Os passageiros entram no carro e já vão contando tudo!
Foto: arquivo pessoal
Quem acha que taxista ouve as histórias dos passageiros e não se mete na vida deles está enganado! De tanto ouvir conversas no meu táxi, há sete anos criei um blog para contá-las. Um jornalista que era meu cliente, o Cyro, me incentivou a ir além.
Depois de mostrar alguns textos para ele, ganhei uma coluna no Diário Gaúcho – na época, ele era editor-chefe desse jornal de Porto Alegre. Três anos depois, lancei o livro Taxitramas, Diário de um Taxista.
Os passageiros já vão contando tudo
Já faz sete anos que escrevo. Tenho mais de 350 histórias arquivadas. E o curioso é que nunca perguntei nada para os passageiros. Eles entram no carro e já vão contando tudo! Aí, eu guardo na memória. Muitas vezes, o que escrevo no blog aconteceu há tempos. Em outras ocasiões, são relatos da semana.
Uma vez, fui contratado para levar uma adolescente duas vezes por semana nas consultas com o psicólogo. Foi o próprio pai dela quem me confiou essa missão. Como as viagens eram longas, a garota se abria comigo: falava sobre os problemas com namorados, os estudos… O pai a cobrava muito, queria que ela fizesse uma boa faculdade. Mas a garota não gostava de estudar, só queria se divertir. E o pai não a deixava nem usar batom! Acabamos ficando amigos e dividi com ela alguns medos que tive na minha adolescência.
Tinha um cão que não gostava de rádio
Essa é apenas uma das histórias que aconteceram no meu táxi. Uma vez, um cliente foi pegar o cachorro no veterinário e, assim que entrou, pediu para eu desligar o rádio – o cão não gostava de futebol.
Achei esquisito, mas fiz o que o cliente pediu. Ele me contou que morava perto de um estádio, e o animal morria de medo dos fogos de artifício que a torcida soltava. E, segundo o passageiro, o cachorro associava a narração dos jogos com o foguetório, ficava nervoso e se escondia embaixo da cama.
Assim como os passageiros, meus amigos taxistas também têm cada história! O problema é que 95% delas envolvem sexo. Por isso, sempre faço uma triagem antes de pôr no blog.
Uma vez, um taxista desconhecido me abordou para contar a história dele. Há muito tempo, ele tinha feito uma corrida para uma mulher. Terminaram em um motel, com a condição de que ela jamais revelaria seu próprio nome.
Sem saber, o taxista engravidou a cliente
Depois da transa, o taxista quis saber o motivo do segredo. A mulher contou que queria engravidar, que as irmãs já tinham filhos, mas ela não conseguia. No médico, descobriu que o marido era infértil, só que o cara era durão e ela não tinha coragem de contar a ele.
Sabendo que estava ovulando naquele dia, ela procurou um homem com as características do marido para engravidar. A pedido do taxista, publiquei a história com o nome verdadeiro dele e dei seus contatos. Ele queria achar a mulher, mas não sei se a encontrou.
Às vezes, empresto meu ouvido amigo
Muitas vezes, os passageiros pagam a corrida só para desabafar. Talvez eles se sintam à vontade para falar dos seus problemas sabendo que nunca mais vão ver aquele taxista. Os idosos são os que mais usam o táxi para isso. São pessoas que, muitas vezes, não têm com quem conversar. Um deles eu acompanhei por muito tempo. Era apaixonado pela mulher, que morreu bem velhinha.
Ajudei o idoso até seus últimos dias
A cada duas semanas, eu dirigia para ele até o cemitério. Eu o deixava lá e ia buscá-lo. Mas, com o tempo, ele não conseguia mais achar o túmulo da falecida. Eu o ajudava a encontrá-lo e também a colocar as flores. Um dia, ele morreu. Fui ao enterro e, simbolicamente, o levei ao caixão da mulher pela última vez.
Já deu pra perceber o quanto adoro essas histórias, né? Isso é uma tradição de família, que aprendi ainda pequeno. Nas festas em casa, a gente se reunia em torno de um tio que adorava contar um causo. De tanto prestar atenção nele, acabei seguindo pelo mesmo caminho. Nesta página tem algumas das melhores histórias do meu blog: www.taxitramas.blogspot.com.