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Compaixão: a prática para tornar a vida melhor

Ela não precisa estar necessariamente associada à fé para ser exercitada. A prática funciona como um contraponto à intolerância, ao ódio e ao egoísmo

Por Liliane Prata Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 4 jan 2018, 14h30 - Publicado em 4 jan 2018, 13h07

Na universidade americana Stanford, uma das mais prestigiadas do mundo, há um programa de oito semanas para cultivar a compaixão. Cursos específicos são destinados a desenvolvê-la também na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Na pós-graduação em medicina integrativa do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein, na capital paulista, ela é tema de estudos, com longas bibliografias elencando autores que são referência mundial no assunto. Há muitos livros sobre compaixão para o público leigo, e várias empresas, de diferentes setores, estão incluindo o tema no cardápio de palestras oferecidas a funcionários.

Por que o termo, tão antigo que remete à Bíblia, à misericórdia e ao perdão, vem despertando o interesse de tanta gente? “Penso que tem a ver com a situação da sociedade contemporânea”, afirma Marcelo Demarzo, médico que fundou e coordena o Mente Aberta, núcleo da Unifesp, e se tornou especialista em mindfulness.

O termo, em inglês, costuma ser traduzido como “atenção plena” e diz respeito a uma das técnicas de meditação mais estudadas pela ciência atualmente. Segundo os entrevistados, a atenção plena é o coração da compaixão. “Foram as pesquisas sobre mindfulness que abriram espaço para o interesse dos cientistas”, conta Demarzo. “Para que eu tenha uma atitude mais compassiva, preciso voltar a atenção para mim mesmo, ver de perto a maneira como manejo as emoções e quais padrões permeiam meus pensamentos.” Mas como viver isso na prática? Antes, é necessário esclarecer a ideia de compaixão.

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Não é piedade

Gabrielle Picholari, coach de propósito de vida e autora do e-book Autocompaixão: A Essência da Felicidade, esclarece que compaixão é bem diferente de empatia. “Ao ser empático, você sente a dor do outro, mas corre o risco de ser sugado por ela e terminar exausto. Não raro, pode acabar decidindo cortar aquela pessoa ‘negativa’ da sua vida por não conseguir lidar com ela sem sofrer.” A coach dá o exemplo de alguém se afogando. “Se você sente agonia, isso é empatia; está sofrendo junto. Compaixão representa a disposição para ajudar, mas com autocuidado, o que leva você a refletir se tem condição de nadar até o outro ou se os dois morrerão afogados. Em uma situação assim, é necessário olhar para os próprios recursos internos e agir de acordo com eles, sem prejuízo, observando os limites e oferecendo apenas o que se tem para dar.” Portanto, sinta empatia, mas não fique nesse degrau. Vá além, tendo em mente o autocuidado e avançando, desse modo, para a compaixão.

Na verdade, ela começa na forma como tratamos a nós mesmas. A americana Kristin Neff – que encabeça as reflexões na área e criou o Programa Mindful Self-Compassion – ensina que a autocompaixão é o ponto de partida. “O grande perigo é confundir o conceito com ‘coitadismo’ ou falta de autocrítica”, alerta ela. “Não se trata de dizer ‘pobre de mim’. O sensato seria pensar que está difícil para todos nós.” Kristin defende uma maneira muito mais conectada de cada um se relacionar consigo mesmo. Por isso, a atenção plena é fundamental. “Quando estamos cientes do nosso sofrimento, nós o vemos como ele é, não o ignoramos. Mas não exageramos.” Assim, ter compaixão por si mesmo é estar atento aos pensamentos e emoções, criticando-se, quando necessário, de maneira encorajadora, gentil e construtiva, jamais maldosa e depreciativa. Gabrielle resume: “Quando consigo ser bondosa comigo mesma, sou com os outros também”.

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A administradora Adriana Kreibich da Costa, 42 anos, coloca isso na rotina. Ela fundou e preside os Trapamédicos, grupo que conta com 70 voluntários para alegrar, em hospitais, pacientes de todas as idades e, na Casa de Apoio, crianças com câncer e paralisia. Adriana desenvolve seu trabalho em Blumenau (SC). No processo seletivo, adota como critério a observação da saúde emocional, a demonstração de equilíbrio dos candidatos. “Muitos querem ajudar, mas estão com pena de si próprios, revoltados ou passando por uma fase difícil e não durarão no posto”, considera.

É mais fácil exercitar o sentimento na relação com aqueles que amamos. O desconhecido representa o maior desafio. O psicanalista paulistano Christian Dunker, autor de Reinvenção da Intimidade: Políticas do Sofrimento Cotidiano (Ubu Editora), reforça a distinção entre um sentimento que nos coloca em posição superior ao outro e um que respeita a dor dele. “Se me sinto culpado pelo que tenho ou possuo e isso me move a resolver a própria culpa me ‘obrigando’ a ajudar os menos afortunados, infiltra-se em minha ação uma determinação muito mais egoísta do que estou disposto a reconhecer”, diz ele. “Ajudar o outro para livrar-me da culpa é, afinal, uma forma de ação muito egoísta, não é?”, provoca.

Para o psicanalista, podemos saber que estamos nesse registro quando nosso sentimento desperta uma expectativa de ressarcimento ou contrapartida, ainda que providenciado pelo destino ou que se situe fora deste mundo, em outra vida. No lugar de criar um muro, mais vale estabelecer (ou reconhecer) uma aproximação. “Compartilhar uma experiência torna-se, então, um tributo à própria experiência, e não uma relação de comparação entre mim e o outro”, afirma. Tarefa difícil quando envolve desconhecidos, mas um alívio para nossa existência individual, que, ao abrir espaço para o acolhimento do outro, torna-se menos solitária e mais rica. Um verdadeiro antídoto para o ódio, que tanto contamina nosso tempo e nosso coração.

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Na prática

Marcelo argumenta que o processo é profundo e, no início, será mais eficiente com o auxílio de livros, cursos e coachs. Mas lembra que há vídeos e palestras disponíveis na internet e ensina um exercício simples e poderoso. “Nos momentos de angústia, repita mentalmente as frases ‘que eu esteja bem, que eu esteja feliz, que eu esteja em paz’.” Gabrielle sugere fazer uma lista de insatisfações e, na sequência, olhar para a própria vida, questionar o porquê de estar se sabotando, rever os medos por trás disso, enxergar seus talentos e o que tem de bom para oferecer ao mundo. “Isso dará sustentação a um diálogo interno mais gentil.” A especialista recomenda ainda ficar atenta ao que falamos de mau para nós mesmas ao fracassar. Gabrielle e Marcelo indicam a meditação para entrar em contato com as emoções mais profundas, de onde brotará a compaixão. Por 15 minutos, de olhos fechados, concentre-se na respiração, afastando delicadamente os pensamentos que surgirem.

Aline Ahmad, 38 anos, educadora, de Guarulhos (SP), considera ter encontrado na compaixão uma nova etapa de sua vida. “Eu culpava as pessoas que trabalhavam comigo, julgava o jeito delas, achava que não se esforçavam”, conta. “Passei a não ser tão dura, a respeitar o processo de cada uma e ouvir mais, nutrindo um interesse genuíno em colaborar. O curioso foi que, assim, além de harmonia, obtive resultados bem melhores.” O que a ajudou a operar a mudança foi justamente a meditação, em suas mais diversas técnicas – Aline acredita que todas acabam abrindo o coração para a compaixão. “Mas acho que o primeiro passo é anterior a esse. Talvez, no fundo, seja simplesmente estar disposta a colocar a energia a serviço do treinamento e da abertura.”

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