Um inocente devolveu a visão à minha filha
Agradeço a Deus pela bondade dos pais do João Roberto que foram capazes de um gesto tão bonito
No hospital, fizeram dois tipos de tratamento com antibióticos. No início, ela não conseguia nem abrir o olho, tadinha. Quando o inchaço diminuiu, a enfermeira conseguiu abrir o olho da Lariza, bem devagar. Quando finalmente abriu, vimos que a íris estava esbranquiçada. Depois de 23 dias no hospital ela recebeu alta. E o medo de a bactéria ir pro outro olho? Minha mulher não dormia, passava a madrugada secando o olhinho dela. Tivemos muita ajuda dos meus colegas motoboys e da família. Como foi difícil o dia em que descobri que ela já estava cega! Não foi o médico que falou, eu é que percebi. Um dia vi que ela torcia a cabeça de lado para assistir TV. Eu a chamei pra perto de mim e, quando ela estava distraída, fui aproximando o meu dedo da pálpebra esquerda. Quem enxerga tem o instinto de tirar a cabeça. Ela não se moveu. Quando eu toquei o olho, ela resmungou: “Cuidado, papai, meu dodói”.
Eu percebi que a minha filha estava cega
“Você está mentindo pro papai? Se mentir, não vai para o Colégio Militar. Você já não está indo à aula, não anda mais de bicicleta. Você tem de falar a verdade para eu ajudar você a ficar boa”. Aí ela confessou: não estava enxergando mais com o olho esquerdo, mas tinha medo de operar. Ela disse que não queria que cortassem o olhinho dela. Expliquei que ela dormiria e acordaria boa.
A última ultrassonografia revelou que a córnea estava perfurada pela bactéria. A gente já esperava o momento em que os médicos diriam que ela perderia o olho completamente. Até que recebemos o telefonema que nos devolveu a alegria.