Casa em cubos com estética de galeria de arte
Cubos se sobrepõem com leveza, criando uma perfeita geometria nesta casa desenhada por Alessandro Sartore com uma estética inspirada em galerias de arte.
Ela não queria morar em uma casa bucólica, com telhadinhos e varandas, mas ele sonhava com um jardim e grandes horizontes emoldurados na janela. Ela privilegiava estilo; ele, conforto. Entre tantas divergências, em um ponto o casal concordava: estava mais do que na hora de encontrar um espaço sob medida para a família. “Queríamos um endereço definitivo. Mas, até chegarmos a um consenso, foram muitas discussões! Uma conciliação complicada, já que, além de nós dois, consideramos as opiniões dos filhos de casamentos anteriores”, lembra a artista plástica Roberta Cani, a “ela” do casal. Quando visitaram este imóvel no alto de uma ladeira de paralelepípedos no bairro do Jardim Botânico, sentiram que ali poderia estar o início de uma história bacana. “O problema é que a casa era cheia de compartimentos e escura. Tinha potencial, uma vista linda, mas o conteúdo era sem graça”, lembra a moradora. Foi então que entrou em cena o arquiteto Alessandro Sartore, amigo e colega de Roberta na escola de artes visuais.
Alessandro Sartore chegou de fininho, se entusiasmou com o lugar, e não se conteve: propôs uma reforma radical. “Algo bem próximo de colocar tudo abaixo, só aproveitando a estrutura”, diz Sartore. “Foi uma megaempreitada, redesenhamos cada ambiente. Mas o resultado ficou como imaginávamos. Uma casa moderna, integrada. Sem deixar de ser simples e acolhedora”, conta ela. Paredes brancas sem interferência de marcenaria fixa são a essência do projeto, já que a ideia era expor ali a coleção de arte contemporânea do casal. Dentro desse contexto, Alessandro privilegiou poucos materiais, como o vidro, o cimento e a madeira, nada que rivalizasse com a paisagem, que emoldura o Cristo Redentor de um lado e a lagoa Rodrigo de Freitas do outro. “Com essa vista impressionante, busquei uma arquitetura limpa, com pequenos terraços na fachada, criando um volume interessante”, revela. Dividida em quatro andares para melhor aproveitamento do terreno em declive, a casa tem, no último piso, um ambiente privativo do casal, com direito a escritório e sala de TV. O ateliê de Roberta fica logo abaixo, junto das confortáveis suítes dos filhos. “Tudo é bem espaçoso e banhado de luz”, aponta Sartore. Cozinha e sala se integram em um amplo e convidativo ambiente. “Não pretendo acumular móveis e objetos, e sim valorizar as obras de arte. Para isso, cultuar o vazio é fundamental”, explica Roberta, que salpicou alguns de seus trabalhos, de traço abstrato, em pontos estratégicos. “Estamos sempre repensando o lugar das telas, nada é fixo. Como o Alessandro também é consultor de arte, ele nos aponta novos talentos o tempo todo e ajuda nessa arrumação, que não tem fim. Esse movimento torna a casa viva e dinâmica”, arremata ela.
Por causa da formação artística na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro, os projetos assinados pelo carioca Alessandro Sartore são como galerias de arte: uma arquitetura limpa, onde as obras se destacam. Em 2007, ele começou a expor em galerias e instituições e logo foi representado pela Galeria Anna Maria Niemeyer. Na arquitetura, suas criações vão desde casas e apartamentos até as comerciais, como os projetos das lojas Arquivo Contemporâneo, que vende uma linha de móveis que Alessandro desenhou para a Brumol. As mostras também fazem parte do repertório deste profissional, que recebeu em 2011 um prêmio pelo ambiente mais criativo da Casa Cor Rio de Janeiro, cujo teto era suspenso por um guindaste.