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Especialistas ensinam a acabar com a manha e os ataques de birra das crianças

Entenda por que algumas crianças têm ataques de fúria, se jogam no chão e esperneiam – e veja como enfrentar essa fase, que pode ser longa.

Por Camila Carvas (colaboradora)
Atualizado em 27 out 2016, 22h21 - Publicado em 26 nov 2014, 13h04
Jekaterina Nikitina/Getty Images
Jekaterina Nikitina/Getty Images (/)
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Daquele tamanho e capaz de falar um “não” tão enfático – com direito a gritos, choro e esperneio. Seu bebê cresceu, já anda, fala, manda beijo e… faz birra! Assim, tira você do sério, dá dor de cabeça e atrai olhares no shopping. Calma: como já deve ter ouvido por aí, acontece nas melhores famílias. Aliás, isso não só faz parte da vida de quem tem filhos como é inerente ao desenvolvimento infantil. Aos 2 anos, quando os ataques de manha são mais comuns, a criança passa a se reconhecer como um serzinho independente dos genitores. Alguém que, como os adultos, tem vontades e quer vê-las satisfeitas. Aí, busca autonomia e controle e aproveita toda oportunidade para deixar clara sua posição. No meio do embate, ela se sente poderosa e, aos pais, cabe impor os contornos do que é aceitável. Não fosse difícil o suficiente, essa fase de testes pode se prolongar, com consequências para a vida da família e também do pequeno encrenqueiro. Por isso, os especialistas recomendam: assuma as rédeas desde cedo, mesmo que com jeito e amor.

Durante os primeiros anos, a criança ainda se apoia muito em ações e reações e nos próprios impulsos para comunicar seus sentimentos. Ela está começando a entender o ambiente e sua relação com o mundo; então fica mais sensível a experiências que não correspondem ao que espera. “O que normalmente é visto como desobediência é somente o jeito de a criança testar os limites, se comunicar e ganhar atenção”, diz o psicólogo Bronwyn B. Charlton, coordenador do Seedlings Group, grupo americano de apoio à educação de crianças que tem sedes em Nova York e Los Angeles. Apesar de nessa etapa reconhecer sua individualidade, a criança não tem ainda capacidade de se colocar no lugar do outro, gerenciar frustrações, controlar suas emoções ou resolver problemas. Assim, quando a situação se complica e ela sente dificuldade para expressar e até entender o que está sentindo, lança mão de recursos primários familiares: chora, grita, esperneia. Diante da cena, os pais, se não ficam irritados, sentem-se, no mínimo, perdidos – e frustrados, já que até as tentativas de agradar e acalmar se provam ineficazes.

Foi atrás de respostas para superar esse desafio que a psicóloga francesa Isabelle Filliozat escreveu o livro Já Tentei de Tudo (Sextante), recém-lançado no Brasil. Mãe de um casal, ela diz que, ao educá-los, procurou reforçar os atos de amor e reduzir o tom punitivo nas conversas. “Dei regras, mas tentei evitar limites muito radicais. Mais do que me obedecer, queria que aprendessem a pensar nas consequências de seus comportamentos e se tornassem responsáveis”, conta Isabelle, de Paris, a CLAUDIA. Os momentos de birra, ainda assim, persistiram. “Eu não achava que estavam tentando me agredir ou fazer jogos de poder, mas também não conseguia compreender o que passava na cabeça deles.”

Ao estudar o cérebro infantil e o comportamento dos pequenos, a psicóloga descobriu que, enquanto um bebê estressado se protege dormindo, os neurônios de uma criança de 2 anos sobrecarregada e superestimulada disparam provocando uma tempestade. “É uma ferramenta de liberação para o cérebro. Mas poucos pais entendem isso e ficam imaginando que a birra é um capricho, só uma reação pessoal à frustração – que é, em geral, o gatilho, mas nem sempre a causa do ataque de manha”, pondera Isabelle. E propõe: em vez de se desesperar com a choradeira recorrente, aproveite para desenvolver novas habilidades na criança. Apenas dar ordem e esperar que ela obedeça é o caminho para o confronto. Busque a cooperação, ofereça escolhas e faça-a pensar. “Essa fase fica especialmente terrível se os pais não levam em consideração que os pequenos estão crescendo e precisam tomar algumas decisões sozinhos. Por exemplo, se você ordenar que uma criança de 2 anos vista o casaco, ela vai se opor. Mas, se você primeiro conversar sobre o tempo lá fora e perguntar o que ela deseja vestir, a história muda”, garante Isabelle.

A frustração é, em geral, o gatilho, mas nem sempre a causa do ataque de manha, Isabelle Filliozat

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O rei da casa

O difícil é acertar a medida entre deixar que a criança faça algumas escolhas ou vire um pequeno tirano. Nessa busca pelo equilíbrio, a imagem dos pais autoritários do passado vem dando lugar não só a figuras amorosas e carinhosas mas também inseguras, culpadas e cansadas, que cedem à birra e aceitam qualquer negociação na ânsia de solucionar logo o drama. Sem querer, alimentam o problema. “Os pais perdem as rédeas e deixam que o filho reine absoluto. Frequentemente, é o pequeno quem decide o que vai comer e a que horas vai dormir”, aponta a psicanalista Marcia Neder, professora adjunta da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul e autora do livro Déspotas Mirins – O Poder nas Novas Famílias (Zagodoni Editora). A partir do momento em que abrem mão de seu papel, os adultos criam uma brecha para o que chama de “infantolatria”, ou seja, um culto à criança, como se ela fosse um deus. “Os pais precisam lembrar que são os adultos dessa relação. Há coisas que a criança simplesmente não é capaz de decidir, porque não tem nem discernimento”, avisa a psicóloga Marcia. Portanto, em vez de perguntar o que o pequeno quer comer, correndo o risco de ouvir “batata frita”, dê a ele apenas duas opções, ambas nutritivas. Assim, o exercício da autonomia infantil ganha necessários parâmetros. O autocontrole, explica o americano Charlton, pode ser ensinado e fortalecido. No lugar de só punir o mau comportamento, ajude seu filho a mudar de postura: “As habilidades não vão apenas ajudá-lo a ser mais agradável ou conquistar empatia mas serão essenciais para o sucesso e o desenvolvimento dele no futuro”.

Embora seja uma tática infantil, típica dos primeiros anos, a birra (ou manha, má-criação, como quiser chamar) não tem idade para acabar. Se aos 2 anos muito do oposicionismo dos pequenos é um modo de reconhecer a própria individualidade, a rebeldia adolescente também vem da reafirmação e da busca de independência. “Toda criança quer ser o centro das atenções e usa seus subterfúgios para obter o que deseja. Esse comportamento ainda vem sendo agravado pela culpa que os adultos sentem por trabalhar fora e não estarem tão presentes nos momentos importantes como gostariam”, analisa a psicóloga Renata Yamasaki, especialista em orientação familiar, de São Paulo. “O que se faz necessário é dar autonomia às crianças conforme elas consigam assumir responsabilidades mais complexas.” Afinal, como alerta a expert, o autoritarismo reduz a capacidade delas de controlar as emoções, enquanto a permissividade as torna egoístas. 

Dois termômetros

Com o passar dos anos, o que muda são os recursos usados pelas crianças e pelos pais. Num primeiro momento, os adultos devem dizer os porquês de forma curta, quase como uma ordem: “Deixe esse brinquedo aí”. Em torno dos 5, podem dar explicações um pouco mais longas como: “Não vamos levar isso hoje, porque mamãe está sem dinheiro”. Aos 10, as crianças compreendem melhor as regras e têm mais noção das consequências. Portanto, já cabem combinados como: “Vamos ao shopping, mas não compraremos nada, vamos só lanchar”. Mas vale lembrar que frustrações existirão a vida toda e que é essencial lidar com elas sem se jogar no chão.

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Se não for assim, essa inabilidade não só irrita como atrapalha o desenvolvimento da criança. “Para saber se esse é o caso, leve em conta dois termômetros: o acadêmico e o social”, explica o psicólogo Gustavo Teixeira, autor de O Reizinho da Casa – Manual para Pais de Crianças Opositivas, Desafiadoras e Desobedientes (Best Seller). Se a criança não acompanha a turma, não tem amigos ou faz com que os pais abram mão de certos programas com medo de escândalo, há algo errado. A família deve ser avaliada e orientada. “Dar limites também é prova de amor”, lembra Teixeira. 

Tática antimanha

Veja como enfrentar os momentos de maior tensão

  • Fique calma: você é o modelo que a criança tem de como lidar com sentimentos como raiva, frustração e tristeza. Se mantiver a serenidade, poderá ajudá-la a apaziguar os ânimos.
  • Identifique as emoções: procure reconhecer o que seu filho está sentindo. Peça que ele conte o que acontece. A causa da birra pode ser fome, cansaço ou algum incômodo.
  • Ignore o escândalo: mantenha-se firme, presente, mas não ceda aos desejos da criança. Se ela estiver se jogando no chão ou atirando objetos, segure-a até que se acalme.
  • Corrija o comportamento na hora: não caia na tentação de realizar o desejo do pequeno para terminar logo com o ataque e deixar para corrigi–lo depois. O tempo da criança é outro e, horas mais tarde, ela pode nem se lembrar do que aconteceu.
  • Dê à criança a oportunidade de escolher: deixe seu filho saber que você confia nele para tomar algumas decisões (a brincadeira, a roupa e até o lanche). Mas limite as opções ao que agrada a você.
  • Redirecione: no auge da birra, tente mudar o foco de atenção do pequeno. Por exemplo, ofereça um copo de água – é difícil chorar e beber ao mesmo tempo –, coloque a música preferida ou mostre um objeto interessante.
  • Forneça ferramentas: sugira (e ensine) maneiras de a criança se acalmar sozinha; por exemplo, respirar fundo ou até imitar um bicho – como um leão, quando estiver com raiva.
  • Evite excesso de estímulos: permita a seu filho ficar um pouco em paz. Algumas vezes, ele é superestimulado e, por isso, acaba fora de controle.
  • Use frases positivas: dar feedback sobre bons comportamentos funciona. Elogie, por exemplo, quando seu filho guardar os brinquedos no lugar certo. 
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