Betty Dodson, ícone da masturbação feminina, morre aos 91 anos
Betty Dodson dedicou décadas de trabalho em prol da liberação sexual feminina, disseminando técnicas de masturbação
O prazer feminino perdeu um dos seus ícones. A feminista sexóloga Betty Dodson morreu, aos 91 anos, no sábado, 31, em Nova York. Foram décadas dedicadas a ensinar mulheres a conhecerem seus corpos e se masturbarem.
Feminista, organizava oficinas de sexo voltadas ao autoprazer e a poderosas e libertadoras técnicas para atingir o clímax. Deu aulas, promoveu workshops e escreveu livros sobre o assunto. Em “Sex for One”, de 1987, definiu o sexo consistente como “um caso de amor consigo mesmo.” O gozo feminino era encarado como um ato libertador e positivo para toda a sociedade, uma ideia que, se hoje é mais aceita, anos atrás era vista como revolucionária. Ajudar as mulheres nessa jornada era para ela uma questão de justiça social.
Artista, também produziu quadros em que a vulva se fazia protagonista. Seu método, aliás, envolvia, antes da atenção ao clitóris, a descoberta do corpo feminino, a percepção das diferentes formas e cores que a vulva pode assumir.
A arte foi o seu primeiro chamado profissional. Nos anos 50, Betty se estabeleceu em Nova York para se formar desenhista. Testemunhou a segunda onda feminista quando tinha 35 anos e acabava de se separar. Já nos anos 60, foi bastante influenciada pelas ideias do livro The Mysticism of Feminism (1963), de Betty Friedan.
O seu caminho, no entanto, era mais voltado à luta pela liberação sexual das mulheres e, como artista, desenvolveu a primeira exposição de arte erótica feminina na Wickersham Gallery. Alguns anos depois, projetou slides de vulvas na NOW Sexuality Conference. Muitas de suas exposições causaram grande controvérsia na época e seu trabalho foi por vezes mal compreendido e acusado, até por feministas, de pornografia.
No fim dos anos 60, Betty foi a primeira mulher a explicar em público como usar um vibrador. “Os homens riam de mim e davam apelidos vulgares, até meus irmãos, mas nunca me senti intimidada com isso”, declarou ao El País, em 2018. Naquele ano, com 89 anos, ela ainda se dedicava a ensinar técnicas de masturbação e, mesmo após tantos anos de trabalho, continuava vendo a repressão sexual como uma realidade, consequência, sobretudo, da religião, em especial, a católica. Mas, no entanto, via na internet uma ferramenta importante de melhora para a condição feminina.
Aos 90 anos, Betty ainda seguia firme com suas oficinas de masturbação. Convidada de um dos episódios do Goop Lab, da Netflix, explicou seu método e causou sensação ao fazer Gwyneth Paltrow ficar vermelha diante das câmeras ao ouvir a resposta sobre o que acontecia em seus workshops. “Todo mundo goza”.
Fora mais de 50 anos de workshops do gênero. O chamado ao ensino da masturbação começou também na década de 1960, quando, embalada pelas ideias e clima feminista, começou a reunir mulheres no que chamou de “festas sexuais”. Ao perceber que, muitas, não tinham a menor ideia sobre prazer sexual feminino, começou o seu trabalho pela autonomia sexual das mulheres. Suas experiências sexuais intensas e prazerosas, algo raro na época, davam as credenciais para a missão de compartilhar esse conhecimento que a tornou um dos maiores expoentes do ensino de técnicas para o prazer feminino.
Perdemos Betty para a cirrose hepática, segundo afirmou ao The New York Times, sua sócia Carlin Ross. Mas seu mantra “orgasmos melhores, mundo melhor” ecoou por gerações e vai continuar a ser propagado pelas próximas.