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Ataques a Joanna Maranhão: o Brasil mostra a sua cara. E ela é bem feia

A nadadora bateu pesado contra os agressores que querem vê-la morta, afogada e estuprada mais uma vez

Por Patrícia Zaidan Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 22 out 2016, 14h50 - Publicado em 12 ago 2016, 17h13

Eu amo o meu país. Mas ele tem uma persona rancorosa escondida atrás de uma faceta odienta e bem dissimulada. Felizmente, está se tornando pública. Caiu o mito de que somos uma nação generosa; a pátria amada e gentil que “mantinha” relação cordial com as minorias, os pretos, os pobres, os gays, as mulheres. Não, não somos nada cordiais. Desce a máscara e quem tira é gente de petulância, como Joanna Maranhão, a nadadora que saiu da piscina de cabeça erguida ao ser eliminada da Olimpíada 2016. Mulher que não apanha calada, entrou ao meio-dia desta sexta (12/8) na Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática, no Rio, para fazer uma denúncia. Encontrou na delegada Daniela Terra uma policial que não enrola: já identificou alguns agressores da atleta e declarou que eles podem ser enquadrados em crime de injúria, difamação e ameaça. Brasileiros maus, torpes e covardes atacaram a atleta nas redes sociais. “Desejar que minha mãe morra, que eu me afogue, que seja estuprada. Dizer que a história da minha infância seja algo que eu inventei para estar na mídia já ultrapassa (o limite)”, afirmou ela. 
O que está na gênese da agressão? Mais do que comportamento de torcedor apaixonado e em profunda decepção com a atleta que perde em nosso nome, reina a fúria. Se fosse apenas paixão pelo uniforme verde-amarelo, os rancorosos teriam mandado a seleção do Felipão se enforcar na trave do gol depois do 7×1 da Alemanha, na Copa do Mundo de 2014. Ninguém revolveu o passado de David Luiz, Fred, Julio Cesar, Maicon, Hulk e cia. para achincalhar a vida pessoal deles. A revanche sobre Joanna se deu porque ela denuncia. Faz escolhas políticas. Opina. Quer um país melhor para todos os brasileiros. E – simples assim – porque Joanna é MULHER. 

Uma lei se chama Joanna
Em 2008, a nadadora revelou que, aos 9 anos, havia sido abusada sexualmente por seu treinador e que isso acontece na vida de muitos atletas pequenos e outros meninos e meninas. Sensibilizou o país. Em 2012, entrou em vigor uma lei que estende o prazo de prescrição do crime de estupro de crianças. Antes, o horror prescrevia sem punição, porque uma criança não denuncia. Quando ela ficava adulta, tinha clareza e podia fazer a acusação, havia passado o prazo de processar o estuprador. A lei ganhou o nome da nadadora.

Política
Várias vezes atingiram Joanna por ela se manifestar contra o conservadorismo do Congresso Nacional, a redução da maioridade penal e políticos como Eduardo Cunha e Jair Bolsonaro. Sobre o ouro da judoca Rafaela Silva, ela lembrou: “Quem nos ataca não sabe o sufoco que passa o atleta brasileiro. A Rafaela Silva, há quatro anos, não tinha nada, mas com a ajuda dos programas do governo conseguiu essa medalha”.
 
Ser mulher
Quando um homem erra, tem baixo desempenho ou desagrada à torcida em campo, no tatame e no palanque, ele recebe vaias, sim. Em geral, fica nisso. O episódio que envolve mulher tem proporções ampliadas e danosas. Não é só a sua performance pública o alvo, mas a sua moral, a sua alma. O presidente interino Michel ouviu o coro: “Fora Temer” na abertura da Olimpíada no Maracanã. Na abertura da Copa do Mundo, no Itaquerão, em São Paulo, ouviu-se: “Ei, Dilma, vai tomar no C.”. E mais as palavrinhas vaca, puta, sapata.
É preciso fibra para estar exposta ao sol e às trovoadas. Joanna Maranhão tem as costas largas de três maneiras. Suas braçadas n’água a fizeram forte, com troncos expandidos, saudáveis, que ficam lindos e sexy quando estão à mostra. No dito popular, ela tem costas largas por ter poder (que ela própria construiu). Num outro sentido, a expressão significa acostumar-se a carregar muitas coisas pesadas e a suportar a dor. 

Ela pula com os dois pés no peito
Eliminada da fase classificatória dos 200 metros borboleta dos Jogos Olímpicos, Joanna Maranhão mostrou as costas e puxou a máscara. Afirmou que o Brasil é, sim, preconceituoso, machista, racista, homofóbico e xenófobo. E também alérgico a nordestinos – ela, entre eles.

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DESTACO, abaixo, a Joanna que emergiu das águas ainda mais brasileira nesta Olimpíada: 

Petulante
“Eu falo sobre coisas que a maioria dos atletas não fala, eu aguento porrada, mas tudo tem limite. Quando tem desrespeito por eu ser mulher ou ser do Nordeste, aí eu vou tomar as medidas jurídicas”

Defensora das mulheres
“Eu sempre me posiciono politicamente… Não quero que a Taís Araújo seja chamada de macaca, que a Rafaela Silva seja chamada de decepção, amarelona”

Provocativa no Facebook
“A todos os perfis verdadeiros que vieram até aqui denegrir, ofender e xingar: muito obrigada! Fiquei em silêncio permitindo que vocês se sentissem à vontade enquanto o advogado coletava nome, dados e CPF de cada um. A partir da próxima semana estaremos entrando com ação na Justiça, com todas as provas (inclusive cobertura da imprensa), trata-se de uma causa ganha e com esse dinheiro estaremos potencializando as ações da ONG Infância Livre. Sendo assim: muito obrigada! O ódio de vocês será revertido para uma boa causa; combate à pedofilia.” 

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