Ioga: livro mostra que a prática pode apresentar riscos à saúde
Um novo livro ganha repercussão mundial ao mostrar que a ioga, ícone de serenidade, não é isenta de riscos. Aprecie com moderação.
Algumas posições de ioga pressionam excessivamente as artérias vertebrais.
Foto: Getty Images
Segundo dados da Yoga Health Foundation, dos Estados Unidos, há aproximadamente 250 milhões de praticantes de ioga no mundo. Atraído pela questão dos benefícios e malefícios da prática, o jornalista americano William J. Broad foi atrás da ciência procurar respostas. Sua pesquisa levou cinco anos e está no livro A Moderna Ciência do Yoga – os Riscos e as Recompensas, recentemente lançado no Brasil pela editora Valentina. A obra trata principalmente dos benefícios da atividade, mas não deixa escapar o lado B da atividade, e, num capítulo ácido, revela perigos que nunca estiveram sob os holofotes.
“Antídoto perfeito”
Jornalista do The New York Times, Broad é praticamente de ioga há 40 anos. “Ela tornou-se uma grande amiga à qual me volto não importa quão louca a minha vida se torne”, escreve. Casado, pai de três filhos e autor ou coautor de oito livros, ele leva uma vida agitada: “Em um ambiente urbano de grandes cidades, onde todos vivem superestimulados, com muita cafeína e barulho, todo mundo está estressado e essa atividade milenar é o antídoto perfeito”, disse ele. Por isso, Broad resolveu colocar o dedo na ferida e apontar que a atividade da moda, incensada muitas vezes por celebridades, não está isenta de problemas. Ele próprio, um apaixonado praticante, machucou gravemente a lombar ao participar de uma aula avançada. Foram meses de tratamento até a recuperação. Paralelamente, era dado o start para o livro.
Lesões diferentes em mulheres e homens
Ao analisar pesquisas elaboradas nas melhores universidades do mundo e registros de hospitais dos Estados Unidos, o autor descobriu, por exemplo, que as lesões causadas pela prática equivocada da ioga podem ser influenciadas pelo gênero. Os homens tendem a ter lesões agudas, em função dos grandes músculos e por não terem muita flexibilidade. Entre as mais comuns estão fraturas, luxações e problemas na coluna. As mulheres apresentam situações menos graves como desmaios ou dores e uma grande incidência de artrite na região do quadril. Para evitar os problemas, a sugestão é executar movimentos de uma forma mais suave, especialmente em posições de extrema flexão anterior da coluna, algumas saudações ao sol e posições de guerreiro.
Pescoço em risco
O maior problema, no entanto, está associado a uma pressão excessiva no pescoço que pode levar, pasme!, tanto homens quanto mulheres à morte, segundo Broad. “Todo mundo conhece as artérias carótidas, mas muitas pessoas não sabem que existem outras artérias que chegam ao cérebro central através das vértebras, são as chamadas artérias vertebrais. Se você dobrar muito o pescoço e tiver vasos fracos, coágulos começam a se formar e o sangue para o cérebro é cortado, o que pode provocar um acidente vascular cerebral”, explica. O escritor diz que a posição mais arriscada neste sentido é a chamada postura do arado e deve ser banida; outras, como suporte de ombro e de cabeça devem ser evitadas por colocarem muito peso sobre o pescoço. O próprio jornalista conta que depois da pesquisa aprendeu a fazer movimentos mais cuidadosos com o pescoço e excluiu a pose do arado das suas práticas.
Prática rentável
Broad acredita que, para não manchar a imagem do business da ioga, perdeu-se a oportunidade de aprender com os erros e aprimorar os movimentos. “Por que não ficamos sabendo de todos os riscos também?”, questiona. “Por uma questão econômica. É ruim para o negócio. A indústria da ioga é bastante rentável, fatura muitos bilhões de dólares”. Uma das formas mais rápidas de rentabilizar a atividade milenar é certificar professores e isso nem sempre é feito da maneira mais adequada. Com apenas três meses de estudos pela internet, por exemplo, é possível receber um certificado, sem qualquer embasamento prático. Instrutores inexperientes lotam estúdios com centenas de alunos sem condições de avaliar se as poses estão sendo executadas corretamente. “Você confia em um professor de violino que nunca tocou em um concerto, nunca fez uma audição em público e estudou apenas três meses? Isso é um professor de ioga”, critica.