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#Bringbackourgirls: O que o rapto das meninas na Nigéria tem a ver com você?

Afinal, o que está acontecendo na Nigéria e o que esse debate tem a ver com o Brasil? Entenda o caso e a visão que, em alguns lugares, ainda se tem do corpo e dos direitos das mulheres.

Por Yasmin Abdalla (colaboradora)
Atualizado em 28 out 2016, 06h00 - Publicado em 16 out 2014, 22h00
Uma escola de meninas: esse foi o alvo escolhido pelo grupo extremista islâmico Boko Haram no vilarejo de Chibok, no norte da Nigéria, dia 14 de abril. Vestidos como militares, os terroristas acordaram mais de 200 estudantes entre 15 e 18 anos e desapareceram com elas.

Quem são os sequestradores?

Fundado em 2002, o grupo Boko Haram carrega no nome o significado de suas crenças, “Educação do ocidente é um pecado”, e vêem nesse estilo de vida uma ameaça a ordem que acreditam ser natural. Ou seja, meninas e escolas não combinam e eles, homens, são os responsáveis por decidir a punição de quem desrespeitar isso.

Que mensagem eles quiseram passar?

Para Nadine Gasman, representante da ONU Mulheres no Brasil, entidade das Nações Unidas que defende a igualdade de gênero, a ação do Boko Haram é uma clara demonstração de poder. “Eles quiseram mostrar ao mundo que podem (e vão) tomar a vida de um grupo de meninas, se isso for necessário para manter a tradição e a ordem em que acreditam. Para eles, os homens são os donos do corpo e do destino das mulheres.” Nos vídeos, eles ameaçam estuprar e vender como escravas as adolescentes sequestradas e exigem que outras meninas que estudam deixem as escolas e se casem.

Como está o caso, quatro semanas depois do sequestro?

Não se sabe o número exato de adolescentes que estão em poder do Boko Haram, mas 223 meninas continuam desaparecidas. Ativistas nigerianos acreditam que algumas já foram mortas ou vendidas como escravas, como anunciou o grupo em um vídeo (em que algumas delas aparecem vestidas dos pés à cabeça com véus). Nesta última semana, os extremistas lançaram outro vídeo exigindo a libertação de membros do grupo que estão presos em troca das meninas.

O que isso tem a ver comigo?

Para Nadine, este é um tema que extrapola as fronteiras da Nigéria e esbarra na percepção que diferentes sociedades têm do sexo feminino. É uma violência que mostra a fragilidade dos direitos das mulheres.

“Para a sociedade atual, em especial, para países que vivem em situação de conflito, os corpos das mulheres fazem parte das estratégias de guerra. Raptar e violentar se tornam ações de poder. E por que isso acontece? Porque mulheres e meninas ainda são vistas como posse das comunidades e dos homens, como se estivessem lá para serem tomadas, vendidas ou intercambiadas”, diz.

Por que a educação feminina é ofensiva para esses grupos?

Essa visão de poder que os homens têm sobre as mulheres reflete no acesso à educação delas, principalmente nos países em situação de conflito. Por representar certa emancipação da mulher, a escola passa a ser um ambiente condenado por extremistas e, por consequência, um lugar perigoso a quem os desafia.

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“A UNESCO tem visto um crescimento nos ataques às escolas e estudantes em países em situação de conflito, em especial contra as meninas. O caso da paquistanesa Malala (Yousafzai, estudante paquistanesa que levou um tiro por defender seu direito de estudar) foi importante para entender a violência extrema que é utilizada para manter as mulheres longe da educação”, afirma Nadine.

No Brasil, também temos esse problema?

A situação é otimista por aqui. Há mais mulheres do que homens estudando. Um dado importante é que, em 2011, as mulheres eram as que mais ingressavam (56%) e as que mais concluíam (61%) o ensino superior. Isso não é algo que você encontra em todos os lugares.

No entanto, Nadine defende que ainda há ações a serem tomadas para aumentar as condições de acesso à educação das mulheres brasileiras. “Entre jovens de 20 a 29 anos que não trabalham nem estudam, cerca de 70% são mulheres; a maioria mães que tiveram que abandonar os estudos. É por isso que os direitos reprodutivos da mulher e o acesso a creche, por exemplo, estão diretamente ligados ao direito que as mulheres têm de estudar”, diz.

Qual a utilidade das fotos publicadas com a hashtag #bringbackourgirls?

O tema gerou comoção internacional, com artistas e personalidades mundiais manifestando apoio à familia e às meninas. A cantora Madonna, a primeira dama norte-americana Michelle Obama e a ativista paquistanesa Malala Yousafzai foram algumas das que postaram nas redes sociais fotos com a hashtag #bringbackourgirls – criada como forma de pressão para que se encontre as meninas.

“É essencial para essas meninas, suas famílias e até para a humanidade que o mundo não se esqueça delas. É preciso deixar claro para o governo da Nigéria que é responsabilidade dele trazer essas meninas de volta, e assim mostrar para grupos terroristas que eles são a minoria e que a humanidade não compactua com suas ações”, afirma Nadine.

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Como posso apoiar a causa?

Primeiro, não deixe a hashtag morrer e compartilhe-a para que mais gente conheça a história dessas meninas. Você também pode assinar uma petição, criada pela plataforma online Change, para cobrar organizações internacionais a pressionarem o governo nigeriano. Assine aqui.

Novidade: Elas podem voltar?

Dia 17 de outubro, seis meses após o incidente, o governo e o Exército nigerianos anunciaram um possível acordo com o grupo terrorista Boko Haram, que resultaria na libertação das mais de 200 estudantes sequestradas. Duas reuniões entre o primeiro-secretário da presidência da Nigéria, Hassan Tukur, e os extremistas aconteceram no Chade (país vizinho à Nigéria), sob a mediação do presidente do país, Idriss Deby.

Os representantes do governo afirmaram que o Boko Haram deu garantias de que as meninas estavam vivas e passavam bem. Em troca do cessar-fogo e  das estudantes sequestradas, os extremistas  teriam pedido a libertação de prisionerios ligados ao grupo.

Muitos nigerianos duvidam da eficácia do acordo, já que tentativas anteriores de conversa com o grupo não deram certo. O interesse político do atual presidente nigeriano também gera desconfiança; Goodluck Jonathan colocou as questões de segurança no centro de seu palanque eleitoral à reeleição.

*Matéria atualizada em 17/10/2014 para incluir o acordo para resgate das meninas nigerianas
 

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