Coisas que as mulheres deveriam aprender com chefes homens
No reino das corporações, ralamos loucamente à espera do reconhecimento do chefe encantado
As diferenças de comportamento entre homens e mulheres no trabalho deveriam ser estudadas como parte do currículo das universidades. A ideia pode parecer politicamente incorreta, mas, se pensarmos bem, faz sentido. Afinal, é da compreensão de como as coisas de fato são que surgem a consciência do problema e as oportunidades de transformação. A autora da sugestão, meio a sério, meio de brincadeira, é a executiva Andrea Chamma, vice-presidente do Bank of America no Brasil, com quem conversei sobre o que as empresas em geral e as mulheres em particular poderiam fazer para acelerar o percurso feminino até os cargos de liderança. Se lembrarmos que temos a perspectiva de 100 anos pela frente até conquistar nossa metade das cadeiras, aprender na escola como e por que é assim pode ser muito útil.
O curso de “homês”, como Andrea se refere, bem-humorada, ao idioma que domina as corporações, ajudaria as mulheres a entender essa língua e a driblar o viés inconsciente que a mantém como padrão. E também pode fazer com que, pelo tempo necessário, saibamos nos comunicar por meio dela. “As regras de trabalho foram feitas por homens e para homens”, diz a executiva, formada pela Fundação Getulio Vargas. “Quando ocuparmos a nossa parte nas posições de comando, vamos poder estabelecer novas normas e inserir as competências femininas, que hoje já são muito valorizadas pelo mercado. Mas, para isso, temos que primeiro chegar lá.”
E, para chegar lá, temos que querer chegar lá. Parece óbvio, mas essa é a primeira grande questão (a aula inaugural do curso de
homês?): por que as mulheres não querem ser presidente das empresas? Andrea acredita que, por não termos um modelo feminino ancestral de liderança, nosso cérebro rejeita no inconsciente esse lugar desconhecido, ocupado por um personagem com o qual não nos identificamos.
“Carregamos uma cultura que mistura sofrimento e pensamento mágico: a Branca de Neve fica lavando o chão e a louça para sete e crê que, se fizer tudo direitinho, ganhará um príncipe salvador,” diz Andrea. No reino das corporações, essa situação corresponde a ralar loucamente à espera de que seu esforço será reconhecido e contemplado pelo chefe encantado. “Não pedimos, não levantamos a mão, não observamos com a devida atenção como agem aqueles que levam a melhor.”
A meu pedido, Andrea listou seis coisas que as mulheres deveriam aprender com os homens, particularmente com os americanos, que, não por acaso, inventaram o modelo de business que dá as cartas nas empresas.
1. Objetividade: saber o que quer e o que é preciso para conseguir isso.
2. Boa comunicação: falar e apresentar claramente suas ideias e seus planos.
3. Organização: estabelecer prioridades. 4. A arte do feedback: dar e receber, olho no olho, sem choro nem culpa.
5. Criar e seguir processos: ter uma metodologia para agir e avaliar.
6. Trabalhar com precisão: valorizar o conteúdo técnico, não ter dúvidas daquilo que sabe.
Peço uma dica pessoal e ela manda mais esta: “Pare de se autoflagelar. Errou? Estabeleça um prazo para se torturar; 24 horas no máximo. Depois, siga em frente”.
Isso é “homês” puro. E pode ser ótimo.