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“Não passei pela gestação, mas consigo amamentar minha filha adotiva”

A história da mãe que descobriu o prazer de amamentar mesmo sem ter ficado grávida. Profissionais explicam como isso é possível.

Por Beatriz Roscoe (colaboradora)
Atualizado em 26 jul 2017, 17h56 - Publicado em 26 jul 2017, 16h50

Depois de várias tentativas de engravidar e processos de fertilização frustrados, a jornalista Ana Regina Fritsch, 40 anos, optou pela adoção. “O processo é complicado, parece que eles querem que você desista. Tem que estar 150% certa de que se quer adotar”, relata. Apesar das dificuldades, após 3 anos de espera, a gaúcha recebeu uma ligação da Vara da Infância e Juventude sobre a data de nascimento da garotinha que seria sua filha. Apequena Alice chegou ao mundo no dia 13 de janeiro deste ano e apenas seis horas depois já estava no colo de Ana.

Enquanto aguardava a chegada desse momento especial, Ana descobriu a chamada “amamentação adotiva” e se interessou por vivenciar essa experiência. Foi sua irmã Sabrina, fisioterapeuta e doula, quem introduziu o assunto. “Amamentação é um processo cerebral”, disse ao aconselhar Ana a buscar mais informações sobre o assunto.

“Nunca imaginei que conseguiria ter um bebê recém-nascido em meus braços, muito menos poder amamentar!”, comenta a gaúcha. Decidida a passar pela experiência, ela estudou por conta própria, além de consultar médicos para se aprofundar no assunto e ter certeza de que seria possível amamentar sem ter gerado a filha.

(Arquivo Pessoal/CLAUDIA)

Segundo a pediatra neonatal Simone Reichert, que acompanhou Ana durante o processo, a lactação é estimulada tanto por hormônios, como por movimentos de sucção nos mamilos que são interpretados pelo corpo como um sinal para iniciar a produção de leite materno. A preparação psicológica, antes mesmo do nascimento de Alice, e o forte desejo de amamentar foram fundamentais para que desse tudo certo, assim como a prescrição de lactogogos, substâncias que aumentam a produção de hormônios que influenciam a lactação, afirma a médica.

Apesar de se sentir preparada, a mãe de primeira viagem ficou emocionada quando viu que sua filha realmente conseguia mamar no colo dela. “Foi muito natural, não teve cobrança, eu não esperava isso de mim”, compartilha. Reichert afirma que as principais dificuldades de mães biológicas na hora de amamentar são causadas pelo cansaço, estresse, ansiedade e autocobranças. Como Ana conseguiu se livrar desses sofrimentos por meio de uma preparação médica, acabou sendo bem sucedida.

“É a maior experiência que eu poderia ter como mãe. A Alice precisa de mim, e enquanto estou com ela, sou só dela. A mamadeira qualquer um dá, o peito não”, relata Ana. A dica da nova mamãe para quem quer amamentar é buscar se informar, procurar acompanhamento médico e principalmente não se cobrar tanto. “O desejo de amamentar é o mais importante”, reafirma. Por meio de conhecimento e força de vontade, ela descobriu a fórmula para amamentar Alice e para nutrir e alimentar esse amor tão grande que só quem é mãe conhece.

Mães que não produzem leite também podem amamentar!

O aleitamento materno é mais do que apenas alimentar o bebê, é um momento de afeto e fortalecimento do vínculo entre mãe e filho. Além disso, segundo a Organização Mundial da Saúde, reduz a mortalidade neonatal e estimula a imunização do bebê. A lactação induzida é uma técnica que permite que esses momentos sejam vivenciados por mulheres que possuem dificuldade na lactação ou não produzem leite algum (como no caso das mães adotivas).

Conversamos com Juliana Oliveira, enfermeira do Grupo de Apoio ao Aleitamento Materno do Hospital e Maternidade São Luiz Itaim, para entender melhor algumas dessas técnicas. Confira a entrevista:

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CLAUDIA: O que as mulheres que desejam amamentar e não produzem leite devem fazer?
Juliana Oliveira: Procurar ajuda de um profissional que possa ajudá-la com o manejo da amamentação. O uso de medicamentos e a técnica de relactação poderão iniciar a produção de leite, mas é essencial que algumas mamadas sejam acompanhadas por um profissional para garantir que o bebê esteja sendo posicionado corretamente e estimulando a mama da melhor forma, para a manutenção da lactação.

A mulher deve ainda hidratar-se muito bem (recomenda-se ao menos 3 litros de água ao dia), alimentar-se bem (não existem alimentos específicos para o aumento da produção de leite, mas a alimentação saudável e frequente – de 3 em 3 horas – é importante) e procurar ter momentos de descanso. O bem estar materno é um fator de grande influência para a manutenção da amamentação, enquanto o estresse e o cansaço dificultam a produção de leite.

CLAUDIA: Quais métodos e técnicas de lactação induzida são mais eficientes?
Juliana Oliveira: A forma mais efetiva e segura de estimular a lactação é através da sucção do bebê. No caso de mães adotivas, utiliza-se a técnica da relactação, com a qual estimulamos o bebê a realizar as sucções na mama. Nas primeiras mamadas utiliza-se leite artificial durante a técnica, para que o bebê sinta o leite enquanto suga e se interesse em manter as sucções. Quando a mulher passar a produzir seu próprio leite, o bebê realizará as sucções sem precisar desse estímulo.

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CLAUDIA: O que é a relactação?
Juliana Oliveira: A relactação consiste em fixar com uma fita adesiva (micropore) uma das extremidades de uma sonda na região areolar da mãe e mergulhar a outra extremidade da sonda em um recipiente contendo leite. Posicionar o bebê na mama, de forma que ele abocanhe a região areolar e a sonda.

A sonda funcionará como um “canudinho”, conforme o bebê sugar a mama, ele puxará o leite que está no recipiente. Recebendo leite, o bebê permanecerá sugando e a sucção estimulará a produção de leite pela mãe. Conforme a produção de leite aumentar, o bebê conseguirá extrair o leite da própria mama e não precisará mais da sonda para manter a sucção.

CLAUDIA: O que são e como funcionam os lactogogos?
Juliana Oliveira: São medicamentos que estimulam a lactação. Atuam no aumento dos níveis de prolactina (hormônio responsável pela produção de leite). Qualquer medicação deve ser receitada e orientada por um médico que esteja acompanhando a mulher e/ou o bebê (obstetra ou pediatra), pois é importante lembrar que qualquer medicação pode desencadear efeitos colaterais.

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CLAUDIA: Somente o estímulo da sucção do bebê é suficiente para iniciar a lactação?
Juliana Oliveira: Sim, a sucção do bebê, desde que feita de forma efetiva e com a pega correta, é capaz de estimular a produção de leite. Quando o bebê abocanha a região areolar, ele inicia os movimentos de sucção, que estimulam a liberação dos hormônios ocitocina e prolactina. A ocitocina é responsável pela ejeção do leite, ou seja, conforme o bebê mama, sua força de sucção aliada à ação da ocitocina que “empurra” o leite para fora promove o esvaziamento da mama.

A prolactina entrará em ação para produzir e repor o leite que está sendo retirado. Inclusive a sucção do bebê é suficiente não só para iniciar, mas para aumentar a produção de leite conforme ele cresce. Sua forma de mamar muda conforme os meses passam, e o corpo da mãe reconhece essa mudança, percebendo que o bebê está crescendo e demandando um volume maior de leite a mãe é capaz de ajustar sua produção e atender essa demanda.

CLAUDIA: Que outras técnicas podem estimular a lactação?
Juliana Oliveira: A sucção através de bombas extratoras de leite pode auxiliar no estímulo, porém não substitui a sucção feita pelo bebê. O contato físico do bebê com a mãe estimula uma maior liberação hormonal, além de que o movimento feito pelo bebê é mais complexo e muito diferente do movimento feito pela bomba. Pode-se associar os dois estímulos, posicionar o bebê no seio e após a mamada utilizar a bomba para continuar estimulando e promover maior esvaziamento da mama.

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CLAUDIA: Quais são os principais motivos que atrapalham mães biológicas a produzir o leite?
Juliana Oliveira: O principal fator que dificulta a produção de leite por mulheres que tiveram uma gestação saudável é o emocional. A cobrança, a insegurança, o estresse e o cansaço exercem grande influência no processo de lactação. Por isso é importante que a mulher tenha uma rede de apoio, ou seja, pessoas ao seu redor que a apoiem e auxiliem, encorajando-a, permitindo a ela momentos de descanso, lembrando-a de hidratar-se e alimentar-se, e ajudando-a a reconhecer se a mamada está sendo feita de forma correta e efetiva.

Em algumas situações, o bebê não faz o estímulo necessário, ou por não realizar a pega correta, ou por não realizar uma sucção capaz de extrair o leite da mama, ou por ter horários rígidos e regrados para mamar. Quando a mãe impõe um tempo limite de duração para as mamadas, o bebê não promove o esvaziamento completo da mama. Quando o leite não é retirado da mama, peptídeos supressores da lactação entram em ação e inibem a produção de leite, é como se o corpo entendesse que o leite não está sendo necessário, já que está ficando parado ou acumulado dentro da mama e assim a produção diminui. É importante, portanto, promover a amamentação em livre demanda, para que o bebê mame o quanto for necessário e o corpo da mãe mantenha a produção ajustada à sua demanda.

A especialista recomenda que quem deseja amamentar procure um grupo de apoio ao aleitamento. Algumas maternidades públicas oferecem o atendimento de apoio à amamentação que acontece no banco de leite. A Rede Brasileira de Bancos de Leite é uma iniciativa do Ministério da Saúde e da Fundação Oswaldo Cruz, que busca promover, proteger e apoiar o aleitamento materno. No site da rede, há uma listagem de todos os bancos de leite do Brasil, e é possível encontrar o mais próximo da mulher para agendar o atendimento.

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