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Especialistas debatem sobre a importância da vacinação infantil

Muitos pais têm decidido não dar vacina aos seus filhos. Um time de especialistas debate esse tema polêmico

Por Vanessa de Sá (colaboradora)
Atualizado em 29 jul 2019, 14h24 - Publicado em 9 nov 2014, 22h00

No final de maio, a notícia caiu como uma bomba. Os casos de sarampo nos Estados Unidos atingiam o maior número já registrado em 20 anos, simplesmente porque é cada vez maior o número de pais que têm decidido não vacinar seus filhos. Na Europa, o quadro é parecido. Só em 2011, foram 26 mil casos da doença, decorrentes do mesmo motivo. Masnão são apenas os pais que têm engrossado o chamado movimento antivacina. Profissionais de saúde vêm defendendo a redução do número de vacinas (e/ou doses) e a revisão do calendário vacinal.

As razões para não vacinar as crianças são as mais variadas. Vão de crenças religiosas e filosóficas à crença de que as doses podem deixá-las doentes e alérgicas. A mais recente polêmica envolveu a vacina contra HPV, vírus que pode levar ao desenvolvimento de câncer de útero. Nos Estados Unidos, no Japão e no Reino Unido, entre outros países, pais vieram a público dizer que a vacina teria prejudicado suas filhas. Alguns alegavam até que teria sido a causa da morte de suas crianças.

No Brasil, que possui um dos mais bem-sucedidos programas de vacinação do mundo, o movimento antivacina ainda é pequeno, mas já começa a incomodar as autoridades de saúde. E os números são prova disso. Em 2010, a incidência de coqueluche entre crianças de 1 a 4 anos era de 0,5 caso a cada 100 mil habitantes. Dois anos depois, já havia saltado para 8,1 casos. O crescimento dos casos de sarampo também fez acender o sinal vermelho, pois, ao que tudo indica, a contaminação não se deu no país, mas no exterior, graças aos pais que se opõem à vacinação.

Será que há motivo para preocupação? As vacinas podem mesmo levar aefeitos colaterais graves? Nossas crianças tomam vacinas demais? Convidamos especialistas para discutir a questão.

O que controla o mercado de vacina? Nada!

“A vacinação passou a constar no rótulo de pais ou mães que se preocupam com a saúde dos filhos. Mãe zelosa é aquela que tem preenchidos todos os quadrinhos do cartão. Mas qual será o nível de conscientização das pessoas?

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Na saída de um posto de saúde, se perguntarmos que vacina a criança tomou, o que ouvimos geralmente é “não sei, acho que foram quatro”. Também verificamos que são poucos os profissionais de saúde que realmente estudam as vacinas. Eles estão programados para seguir protocolos, campanhas e metas de número de aplicações. Não há levantamento do grau de imunização realizado com relação ao real alcance da promoção da saúde.

Os fabricantes trabalham com um produto de uso universal e ainda contam com divulgação, propaganda e toda a logística para distribuição, transporte e armazenagem, além de profissionais que entregam e aplicam o produto. Ao fabricante resta fazer a fatura para receber os valores cobrados, em um mercado que controla as tecnologias e os preços em regime de cartel.

O que controla o mercado? Nada! Há seguidos artifícios para fazê-lo crescer. O mais usado é o aumento do número de doses necessárias. A ficha técnica da vacina contra hepatite B preconiza uma dose para se obter a imunização, mas as recomendações oficiais querem impor quatro. Para a poliomielite, doença com certificado de erradicação, os trabalhos indicam três doses no máximo. Mas a minha experiência como médico tem me mostrado que crianças de 7 anos chegam a ter seteou mais doses registradas no cartão de vacinação. Isso não representa um enorme custo excedente?”

Rui Nogueira é especialista em clínica médica pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e autor do livro O Lado Desconhecido das Vacinas (Editora Doc)

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A vacinação continua sendo uma difícil decisão para os pais que querem, acima de qualquer coisa, garantir a saúde de seu filho

“Pela dificuldade de prever a reação de cada um à doença ou à vacina, aimunização continua sendo uma difícil decisão para os pais que querem, acima de qualquer coisa, garantir a saúde de seu filho. É muito importante entender que qualquer prevenção ou tratamento com o único objetivo de eliminar o agente infeccioso (por exemplo, por meio de vacinas ouantibióticos) não é suficiente para gerar saúde.

A decisão de vacinar, e de quando e como fazê-lo, sempre vai depender de uma avaliação dos respectivos riscos. É indiscutível o aumento de doenças alérgicas e crônicas em nossas crianças nos últimos anos, ao mesmo tempo em que diminuíram as chamadas doenças comuns da infância. Será que essas doenças não teriam um papel importante no desenvolvimento do sistema imunológico?

Sou favorável à monovacinação – aplicar uma vacina de cada vez -, pois, assim, podemos avaliar a resposta do corpo às substâncias administradas (microrganismos mortos, vírus atenuados, mercúrio, alumínio, formaldeído, antibióticos, entre outras), além de evitar a sobrecarga ao organismo infantil. Atualmente, um bebê chega a receber de cinco a oito vacinas de uma só vez. Também é importante lembrar que não devemosvacinar em caso de doença aguda ou na presença de doenças alérgicas, principalmente às proteínas. A imunização deverá ser realizada distante de outros acontecimentos que possam alterar a saúde da criança, como desmame, entrada na escola e início da dentição. Em um bebê prematuro, deve ser respeitada a idade neurológica. O ideal seria que as crianças fossem vacinadas após o primeiro ano de vida, quando seu sistema imunológico está mais desenvolvido.

É da maior importância uma revisão do calendário vacinal. Muitas vacinas poderiam ser realizadas mais tarde, como a da hepatite B, atualmente obrigatória e ministrada nas primeiras horas de vida. Os pais deveriam se informar sobre os benefícios e os riscos de cada vacina e sobre os perigos da doença que desejam evitar por meio da vacinação e poder optar por recorrer à imunização ou não.”

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Liliane Azambuja é pediatra homeopata, docente do curso de especialização em homeopatia para médicos da Fundação Centro Gaúcho de Estudos e Pesquisa em Homeopatia (CEGEPH) e criadora da comunidade virtual Tem Vacina D+

Os pais têm o direito de negar as vacinas a seus filhos?

“Devem-se levar em conta os custos que a não imunização pode acarretar para a sociedade. Por exemplo, quando são diagnosticados casos de sarampo adquiridos no exterior, geralmente em pessoas não vacinadas, amanutenção do controle da doença torna necessárias medidas de bloqueio, que envolvem a vacinação de milhares de pessoas. Não seria, portanto, justificável a vacinação obrigatória, ao menos contra algumas doenças altamente contagiosas e de elevado risco de mortalidade (como a varíola), com sanções para os desobedientes?

Alguns pais não vacinam seus filhos por razões filosóficas ou religiosas. Outros, pelo receio de reações adversas e por não estarem convencidos de que a relação benefício-risco das vacinas seja favorável. Há, ainda, os que deixam de vacinar simplesmente por displicência. Quanto às crianças, a questão é muito complexa. Se as vacinas são tão benéficas, como repetidamente se enfatiza, recebê-las não é um direito básico delas? Têm os pais o direito de negar as vacinas a seus filhos? O direito de os pais decidirem pelos seus filhos deriva de um dever: o de protegê-los.

Estou convencido de que, ao se identificarem situações em que sistematicamente as vacinas não são aplicadas por desleixo oudisplicência dos pais, essa situação, em defesa da criança, deve ser comunicada ao Conselho Tutelar ou ao Juiz da Vara da Infância e da Juventude correspondente.”

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Gabriel Oselka é pediatra, coordenador do Centro de Bioética do Cremesp e presidente da Comissão Permanente de Assessoramento em Imunizações da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo

Ao optar por não vacinar, as famílias colocam em risco nãoapenas seus filhos, mas também todos os que têm contato com eles

“No caminho inverso a todas as evidências científicas, que demonstram aenorme importância das vacinas, há grupos que assumem essa posição contrária com base em boatos, teorias de conspiração e práticas filosóficas e religiosas. Infelizmente, alguns profissionais de saúde compartilham dessas crendices e orientam, de maneira equivocada, as famílias a não vacinarem seus filhos. No entanto, todo o conhecimento científico acumulado confirma que o risco de a pessoa desenvolver uma complicação séria em decorrência da vacina é bem menor do que o de contrair a doença que ela previne.

É importante lembrar que, ao optar por não vacinar, as famílias colocam em risco não apenas seus filhos, mas também todos os que têm contato com eles, como os colegas de escola. Exemplos de reintrodução de doenças preveníveis, como o sarampo, a partir da redução da cobertura vacinal – em parte produzida pela ação de grupos antivacina – já foram observados em países da Europa e nos Estados Unidos. Se o calendário de vacinação adequado não for mantido, pode ocorrer um crescimento da incidência dessas doenças, o que, consequentemente, trará danos incalculáveis à saúde da população.”

Jarbas Barbosa da Silva Jr., médico epidemiologista com doutorado em saúde coletiva, é secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde

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Milhões de doses são dadas, e a esmagadora maioria apresenta pouco ou nenhum efeito colateral

“A vacinação é um meio acessível e seguro de proteger comunidades inteiras de doenças. Compreensivelmente, a segurança da vacina recebe mais atenção do público do que a sua eficácia. Porém, as vacinas são desenvolvidas de acordo com os mais altos padrões de segurança e estão sujeitas a uma intensa fiscalização por parte das autoridades reguladoras e oficiais de saúde pública. Hoje, elas têm um excelente histórico de segurança, e a maior parte do medo em relação a elas tem se mostrado infundada. Preocupações equivocadas em alguns países têm levado àdiminuição da cobertura vacinal, causando o ressurgimento de algumas doenças infecciosas, como sarampo e coqueluche. Infelizmente, crianças que não foram imunizadas ainda morrem de enfermidades que podem ser prevenidas.

Vacina é um medicamento e, como outros medicamentos, tem riscos e benefícios. Embora altamente eficaz, nenhuma vacina previne 100% das doenças ou é 100% segura em todos indivíduos. No entanto, milhões de doses são dadas em todo o mundo, e a esmagadora maioria apresenta pouco ou nenhum efeito colateral. Reações vacinais graves são extremamente raras, mas, claro, podem ocorrer. Dito isso, os pais devem saber que o risco de ser prejudicado por uma vacina é muito menor do que o risco de ter uma doença grave e do que o risco de morte decorrente dela. A vacinação é um passo importante para que as crianças tenham um começo de vida saudável.”

Norman Baylor foi diretor do Departamento de Pesquisa em Vacinas da Food and Drug Admistration (FDA), entre 2005 e 2011, e atualmente é presidente do Biologics Consulting Group

 

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