Ensaio fotográfico destaca a beleza única de crianças transgênero
Fotos que mostram crianças adoráveis com uma consciência forte
Nos últimos 12 anos, a fotógrafa holandesa Sarah Wong vem registrando as experiências de um grupo de crianças que fizeram – ou estão no processo de fazer – transição de gênero.
Wong capturou imagens de participantes de um programa da Universidade VU, de Amsterdã, que apoia crianças que têm disforia de gênero. Várias das crianças tomaram bloqueadores para atrasar os efeitos da puberdade até que elas decidam como querem viver suas vidas. As fotos foram feitas nas casas das crianças, na escola, em aulas de balé – lugares em que elas se sentiam mais à vontade.
Wong compartilhou as imagens com o mundo por meio de “Inside Out: Portraits of Cross-Gender Children” (Do avesso: retrato de crianças transgênero, em tradução livre), publicado em 2011. Ellen de Visser, jornalista especializada em medicina do jornal Volksrat, escreveu o texto do livro.
O The Huffington Post conversou com Wong esta semana sobre as crianças do livro e sua experiência de documentar a experiência delas.
Menina no Ballet, 2005
The Huffington Post:
Sarah Wong: São crianças holandesas transgênero de 5 a 17 anos. Venho as fotografando desde 2003, a pedido dos pais. Trabalhei como fotógrafa na área de saúde e tinha acabado de concluir um livro sobre um hospital infantil. Conheci as crianças transgênero, e foi muito tocante.
Menina no Ballet, 2010
Menino com traje de banho, 2009
The Huffington Post: Qual foi seu objetivo/intenção ao fotografar essas crianças?
Sarah Wong: Meu objetivo era ajudá-las a encontrar a felicidade. Queria que os retratos as empoderassem – que não fossem uma abordagem sensacionalista. Não um menino de vestido ou uma menina com uma bola de futebol. Quando as pessoas viam os retratos, diziam: “Que crianças adoráveis, mas quem são?”
As fotos mostravam crianças adoráveis com uma consciência forte: eis quem eu verdadeiramente sou. No fim das contas somos todos iguais – almas que querem ser felizes e viver com compaixão.
Menino com treinador de boxe, 2010
Menina, 2003
Garoto, 2007
The Huffington Post: Como foram as experiências dessas crianças na clínica?
Sarah Wong: As crianças tiveram ótimas experiências na VUmc, por causa dos bloqueadores de puberdade. O maior pesadelo de uma criança transgênero é que seu corpo cresça na direção errada. Os meninos não querem seios e as meninas não querem barba. Os bloqueadores de puberdade são um alívio e dão um tempo a mais para pensar. E as crianças podem crescer como adolescentes “normais”.
Garoto, 2009
Menina, 2015
The Huffington Post: Por que, como fotógrafa, é tão importante dar visibilidade a essas histórias e experiências?
Sarah Wong: Seu trabalho como artista pode ter impacto importante na opinião pública. Sempre me interessei muito por identidade e compaixão, e às vezes me sentia mais psicóloga que fotógrafa.
Percebi muito cedo, aos 21 anos, na faculdade de artes, que as fotos podem ter grande impacto na opinião pública. Fui muito inspirada por Robert Capa e Henri Cartier-Bresson, fotógrafos da agência Magnum.
É muito importante que a sociedade veja essas imagens – não há nada fora do comum com crianças transgênero. De novo, no fim das contas somos todos muito parecidos: somos almas que querem viver felizes e dar sentido às nossas vidas e às dos outros.
Foi durante esse projeto que repentinamente percebi por que essas fotos são incrivelmente importantes para as crianças. As imagens mostram quem elas realmente são. As fotos são quase provas jurídicas para elas.
Em geral, fotos têm a ver com as emoções e o ego do artista. Bem, durante esse projeto meu ego encolhia a cada sessão de fotos, porque eu estava a serviço das crianças. E gostei muito do fato de que as imagens tinham um propósito maior. Infelizmente, nunca pude mostrá-las num museu, por causa da integridade das crianças. Agora que elas estão mais velhas, estou procurando um lugar. A sociedade e a opinião pública mudaram.
Menina, 2003
Menina, 2009
Princesa no cavalo branco, 2012
The Huffington Post: O que você espera que as pessoas tirem dessas fotos?
Sarah Wong: Eu realmente espero que a audiência do The Huffington Post tire das fotos um olhar de compaixão. Isso significa ser capaz de olhar com o coração – livre de emoções pessoais.
Se você se emociona com o sofrimento do outro não consegue empoderá-lo. O primeiro médico a ajudar essas crianças também foi um pioneiro. Nos finais de semana, ele era diácono de uma igreja. Ele queria ajudar transgêneros por que os via com compaixão – não como médico, mas como ser humano.
Quadro vivo da borboleta, 2010
Quadro vivo da borboleta, 2012
Matéria publicada em brasilpost.com.br