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Contra Trump, Michelle Obama faz discurso poderoso sobre violência sexual

"Não importa qual o seu partido - Democrata, Republicano, Independente - nenhuma mulher merece ser tratada assim. Nenhuma de nós merece esse tipo de abuso".

Por Ligia Helena
Atualizado em 15 abr 2024, 08h34 - Publicado em 14 out 2016, 06h17
Reprodução / YouTube (/)
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A corrida presidencial nos EUA está acirrada. De um lado, Hillary Clinton; do outro, Donald Trump. Ambos lutando por votos na eleição que acontecerá dia 8 de novembro. A campanha está repleta de acusações e escândalos, e o mais recente diz respeito ao comportamento violento de Trump em relação às mulheres.

Depois que divulgaram uma gravação em que o candidato republicano se gabava de “agarrar as mulheres pela b**eta”, mais e mais acusações de assédio sexual surgiram na mídia. E na noite desta quinta-feira (13) foi a vez da primeira-dama dos EUA Michelle Obama falar publicamente o que estava engasgado na garganta de muitas mulheres pelo mundo.

Em um discurso emocionado durante um evento de campanha de Hillary Clinton, Michelle chamou a atenção do mundo para os absurdos que têm sido ditos e feitos contra as mulheres por Trump ao longo da vida e da campanha. Em um dos momentos mais fortes, Michelle diz que sente pessoalmente os ataques de Trump, assim como todas as mulheres que já foram assediadas e atacadas sexualmente.

>>> Leia também: 16 coisas absurdamente misóginas ditas por Donald Trump

Michelle reforça que as palavras dela não são sobre política, mas sim sobre a dignidade humana, para que anos de luta das mulheres não sejam retrocedidos. E, ao final, ela diz que essa é a hora de darmos um basta ao jeito degradante que as mulheres têm sido tratadas.

Leia abaixo uma tradução livre do trecho mais marcante do discurso de Michelle Obama, e assista à íntegra (em inglês) no fim da página:

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“O fato é que, nessas eleições, temos um candidato a Presidente dos Estados Unidos que, ao longo da vida e da campanha disse coisas a respeito das mulheres que são tão chocantes, tão degradantes que eu simplesmente não vou repetir aqui. E na semana passada vimos esse candidato se gabando de abusar sexualmente de mulheres. E eu não posso acreditar que estou dizendo que um candidato a Presidente dos Estados Unidos se gabou de abusar sexualmente de mulheres.

E eu tenho de dizer que não consigo parar de pensar nisso. Me atingiu tão profundamente, de um jeito que eu não podia prever. Então, enquanto eu adoraria poder fingir que isso não está acontecendo, vir aqui e fazer meu discurso normal de campanha, seria desonesto e falso que eu passasse para o próximo tópico, como se o que aconteceu fosse apenas um pesadelo.

Isso não é algo que possamos ignorar. Não é algo que possamos varrer para debaixo do tapete como outra nota de rodapé desagradável em um triste período eleitoral. Porque isso não foi apenas uma “conversa lasciva”. Isso não foi uma brincadeirinha de vestiário masculino. Isso era um indivíduo poderoso falando livremente e abertamente sobre comportamento sexual predatório, e de fato se gabando de beijar e apalpar mulheres, usando uma linguagem tão obscena que muitos de nós se preocuparam com seus filhos ouvindo isso quando ligamos a TV.

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E o pior é que agora fica bem claro que não foi um incidente isolado. É um dos inúmeros exemplos de como ele tratou as mulheres durante toda a vida. E eu tenho que dizer que eu escuto isso tudo e sinto pessoalmente, e eu tenho certeza que vários de vocês também, especialmente as mulheres. Os comentários vergonhosos sobre nossos corpos. O desrespeito a nossas ambições e intelecto. A crença de que você pode fazer o que quiser com uma mulher.

É cruel. É assustador. E a verdade é que dói. Dói. É como aquele sentimento horroroso que você tem quando está andando na rua, pensando nos seus problemas, e um cara grita palavras vulgares sobre seu corpo. Ou quando você vê que aquele cara no trabalho chega um pouco perto demais, encara um pouco mais e faz você se sentir desconfortável na própria pele.

É aquele sentimento de terror e violação que muitas mulheres já sentiram quando alguém as agarrou, ou forçou a terem uma relação, e elas disseram não, mas eles não escutaram – algo que sabemos que acontece nas universidades e em inúmeros outros lugares todos os dias. Nos lembra de histórias que ouvimos de nossas mães e avós sobre como, na época delas, o chefe podia falar e fazer o que quisesse com as mulheres no escritório, e embora elas trabalhassem tão duro, superassem cada obstáculo para provar que eram capazes, nunca era suficiente.

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Nós achávamos que tudo isso era passado, não achávamos? E tantas trabalharam por tantos anos para acabar com esse tipo de violência, abuso e desrespeito, mas aqui estamos em 2016 e estamos ouvindo exatamente as mesmas coisas todos os dias ao longo da campanha. Estamos nos afundando nisso. E todas estamos fazendo o que as mulheres sempre fizeram: tentando manter a cabeça acima da água, tentando superar isso, tentando fingir que isso não nos incomoda, talvez porque achemos que admitir o quanto dói faça com que nós mulheres pareçamos fracas.

Talvez estejamos com medo de ser assim vulneráveis. Talvez tenhamos crescido acostumadas a engolir essas emoções e ficarmos quietas, porque já sabemos que as pessoas geralmente acreditam mais nas palavras deles do que nas nossas. Ou talvez nós não queiramos acreditar que ainda há pessoas lá fora que pensam tão pouco a respeito de nós mulheres. Muitos estão tratando deste caso como outra manchete do dia, como se nossa indignação fosse exagerada ou injustificada, como se isso fosse normal, só política como sempre foi.

Mas, New Hampshire, que fique claro: isso não é normal. Isso não é a política como sempre foi. Isso é uma desgraça. É intolerável. E não importa qual o seu partido – Democratas, Republicanos, Independentes – nenhuma mulher merece ser tratada assim. Nenhuma de nós merece esse tipo de abuso.

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E eu sei que é uma campanha, mas isso não é sobre política. É sobre decência humana básica. É sobre certo e errado. E nós simplesmente não podemos mais suportar isso, ou expor nossas crianças a isso – nem por um minuto, que dirá por quatro anos. Agora é a hora de nos levantarmos e dizermos chega. Isso tem que acabar agora.”

 

 

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