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Especialistas indicam maneiras de recuperar o desejo perdido

A falta de desejo é provocada por fatores que vão de desequilíbrio hormonal à não priorização na rotina. Mas há muito a fazer para recuperá-lo

Por Naiara Magalhães (colaboradora)
Atualizado em 28 out 2016, 11h49 - Publicado em 26 mar 2016, 07h00

A trilogia 50 Tons de Cinza vendeu 125 milhões de exemplares no mundo – 6 milhões só no Brasil. Com eles, colocou em evidência um apetite que parecia oculto: o das mulheres por sexo. O mesmo que, de certa forma, faz com que elas sejam 48% das usuárias do aplicativo de relacionamentos Tinder. E, no caso das brasileiras, as mais proativas na hora de demonstrar interesse por alguém no Happn, app com o mesmo propósito. Sim, a libido está na pauta das mulheres – que vêm olhando cada vez mais para seu corpo e desejo. Paralelamente, uma parcela ainda grande diz não sentir desejo sexual com frequência: uma em cada dez americanas (segundo estudo da Universidade de Virgínia) e 23% das 4 mil brasileiras entrevistadas pelo levantamento mais recente, coordenado pela psiquiatra e sexóloga Carmita Abdo, fundadora do Programa de Estudos em Sexualidade da Universidade de São Paulo. Assim como a libido feminina, a falta dela costuma ser multifatorial. Entram em jogo aspectos físicos, psicológicos e ambientais. A chave para recuperá-la é identificar o peso de cada um deles.
 
Auxílio externo

Ainda que este não seja um problema exclusivo das mulheres, os homens têm um poderoso “veneno antimonotonia”: a testosterona, hormônio responsável pela motivação para o sexo, é produzida pelo organismo masculino em quantidade dez vezes maior que no feminino. E, no corpo deles, essa liberação é fixa nos 365 dias do ano, enquanto no caso delas varia ao longo do ciclo menstrual. Além dessa oscilação natural, o organismo feminino pode apresentar baixas intensas no nível de testosterona em certos períodos, como a menopausa ou após anos de uso de pílula anticoncepcional. Para combatê-las, alguns profissionais defendem sua reposição – procedimento ainda não aprovado nem pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária nem pelo órgão americano que controla o uso de medicamentos, o FDA, por falta de estudos que afastem sua associação com o aumento do risco de câncer. Na Austrália e em alguns países da Europa, a testosterona já é indicada com esse intuito na forma de adesivos. Por aqui, o uso é off label (o médico pode receitar sob sua responsabilidade). Membro do projeto Afrodite, da Universidade Federal de São Paulo, que atua para sanar disfunções femininas nessa área, a ginecologista Carolina Ambrogini costuma indicar a testosterona (na versão comprimido, gel ou implante) por curtos períodos a pacientes cuja taxa do hormônio está 75% abaixo do ideal e se associada à queixa de falta de desejo. “A testosterona deixa a mulher mais sensível a estímulos, mas não é uma boia de salvação. Não adianta tomar o hormônio se o casamento se mantiver deserotizado”, pondera. “Nem tudo na mulher são hormônios, apesar de eles terem um papel importante. Às vezes, mesmo com os níveis equilibrados, ela não quer saber de sexo. Essa associação de testosterona com desejo é muito mais fidedigna nos homens”, afirma a psiquiatra Carmita Abdo.
Já o uso de estrógeno, especialmente no climatério, quando o nível do hormônio cai drasticamente, tem mais consenso entre os especialistas (mulheres com histórico de câncer de mama e doenças cardiovasculares precisam avaliar os prós e contras com seus médicos). Enquanto a testosterona motiva para o sexo, o estrógeno prepara para o ato – lubrifica e aquece a vagina, aumenta a sensibilidade da pele, dá tônus aos músculos, melhora o humor… Produzido pelo organismo, ele é liberado em maior quantidade na primeira metade do ciclo e em menor no período pré-menstrual, na gestação, na amamentação e na menopausa. Nessas quatro fases, frequentemente a mulher sente menos desejo, embora haja diferenças individuais.
Mas a grande aposta no tratamento da falta de libido é a flibanserina, que pela promessa foi apelidada de Viagra feminino. Aprovada nos Estados Unidos em agosto passado, mas ainda sem autorização para comercialização no Brasil, ela não altera a concentração de estrógeno ou progesterona nem mesmo atua diretamente nos genitais, como o medicamento que devolve a ereção aos homens. Ela age na química do cérebro, alterando as concentrações de dopamina e serotonina, substâncias relacionadas ao prazer e ao interesse sexual. Seu uso, no entanto, é restrito: só indicado para tratar o Transtorno do Desejo Sexual Hipoativo (falta de desejo crônica), que atinge 7% das mulheres, e é justamente a ausência de desejo que não se encaixa em outros motivos (nem reação adversa de medicamento, problema de relacionamento, desequilíbrio hormonal ou doença física ou psíquica). As diferenças entre a pílula rosa e a azul vão além da forma de atuação: a flibanserina precisa ser tomada diariamente (e não somente antes do sexo) e leva, em média, um mês para fazer efeito. Ela ainda provoca efeitos colaterais consideráveis, como náusea, sonolência e queda da pressão. Quem toma o remédio não pode de forma alguma consumir bebidas alcoólicas, pois há risco alto de desmaios. Para Carmita Abdo, apesar da indicação e dos resultados limitados, a chegada dela é positiva: “É o primeiro medicamento voltado diretamente para o problema e aponta a direção na qual as pesquisas nessa área devem se concentrar para chegar a melhores soluções”, diz.  
A ação da flibanserina foi descoberta, por acaso, durante os estudos de um medicamento para combater a depressão. Duas vezes mais comum entre as mulheres, ela também é causa de perda de libido. “A pessoa deprimida perde o apetite por tudo, inclusive transar”, explica a psicanalista Helena Albuquerque, professora do Instituto Sedes Sapientiae, em São Paulo. Tratando a depressão, muitas vezes o desejo volta aos bons tempos. A má notícia é que muitos antidepressivos também tiram a libido – problema contornável trocando a medicação por outra variante ou tratamentos não medicamentosos.
 
Pouco favorável

Não bastassem os fatores físicos, a falta de libido também envolve muitas causas psicológicas e até externas. A reclamação que a ginecologista Carolina Ambrogini mais escuta em consultório é a exaustão. “A mulher trabalha tanto ou mais que o homem para provar que é capaz. Em casa, ainda assume muitas funções sozinha. Cansada, quer dormir”, diz ela. Mesmo nesse caso, a falta de energia dificilmente é a única responsável – tanto que a mulher no auge da paixão, mesmo com os afazeres se acumulando, costuma ter pique entre os lençóis. O mix cansaço mais excesso de preocupações (com os filhos, a casa, a próxima reunião de equipe, o relatório que precisa chegar ao cliente…), mais relacionamento longo, por exemplo, é desanimador para muitas. “Na relação nova, o desejo espontâneo está bem presente na mulher. Com o tempo, é comum que necessite de estímulos para acordar a vontade – um afago ou elogio mais erótico, por exemplo”, explica Carmita. Os homens costumam preservar mais a libido em parcerias longevas, especialmente porque possuem desejo mais fisiológico e imperativo. “Em geral, as mulheres precisam estar relaxadas e confortáveis com o parceiro e com o ambiente para sentir vontade de transar. Já eles se importam menos com coisas como o quarto estar limpo.” Além disso, enquanto para eles o sexo muitas vezes é válvula de escape, para elas demanda esforço (para entrar no clima, esquecer as tarefas, mudar a chave mental de mãe e esposa para uma erótica). Fatores culturais estão por trás da diferença: eles foram treinados desde cedo a querer sempre sexo, nos bons e nos maus momentos. Elas só foram autorizadas a aceitar e defender o próprio desejo recentemente.
 
Casais eróticos 

Um dos caminhos para tratar essa questão é a terapia de casal. Até porque, quando se fala em falta de desejo, aquela muitas vezes não é uma questão restrita a um dos pares, mas justamente à (dificuldade de) conexão entre aquela dupla específica. “Vou fazendo a mediação para que eles aprendam a escutar um ao outro e identifiquem onde se desencontraram”, explica a psicóloga Enylda Motta, de Belo Horizonte. A volta do desejo pode ser uma das consequências. Também trabalha-se a dificuldade de traquejo na cama, se for o caso – parceiros muito afoitos ou lentos. Priorizar o sexo na rotina também é fundamental. “Muitos casais se devotam mais a ter um carro novo do que bom sexo. Planejam o orçamento, cortam gastos. Já o sexo fica para a hora que dá”, comenta Carmita. Colocá-lo no topo da lista de tarefas tem mais a ver com criar o hábito de reservar tempo para isso do que com investir em lingerie nova.
A psicoterapeuta belga Esther Perel identificou, nos países que visitou para suas pesquisas, as seguintes características dos casais com vida sexual agitada depois de muito tempo juntos: 1) sabem que preliminares não começam cinco minutos antes do sexo – e, sim, logo depois do último orgasmo; 2) criam um espaço erótico não só ao acariciar o outro – mas deixando de lado a figura de cidadão responsável para entrar em um espaço onde nem tudo precisa ser politicamente correto; 3) entendem que a paixão vai e volta e quebraram o mito da espontaneidade do desejo. “Sexo comprometido é sexo premeditado”, define ela na palestra O Segredo do Desejo em um Relacionamento Duradouro, de 2013, que já tem mais de 7 milhões de visualizações na internet.
  
Sem problema

Causas e soluções à parte, uma pergunta precisa ser feita: a falta de desejo é necessariamente um inimigo a ser combatido? Os especialistas ouvidos são unânimes: só quando há sofrimento pessoal envolvido, seja porque a mulher gostaria de sentir desejo, seja porque é cobrada em um relacionamento que valoriza e gostaria de cultivar. É o caso de 15% das entrevistadas no estudo conduzido por Carmita. As outras 8% que não sentem desejo não se incomodam com isso – portanto, não têm problema a resolver. Gostar mais ou menos de sexo também é questão de temperamento – tanto quanto gostar de matemática ou detestar aventuras.
No extremo da ausência de libido, estão pessoas que se identificam como assexuais. Elas não têm nem nunca tiveram atração sexual por alguém, embora possam sentir vontade de ter relações afetivas, desde que sem contatos íntimos. Há grupos no Brasil e no exterior dedicados a acolher quem tem esse perfil e esclarecer mitos que as rodeiam – como a ideia de que são gays enrustidos, possuem problemas hormonais ou reprimem a vontade por questões morais. O maior deles é o Aven, rede internacional que luta pela aceitação dos assexuados. Nesses casos, nada precisa ser feito. Mas, no de quem se incomoda com a inapetência na cama, cada vez mais caminhos se abrem. É encontrar o seu para seguir em direção ao próprio tesão – sem precisar ficar restrito aos infinitos tons de cinza das páginas dos livros.
 

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 Onde o desejo se esconde
 
A falta de libido costuma se manifestar por meio de uma conjunção de elementos. Conheça os principais:

Fatores biológicos
• Temperamento.
• Variações hormonais (período pré- -menstrual, gestação, pós-parto, amamentação, climatério e menopausa).
• Doenças que causam letargia, irritabilidade, dor ou falta de lubrificação vaginal (hipo ou hipertireoidismo, enxaqueca, doença reumática e diabetes, entre outras).
• Medicamentos (como pílula e antidepressivo).
Fatores psicológicos
• Depressão.
• Ansiedade.
• Traumas sexuais.
• Stress causado por preocupações financeiras, familiares e profissionais.

Fatores culturais
• Educação repressora.
• Crenças religiosas.

Fatores do relacionamento
• Rotina.
• Ressentimento.
• Incompatibilidade na cama.
• Parceiro com disfunções sexuais.

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