do Lauro que eu mais apreciava. Fazia com que ele compreendesse, por exemplo, minha mania de demorar hoooras nas compras no supermercado. “Esse você já levou e não gostou, amor”, advertia-me quando eu pegava algum produto a título de experimentar. Observador que só ele, também sabia de cor as coisas que eu gostava ou não. À medida em que avançávamos entre as gôndolas, conversávamos sobre uma série de assuntos triviais: o trabalho dele, o meu, as brigas constantes de nossos vizinhos… Fazíamos até piadinhas íntimas sobre nossa vida sexual. Nossa intimidade era ótima, nos permitia falar sobre todo e qualquer assunto.
Tinha algo nele que me excitava demais: suas sobrancelhas grossas. Herança de seus avós espanhóis, combinavam com seu corpo de pelos negros e macios. Eu também ainda estava com tudo em cima, pois me cuidava bastante. “Você gosta desta pizza congelada aqui?”, perguntei, apontando para uma geladeira repleta de redondas de todos os sabores possíveis e imagináveis. Ele fez muxoxo. “Eu até gosto, mas acho que o Raul não é lá muito fã…”, devolveu. Eu, a mulher mais distraída do mundo, também não tinha certeza. Por via de dúvidas, comprei.
“Precisamos trocar nossos travesseiros”, disse eu ao me aproximar de lindos exemplares recheados de penas de ganso. Apalpei um por um e escolhi seis deles. “Pronto, dois para cada um!”, disse, pondo as peças no carrinho. Lauro concordou com aquela piscadela gostosa que dava quando queria me impressionar – e, mesmo após dois anos de casamento, a danada ainda funcionava!
Quase uma hora depois, o carrinho estava bem cheio. E eu, satisfeita. A caixa nos lançou um olhar quase cúmplice. Ela havia percebido que éramos felizes e que até mesmo uma compra boba servia de inspiração para um momento de companheirismo.
Lauro pagou a conta e, gentilmente, pôs-se a embalar os produtos, enquanto eu atendia o celular. Era Raul. “Você já chegou ao estacionamento?”, perguntei. A voz do outro lado respondeu que sim e desligou.
Saímos em direção às inúmeras fileiras repletas de carros que compunham o estacionamento gigante. Procura daqui, olha dali, e finalmente nos deparamos com nosso carrinho prata. Ao volante, Raul nos acenou como se fosse a primeira vez que nos visse após uma longa viagem.
Ele abriu o porta-malas. “Oi, amor!” falou, antes de me dar um delicioso beijo na boca. Lauro sorriu e o cumprimentou. Pusemos as compras no carro. “Direto para casa?”, murmurou Lauro. Eu e Raul concordamos.Assim, encerrava-se mais um dia da minha vida ao lado dos homens com quem havia decidido me juntar há dois anos, numa relação de total harmonia interna, mas de muita polêmica para quem via de fora.