Meu filho de 13 dias fez uma cirurgia no coração
O Yugo foi o menor bebê do Brasil a sobreviver com o coração parado por 30 minutos
A vida do meu filho é um milagre!
Foto: Arquivo pessoal
Sempre tive fé. E foi só por isso que não enlouqueci enquanto acompanhava o Yugo no hospital. Mesmo confiante, tive momentos de desespero. O pior deles ocorreu minutos antes de ele ir para a sala de operação. Eu me lembro de ter perguntado à enfermeira: “Você deixou eu pegar meu bebê no colo porque sabe que não vou mais vê-lo, não é?”. Era a primeira vez que eu segurava meu filho nos braços. E o medo de também ser a última tomou conta de mim. O consolo veio da própria enfermeira, que me pediu para manter a fé.
>> Uma cirurgia de alto risco
O Yugo nasceu aos sete meses de gestação, em agosto de 2009. Meu primeiro filho, o Kenzo, também foi prematuro. Os dois nasceram frágeis, como todo bebê que nasce antes do tempo. Mas o Kenzo saiu do hospital na data marcada.
Com 10 dias de vida, Yugo teve complicações. Foi detectada uma infecção no coração dele, contraída por meio do cateter que o alimentava pelo umbigo. Não é comum, mas é possível, e a infecção tomou 90% do coraçãozinho dele, que era do tamanho de uma moeda de R$ 1.
Os especialistas diziam que só uma cirurgia seria capaz de impedir o crescimento da infecção. E tinha que ser feita às pressas. Seria uma aposta de alto risco, por causa das condições físicas do meu filho: ele tinha 13 dias de vida, 30 cm e 905 g. Os médicos foram realistas. O Yugo corria risco de morte. Deixei na mão de Deus.
>> A primeira vitória
Não sei quantas horas esperei. Uma eternidade, acho. Eu não sabia como seria a operação, nem mesmo que o coração e o pulmão dele ficariam parados. Só sabia dos possíveis resultados da cirurgia, e isso me desesperava. Pedia a Deus para deixá-lo vivo.
Agoniada, fiquei na sala de espera do hospital acompanhada de três primas. Outros amigos e parentes ficaram com meu marido, que decidiu esperar no carro, no estacionamento do hospital. Foi a maneira que ele encontrou para rezar em paz, ficar quieto. A sala de espera tinha mesmo um clima de agonia.
“O Yugo está bem, a cirurgia foi um sucesso!”, anunciou uma das minhas primas, que é anestesista e conseguiu a informação antes de nós. Todo mundo ficou emocionado: eu, meu marido, nossos amigos, nossa família e até as enfermeiras e os médicos que tratavam do meu filho. Eles diziam que o Yugo era uma vitória para a medicina, um motivo de orgulho. “Obrigada, senhor!”, agradeci.
Depois da cirurgia, ele teve outra infecção. Foram 30 dias na UTI. Hoje, a família é só sorrisos.
Foto: Arquivo pessoal
>> A infecção voltou
A alegria nos contagiou por apenas dois dias. Soubemos que outra infecção do mesmo tipo tinha se instalado do outro lado do coraçãozinho do meu filho. Ele teria que passar por tudo outra vez, com a mesma gravidade. Os médicos descartaram uma nova cirurgia porque seria pesado demais para ele. “Uma operação dessas só se faz uma vez na vida”, disse o cardiologista. A saída, então, foi o tratamento com medicamentos. “Peçam a todos que rezem pelo Yugo. Nós, médicos, já fizemos tudo o que estava ao nosso alcance”, completou o especialista.
Foram 30 dias de expectativa. A cada resultado positivo, uma sementinha de esperança brotava. E eu estive ali, ao lado do meu bebezinho, dia e noite, cantando no ouvido dele ou segurando sua mãozinha. Eu passava o dia no hospital e só o deixava na hora de dormir. As despedidas doíam. Sempre me perguntava se ele estaria lá no dia seguinte. Por sorte, por Deus ou pela medicina, o Yugo reagiu muito bem ao tratamento.
>> A volta pra casa
Passamos da UTI neonatal para o quarto e ali ficamos por mais dois longos meses. Só aí pude amamentar, dar banho e fazer meu bebê dormir. Éramos nós dois morando dentro de um quarto de hospital. Ele estava muito fraquinho e respirando com a ajuda de oxigênio. Ainda assim, mostrou-se um menino risonho. Enquanto meu coração se enchia de amor pelo Yugo, também batia de saudades do Kenzo, de 3 anos, que estava aos cuidados do meu marido.
O Yugo recebeu alta três meses depois de nascer. Por um lado, muita felicidade, por outro, medo. “Será que vou dar conta de cuidar dele?” Não foi fácil. Por mais dois meses, corremos com o Yugo de casa para os médicos para novas baterias de consultas e exames. Além das visitas ao cardiologista, fomos a neurologistas, oftalmologistas e fisioterapeutas. Tudo para confirmar que o meu bebê prematuro estava evoluindo bem. Foi duro, mas valeu!
>> A minha família está completa
Com essa batalha, aprendi que a dor nos ensina. Ela mostra como a vida é frágil e preciosa. Aprendi que o mais valioso é estar ao lado de quem amamos. Só assim conseguimos ser fortes.
Agora a nossa casa está cheia de alegria. O Kenzo adora o Yugo, que acabou de completar 7 meses. Meus filhos são carinhosos e espertos. Kenzo já fala tudo, corre pela casa e faz bagunça. O Yugo está aprendendo a sentar e a pegar os objetos. A fisioterapia o ajuda no desenvolvimento dos movimentos, pois ele tem um pouquinho mais de dificuldade que os bebês da idade dele. Mas meu filho aprende tudo e é cheio de vontade de viver!