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Como preparar as crianças para serem inovadoras

O professor John Kao, criador da Edge Markers, que tem como objetivo catalisar o processo criativo de jovens e crianças, fala sobre a importância de estimular os filhos a perseguir seus objetivos.

Por Redação M de Mulher
Atualizado em 28 out 2016, 00h56 - Publicado em 19 Maio 2014, 22h00
Paula Montefusco
Paula Montefusco (/)
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As crianças estão cheias de energia emocional, paixão e curiosidade e ambiente à volta delas suprime isso.
Foto: Getty Images

Sabe aquela inércia que leva as pessoas a se acomodar em um emprego, carreira ou curso e ir levando a vida? John Kao nunca passou por isso. O americano mudou de carreira diversas vezes e diz que ainda não experimentou por todas as profissões e funções que gostaria de exercer. Filho de chineses, ele aprendeu desde cedo a misturar e equilibrar duas culturas completamente diferentes. “Quando saía da casa de meus pais pela manhã, deixava um mundo chinês para entrar no universo americano. Acho que isso estimulou o meu interesse em combinar as coisas”, lembra.

Assim, Kao seguiu pelos caminhos da música, da filosofia, da medicina e dos negócios. “Todas as minhas não carreiras podem ser muito diferentes no que diz respeito à técnica de funcionamento, mas não no propósito fundamental: procurar recursos para entender como a criatividade e a inovação podem ajudar a solucionar os problemas do mundo.” Para ele, a habilidade de gerar novas ideias é algo que todos temos. É o modus operandi do cérebro. “Mas, quando a ideia trazida pela criatividade tem uma razão de existir, aí, sim, é conhecida como inovação.”

Com a expertise de um professor de negócios de uma das universidades mais conceituadas do mundo, Harvard, Kao colocou os conhecimentos acadêmicos em prática e montou diversas startups. A última foi a Edge Makers, que tem como objetivo primordial catalisar o processo criativo de crianças e jovens. O site faz isso por meio de conteúdos – que podem estar em formato de vídeo, imagem ou texto – e permite a interação entre os inscritos. Funciona como uma ferramenta para estimular o raciocínio e a troca de experiências. “Nossa função é empoderar as crianças e dar apoio emocional e técnico para que elas lutem por inovações. Isso inclui diminuir a escravidão infantil no Nepal ou abrir uma empresa antes mesmo da puberdade.”

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Em entrevista à revista CLAUDIA FILHOS, o expert em inovação fala sobre como devemos estimular nossas crianças a serem inovadoras. Confira:

Qual é a missão da EdgeMakers?

Somos uma empresa jovem, com pouco mais de um ano. Acreditamos que os mais novos podem realizar coisas incríveis no âmbito dos negócios ou do aspecto social, fazendo a diferença no bem-estar da sociedade.

Como vocês atuam?

Verificamos que até hoje ninguém pegava o conhecimento – prioritariamente destinado às pessoas de 20 ou 30 e poucos anos – e dava às crianças e aos adolescentes. Então, criamos um suplemento para o sistema educacional tradicional, que pode ser online ou presencial. A modalidade online é gratuita para qualquer pessoa no mundo. Se ela estiver motivada a aprender, poderá incluir o conteúdo em seu histórico escolar. Não é exatamente um curso; é como se fosse um bufê: aqui, você tem conhecimento; ali, mídias sociais… Os elementos do conhecimento são apresentados como petiscos. Você pode colocar isso ou aquilo na sua grade curricular, porque é você que escolhe o que deseja aprender.

Por que focar nas crianças?

As crianças estão recheadas de energia emocional, paixão e curiosidade e, frequentemente, o ambiente à volta delas suprime tudo isso porque elas precisam ocupar seu tempo com coisas mais urgentes, como se preparar para entrar na faculdade, para passar em provas ou assumir responsabilidades de verdade. A paixão não é algo que tenhamos que procurar nos jovens, ela já está lá. Resta saber como aproveitá-la. Você tem que ligar a sua paixão ao seu objetivo. O objetivo é a estrela que você quer perseguir e tem a ver com aquela meta que você estabeleceu para si próprio e que é muito importante.

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Você pode nos dar algum exemplo de como essa paixão das crianças fez a diferença?

Vivienne é uma menina com a qual trabalhamos nos Estados Unidos. Ela tem apenas 9 anos e, depois de ver fotos de crianças que são escravas no Nepal, disse aos seus pais: “Quero resolver esse problema”. Eles responderam: “Ótimo, como você vai fazer isso?” E ela disse: “Vou vender limonada, porque é o que eu sei fazer. O meu objetivo é levantar 100 mil dólares e libertar 500 crianças”. Na placa da banca lia-se: “Pague o que seu coração mandar”. As pessoas pagavam um valor mais alto que o da limonada. Após algumas semanas, Nicholas Kristof, do jornal The New York Times, tuitou a história de Vivienne, que atraiu a atenção dos seus mais de 1 milhão de seguidores. Por fim, ela conseguiu juntar a quantia pretendida, continuou fazendo campanha e arrecadando ainda mais capital. Nós ajudamos na divulgação da causa expondo a capacidade da própria Vivienne.

Qual é o papel dos pais nesse novo processo educacional?

Acima de tudo, os pais devem apoiar o filho e, ao mesmo tempo, permitir que ele realize tarefas e raciocínios para “chegar lá” por conta própria. Entrevistamos pais de crianças bem-sucedidas que alcançaram uma grande realização, mesmo com a pouca idade, e perguntamos como eles achavam que ofereciam apoio aos seus filhos. É com base no que surge nessas conversas que criamos nossas ferramentas.

Vocês disponibilizam programas para os pais também?

Haverá, em um futuro próximo, o Edgeparents.com. O material permitirá que os pais interajam com outras crianças e jovens ao redor do mundo sobre assuntos diversos. Pais e filhos também poderão trabalhar em um projeto juntos. O conteúdo não será igual ao destinado às escolas ou às pílulas com que os jovens montam sua grade curricular. Esses cursos oferecerão conhecimento para as duas partes e ajudarão a fortalecer o laço entre pai e filho que, na época da adolescência, é ainda mais complexo. O aprendizado pode ser a saída para que a criança ou o adolescente passem um tempo com a família em vez de jogar Minecraft ou brincar no iPad.

Qual é a participação da EdgeMakers nas escolas?

Oferecemos um pacote personalizado para cada escola. Um currículo que pode ser executado nas que ainda são analógicas e outro que é uma combinação de livros e plataforma digital. A experiência foi desenhada para existir um certo grau de flexibilidade na implementação, mas acreditamos que os seis temas – design thinking, empreendedorismo e startups, criatividade e inovação, proficiência digital, desenvolvimento de caráter e sustentabilidade – devem ser ensinados de maneira sistemática e consistente. Também estamos buscando um canal com os professores. Já está no ar o site Edgeteachers.com, que foi criado porque prevemos que haverá um movimento global de professores que queiram lecionar dessa nova maneira: aprendendo uns com os outros – e também com outras pessoas – em uma comunidade que compartilha conhecimento.

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Como você vê as instituições de ensino?

A educação necessita de uma mudança, porque não está preparando os jovens para o mundo de hoje, que é cheio de problemas e desafios. A única forma de enfrentá-los é com nossa capacidade de inovar. Por isso, os jovens precisam saber como se originam as ideias. Eles precisam ser flexíveis, saber como se comunicar e ter inteligência emocional para trabalhar em um ambiente global. O domínio digital também é fundamental, e eu diria que a maioria das escolas não faz quase nada nessas áreas. O que temos é um sistema de educação e formação para um mundo que está desaparecendo, um mundo de conformidade, que recompensa quem memoriza fatos. Eu não sou contra a educação tradicional, mas acho que a transformação desse sistema é uma necessidade urgente. É só repararmos na quantidade de jovens desempregados. Na Espanha, chega a 50%.

Como o Brasil entra nos seus planos? 

Já conduzimos minicursos em diversas escolas de São Paulo e vamos voltar daqui a alguns meses. Estamos trabalhando em parceria com uma empresa que fornece materiais e serviços educacionais e discutimos a possibilidade de fazer a nossa estreia em um endereço físico, uma escola nossa, no Brasil. Tenho uma sócia, a Thaís Alencar, que é brasileira, com grande experiência em gerência de projetos e design de interfaces educacionais para crianças. Ela vai capitanear o time pedagógico dessa escola brasileira comigo.
 

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