Relâmpago: Revista em casa a partir de 10,99

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Conheça oito diferentes histórias de amor e descubra se você já passou por alguma experiência semelhante.

Por Redação M de Mulher
Atualizado em 21 jan 2020, 04h26 - Publicado em 12 jan 2010, 21h00
Carminha Nunes (/)
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Todo mundo tem uma história de amor pra contar.
Ilustração: Getty Images

Justino era um homem bom. Sempre guarnecia a casa com o dinheiro integral de seu salário — ao contrário dos amigos de trabalho, que gastavam boa parte dos ganhos com mulher e bebida.

Convenceu-me a casar com ele por causa de uma frase romântica: “Gabriela, quero ter dois filhos, e só você pode fazê-los com olhos verdes iguaizinhos aos seus”, falou, enquanto nos beijávamos no parque de diversões de nossa cidade, no interior de Aracaju.

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Passaram-se quatro anos e vieram os dois meninos. De olhos bem castanhos, como os do pai. “Ah, não tem problema… São lindos que nem a mãe!”, repetia, disfarçando seu desapontamento pela minha genética fraca.

Apesar de tanto carinho, tínhamos um problema: Justino esquentava a cabeça por qualquer bobagem. Queimadas pelo sol da lavoura, suas costas também traziam marcas de facadas. Brigas por causa de jogo de futebol, de piada mal-interpretada ou de qualquer outro desaforinho que meu homem não levava para casa.

Comigo, porém, nunca erguia a voz — imagine as mãos! Tratava-me com dignidade de um plebeu dedicado à sua rainha.

Após a longa estiagem daquele verão quase sem fim, vi nuvens negras no chão. Justino sorriu. “Neste final de semana chove, mulher. No sábado, vou plantar!”, falou, referindo-se ao seu único dia de folga na loja de ferramentas.

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A chuva mesmo não veio; foi só ameaça. O pouco de feijão e milho que tínhamos estava seco. O poço, por um triz. Vez ou outra, a prefeitura mandava um carro-pipa abastecer a comunidade. Mas há tempos ele não vinha.

Justino começou a ficar aperreado. Ver nossos filhos com sede o matava aos poucos — e a mim mesma. “Vou amanhã à cidade exigir esse caminhão de água, mulher!”, falou, com o semblante sério como eu jamais havia visto.

E lá foi ele. Mal saiu da loja de ferramentas, já tomou o rumo da prefeitura. Pediu à secretária que o deixasse falar com o prefeito. Ao ouvir uma recusa grosseira, ficou bravo. “Criatura, tenho filhos e esposa com a boca seca, e esse caminhão-pipa não chega”, reclamou, erguendo o tom de voz.

Diante daquele homem simplório e honesto, mas de vocabulário limitado, a secretária não pensou duas vezes: pediu “ajuda” aos guardinhas da casa.

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Dois deles, muito mais parrudos do que meu homem, o ergueram pelos braços e o atiraram na rua. Assim mesmo, sem razão nenhuma. Pronto! Foi o bastante para que ele se transformasse na reencarnação do próprio Lampião.

“Minha família tem sede. Quero água para eles!”, gritou, tentando entrar de novo na prefeitura. Ao notar um riso de desdém da tal secretária, enlouqueceu.

“A senhora está rindo de quê?”, gritou, para espanto da mulher. Sem pensar, Justino levou a mão para trás, a fim de pegar algo em seu bolso traseiro. O movimento assustou os guardas. Um sacou uma arma e atirou no meu homem.

Bastou um balanço para o corpo tombar ao chão. “Ligeiro, tomem o revólver desse cabra!”, esbravejou a mulher assustada. Ao virar o corpo, os policiais arregalaram os olhos e talvez tenham sentido o sangue parar nas veias.

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Não havia arma alguma nas mãos de Justino. Entre seus dedos, pendia, apenas, uma gasta foto dos nossos filhos. “Eu só queria mostrar os olhinhos castanhos deles para tocar o coração de vocês”, balbuciou, antes de dar seu derradeiro suspiro neste mundo.

A tragédia chegou aos meus ouvidos duas horas depois. Ao receber a notícia, senti o chão do alpendre sumir. Só poderia velar meu homem no dia seguinte. Esperei a noite cair, pus os meninos na rede e chorei baixo para não acordá-los. Naquela noite, choveu como há anos não chovia…

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