Livros de pano da ONG Movimento de Mulheres ajudam famílias vulneráveis
Vendendo livros de pano, Mirtes de Sousa colaborou com o tratamento de mulheres alcoólatras e aumentou a frequência das crianças na escola
Nascida em Minas Gerais, a professora Mirtes de Souza mudou-se para São Paulo nos anos 1980, com os pais e a irmã Marly, para dar aulas na rede pública. Logo no primeiro mês, percebeu que muitos de seus alunos eram agressivos e tinham dificuldade de aprendizado.
“Quis conhecer a casa e a família das crianças. Para minha surpresa, muitas mães eram alcoólatras”, conta Mirtes. Com a ajuda da irmã e determinada a manter os pequenos na escola, ela conseguiu um galpão na região do Campo Limpo, Zona Sul da cidade, e convocou as mães para aulas de bordado, evitando assim que ficassem ociosas e bebessem. “Foi um sucesso. Logo tínhamos mais de 60 participantes. Notamos que, conforme elas iam melhorando, os filhos também passavam a se dedicar mais aos estudos”, explica.
Em 1985, foi oficialmente fundado o Movimento de Mulheres do Jardim Comercial, mas a situação da ONG não era nada boa. Sem nenhum apoio financeiro e com cada vez mais inscritos, Mirtes e Marly sabiam que o projeto corria riscos. Ao encontrar um antigo edredom de retalhos em casa, Mirtes teve a ideia de criar um livro-travesseiro com pedaços de tecido. No dia seguinte, levou para as mães verem. A venda dos livros melhoraria a renda das bordadeiras e traria dinheiro para manter o projeto de pé. Assim surgiu o principal produto da ONG até hoje.
Com o passar dos anos, o movimento ganhou espaço próprio e variedade de aulas, incluindo curso de culinária e creche com recreação e contação de histórias para os filhos das bordadeiras. Hoje, continua sem patrocínio, mas vende seus produtos também online.
“Fico muito feliz em ver a transformação que a ONG trouxe à nossa comunidade. Algumas mulheres voltaram a estudar e as famílias conseguiram até comprar casa de alvenaria. Nosso objetivo é continuar resgatando valores como a gratidão e a solidariedade. E cuidar dessas mães para que elas possam olhar por suas crianças”, finaliza.