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Os desafios que transexuais enfrentam no mercado de trabalho

Elas venceram os preconceitos e estão fazendo a diferença na sociedade. Conheça o relato de mulheres e homens que foram à luta por seu lugar ao sol

Por Silvio Carvalho
Atualizado em 21 jan 2020, 20h02 - Publicado em 5 ago 2015, 15h43

Quando você pensa em travesti e transexual, qual a primeira palavra que vem à mente? Caso tenha pensando em prostituição, saiba que você tocou num dos pontos mais delicados e tristes da realidade da grande maioria. De acordo com a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), cerca de 90% da população transexual está se prostituindo, neste momento, no Brasil. Agora, indo mais além, e sem julgamentos, você já parou para se perguntar quantas pessoas você conhece que são transexuais e travestis e fazem parte do mercado de trabalho? Para propor uma discussão sobre o assunto, o MdeMulher conversou com transexuais que venceram barreiras e quebraram preconceitos. 

Renata Peron

Renata Peron teve uma infância difícil. Aos 7 anos perdeu a mãe e foi morar com a avó em Juazeiro, no Ceará, com quem viveu até os 11. Ainda criança, foi morar com três senhoras na Paraíba e cuidava da casa em troca de moradia. Aos 27, veio para São Paulo onde iniciou o processo de adequação de gênero, que foi interrompido após ter sido agredida por skinheads. A violência foi tão grave que Renata perdeu um rim e não pode mais tomar hormônios.

Reprodução/Facebook
Reprodução/Facebook ()

Após o atentado sofrido, Renata decidiu lutar pelas transexuais e travestis. Fundou uma ONG chamada CAIS (Centro de Apoio e Inclusão Social para Travesti e Transexual). “Percebi que falta política pública que nos apoie. Tem que ter alguém que lute!”.  Ela está escrevendo um projeto chamado Sensibiliza São Paulo e busca a parceria da prefeitura para desenvolver um trabalho de conscientização nas repartições públicas da cidade, apoiado nas leis existentes que protegem transexuais e o travestis contra a discriminação.

Atualmente, Renata trabalha formalmente, graças a uma iniciativa de Ivan Cabral, diretor da escola SP de teatro, que criou um projeto que destina 5% das vagas a travestis e trans. “Esse exemplo dele deveria servir para que outras empresas contratassem trans e travestis, porque não está fácil. As pessoas não estão preparadas e não querem se preparar para receber essas demandas e lidar com elas”. 

Laerte Coutinho

A narrativa de Laerte Coutinho corre na contramão da maioria das transexuais. Depois de quase 40 anos de uma carreira de prestígio, um casamento terminado e a perda de um filho, a cartunista passou por um momento de reflexão profundo e também de redescobertas: “Meu movimento foi e está sendo motivado por descobertas muito recentes e enriquecedoras e não por uma consciência clara de identidade, surgida na infância”.  

Claudia Ferreira
Claudia Ferreira (Claudia Ferreira/Reprodução)

De acordo com Laerte, a maior parte das pessoas trans ainda enfrenta situações de pesadelo no Brasil, apesar dos avanços recentes. “Existe um preconceito claro e ativo, mais evidente no caso das pessoas trans. Creio que isso se dá porque a identidade de gênero, ao se manifestar, é necessariamente explícita e visível. Acho que o meu caso particular gerou uma gama de reações em geral muito positivas – o que é ótimo, por todos os motivos imagináveis”.

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Laerte participou da fundação da ABRAT (Associação Brasileira de Transgêneros), uma associação que estimula discussões sobre a transgeneridade e promove ações que contribuem para a luta dos direitos civis e condições de vida. Uma das iniciativas da ABRAT foi o TransEmpregos, um site que reúne pessoas trans e não trans, que desejam colocação profissional. “Em algumas empresas públicas e privadas já se estabeleceu um padrão de respeito no atendimento, com uso de nome social e tratamento civilizado. Ainda falta muito, no entanto, para um quadro positivo.”

Leia também: As histórias de 6 pais que se revelaram gays após o nascimento dos filhos

Márcia Rocha

Márcia Rocha, 50 anos, teve uma trajetória diferente da grande maioria das transexuais e travestis. Filha de família rica e tradicional de São Paulo é empresária, formada em Direito pela PUC e fala três idiomas. No entanto, quem pensa que por ser rica, Márcia ficou livre dos preconceitos se engana. Na adolescência, começou a tomar hormônios, porém seu pai descobriu e a obrigou a parar com o processo. Viveu 30 anos reprimida. “Só consegui tudo o que consegui na vida por não ter me exposto”.   

Reprodução/Facebook
Reprodução/Facebook ()

Junto com Laerte Coutinho e Maitê Schneider, criou o Transempregos. Márcia tem feito palestras de sensibilização em grandes empresas e, aos poucos, segundo ela, as portas estão abrindo. Algumas firmaram compromissos, como o Carrefour, que já tinha 20 pessoas transexuais em seu quadro de trabalho e se comprometeu a contratar mais 15, graças a uma parceria que eles fecharam com o Transcidadania (projeto da prefeitura que apoia as transexuais e os travestis).  “Neste momento, estamos fazendo um trabalho de mapeamento. Queremos conhecer as qualificações dos candidatos e as deficiências em sua formação, assim podemos oferecer cursos e colocá-los em posição igualitária de competição.” 

Não estamos fazendo caridade e sim dando oportunidade para as pessoas mostrarem que são competentes 

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Enzo Possebon

Enzo tem 20 anos e está se recuperando de uma cirurgia de mastectomia bilateral, realizada há 3 semanas. Quando vai em busca de emprego usa o nome social e agradece por nunca ter sido barrado, embora tenha enfrentado situações desconfortáveis. “Algumas vezes, no antigo trabalho, quando já havia explicado a minha situação, um colega e um superior insistiam em se referir a mim com pronomes femininos e usar meu nome de nascimento”.

Arquivo pessoal
Arquivo pessoal ()

Jovem e cheio de sonhos, Enzo sabe que terá que competir em um mercado de trabalho hostil, mas ele não desanima. “A situação da pessoa transexual ainda é muito difícil. Muitas ainda têm que se prostituir para sobreviver, pois a sociedade ainda tem uma cultura machista. Mesmo assim, vou alcançar todos os meus objetivos, vou provar que minha identidade de gênero não interfere na minha capacidade profissional”.

Ariadna Seixas

Aos 27 anos, Ariadna Seixas, passou em um concurso para trabalhar no Sesc, em São Paulo. Até que efetivamente assumisse o cargo, dois anos se passaram e esse período foi de muitas mudanças em sua vida. Quando começou a seleção, ela ainda não havia passado pelo processo de readequação de gênero. Com medo de uma reação negativa da instituição, a nova funcionária fez o possível para esconder sua feminilidade. Apesar de ter assinado a carteira, não estava satisfeita, pois teria que trabalhar no vestiário masculino. Após uma conversa com o RH, ela foi realocada e tornou-se orientadora de público.

Arquivo Pessoal
Arquivo Pessoal ()

Ariadna sempre agiu com firmeza na hora de procurar emprego. Faz questão de ser chamada por ser seu nome social e ser respeitada como mulher. Atualmente, ela vive em Florianópolis e trabalha em uma loja de departamentos. 

Renata Bastos

Figura conhecida na noite paulistana, Renata perdeu a mãe cedo e aos 14 anos foi morar com a avó. Seu primeiro trabalho foi como promoter de festas. Na noite conheceu muitas pessoas e fez muitos contatos que a ajudaram a ingressar no mercado da moda. “Sempre tive muita sorte e bons amigos. A noite me deu um grupo de pessoas que me ajudaram muito!

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Arquivo pessoal
Arquivo pessoal ()

Durante anos, construiu um bom relacionamento com as marcas que representou e hoje faz assessoria para algumas delas. Embora seja um exemplo de pessoa bem sucedida, Renata sabe que teve sorte e que o mercado de trabalho não está tão bem preparado para receber a transexual.  “Infelizmente o povo ainda não entendeu. Há coisas que não precisam ser ditas. Cada um é do jeito que é e não tem que ficar explicando. Minha avó tem 90 anos e me chama de Renata. Tem Facebook e vê minhas fotos. Ela nunca questionou. Sou a neta dela e ela me ama!”

Renata Albuquerque Montezine

Renata esta dando seus primeiros passos na carreira de modelo plus size. Sua estreia foi recente, no último Fashion Weekend Plus Size, em julho. Ela representou três marcas e apesar da estreia ter sido um sucesso ainda aguarda contatos: “É difícil arrumar trabalhos. Ainda existe muito preconceito”.

Antes de tentar ingressar no mundo da moda, Renata trabalhou como manicure em um salão de beleza e teve que lidar com a desinformação e o preconceito de uma cliente. “Quando ela viu que eu iria atendê-la, olhou para os lados e procurou outra pessoa para me substituir. Fui elegante, sai do local e ela foi atendida por outra profissional. Minha chefe perguntou se eu queria processar a cliente, mas preferi não”.

Binho Martins/Divulgação
Binho Martins/Divulgação ()

 O mundo fashion parece estar mais aberto para Renata, que trabalhou em uma loja de roupas como vendedora e se sentia muito realizada. “Lá, as clientes viam meu potencial. Elas me aceitavam e até me incentivaram a tentar a carreira de modelo”.

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