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Ana Claudia Paixão

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A jornalista Ana Claudia Paixão (@anaclaudia.paixao21) fala de filmes, séries e histórias de Hollywood

Quem foi Clara Bow, a inspiração para o filme ‘Babylon’

Interpretada por Margot Robbie (com chances de Oscar), a lendária atriz já foi retratada em outros filmes também

Por Ana Claudia Paixão
2 dez 2022, 08h16
história do batom vermelho - Clara Bow
A atriz Clara Bow foi responsável por popularizar o uso do batom vermelho na década de 1920.  (John Kobal Foundation/Getty Images)
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Compartilho com o diretor Damien Chazelle a fissura pelos anos dourados de Hollywood, que cobrem as décadas de 1920 a 1940. Afinal, foi o tempo no qual as estrelas viviam em seus palácios em Sunset Boulevard, e, fora das telas, se permitiam excessos sem limites. O diretor de La La Land assina o já polêmico Babylon, que chegará em breve nos cinemas brasileiros. Nele traz personagens inspirados em algumas das lendas do cinema. Por exemplo, Brad Pitt é um ator como foi o astro John Gilbert e Margot Robbie rouba a cena como Nellie LaRoy, uma aspirante a atriz que mergulha de cabeça nas drogas e festas da capital do cinema. Um papel que críticos já apostam em certeza no Oscar de 2023.

Nellie é abertamente inspirada em uma das maiores lendas de todos os tempos de Hollywood, Clara Bow, uma das estrelas da era do cinema mudo que ajudou a popularizar a imagem da melindrosa. A história de Clara é tão incrível rendeu vários livros e personagens (Betty Boop é uma cópia de seu look) e a mais famosa alusão antes de Babylon, embora injusta, foi a personagem Lina Lamont, de Cantando na Chuva, também “inspirada” na atriz. Foi ela, aliás, uma das primeiras a popularizarem o batom vermelho.

Só que tudo em Clara parece despertar controvérsia, a começar sobre sua idade: na sua lápide diz ter nascido em 1906, mas há quem aposte 1904 e os especialistas alegam que foi 1905. Filha de emigrantes pobres, ela nasceu e cresceu em Nova York e teve uma infância dura, constantemente mudando de endereço. Tinha uma relação complicada com sua mãe, diagnosticada como psicótica depois de uma queda. Clara sempre disse que teve que ser mais mãe para ela do que filha. Pior, os embates eram tão violentos entre elas que houve até ameaça de morte com facas, com Clara escapando por pouco. Em seguida, sua mãe foi internada em um sanatório.

Fica pior. Logo depois disso tudo, alguns biógrafos acusam o pai de Clara de a ter violentado. Ela tinha apenas 16 anos. Sua mãe morreu logo depois e a jovem ficou ainda mais isolada. Não é surpresa que ela tenha se projetado nos filmes que começavam a fazer sucesso e passado a sonhar com o cinema. Seu visual – meio masculinizado para época – não fazia dela uma candidata ideal para estrela, mas participou de um concurso de talentos em uma revista, conseguindo se destacar. Era o atalho que precisava para ir para a Califórnia.

margot robbie em babylon
Margot Robbie em ‘Babylon’. Personagem foi inspirada em Clara Bow. (Babylon/Reprodução)
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Depois de fazer alguns filmes em Nova York, foi descoberta e levada para Hollywood, onde ascendeu e virou uma das atrizes favoritas do público, liderando as bilheterias e sendo adorada por renomados diretores. Gostava de brincar com sua imagem, flertando com androginia e, porque estrelou um filme chamado “It”, em 1927, com a trama inspirada em Cinderella, passou a ser conhecida como a “it girl”, um termo usado no cinema até hoje para classificar atrizes carismáticas e em demanda.

Com a chegada do cinema falado, Clara Bow foi uma das raras estrelas a fazer a transição sem abalar seu estrelato, mas ela também se ressentiu com “a perda de liberdade” que a fala trazia para sua Arte. Seu sotaque do Brooklyn não a atrapalhou com o público, mas é até hoje ressaltado todas vezes em que se referem à sua carreira (como em Cantando na Chuva). No entanto, eram os bastidores que encurtariam sua trajetória.

Seu estilo de vida boêmio era ainda mais comentado do que outras estrelas contemporâneas. As pressões da fama, escândalos públicos e excesso de trabalho afetaram a frágil saúde emocional da atriz, que teve um colapso, aos 25 anos, sendo internada em um sanatório. Quando foi liberada, trocou Hollywood por um rancho em Nevada, e se casou com Rex Bell. Recuperada, voltou a trabalhar como atriz, mas reconhecendo sua fama de “party girl” e admitindo que poderia ser mal interpretada. Sua análise é que por ser autêntica, pagava um preço mais caro do que os colegas.

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A atriz teve dois filhos com Rex Bell (mais tarde eleito vice-governador de Nevada) e se aposentou de vez em 1933. Ela e o marido abriram The ‘It’ Cafe, no Hollywood Plaza Hotel, mas o empreendimento durou poucos anos. Sua última apresentação pública foi em um programa de rádio, em 1947. Talvez pela herança genética, não se sabe, mas Clara Bow eventualmente começou a apresentar sintomas de doença psiquiátrica, passando a lidar com depressão, isolamento e até tentativa de suicídio. Foi internada para ser tratada de insônia crônica e dores abdominais, com tratamento de choque e testes psicológicos. Foi diagnosticada com esquizofrenia, mas biógrafos defendem que nunca teve alucinações auditivas ou visuais. A atriz rejeitou o diagnóstico e, quando deixou o hospital, não voltou para sua família, se isolando até sua morte, aos 60 anos, em 1965, por uma parada cardíaca.

Com 46 filmes mudos e 11 falados, foi a vida pessoal de Clara que ficou lendária. Sua intensidade e prazer com festas, drogas e bebidas sintetizavam a alegria e permissividade da era do jazz. Sua figura passou a ser o símbolo desse período de “loucura”. Inteligente, ela sabia o que o público identificava nela. Infelizmente, nem com Babylon sua memória é tratada com o respeito e distanciamento necessário. Será que um dia teremos uma versão cuidadosa sobre sua vida? Ela merece.

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