Anne-Marie Slaughter nos convida a redefinir prioridades
Para a autora, são necessárias mudanças significativas antes que as mulheres realmente possam ser consideradas iguais aos homens no mercado de trabalho
Em 2012 Anne-Marie Slaughter causou um alvoroço na internet após a publicação de um artigo onde defendia a ideia de que as mulheres ainda não podem ter tudo. No texto, ela explicou de maneira encantadoramente franca sua decisão de demitir-se do cargo de diretora de planejamento político de Hillary Clinton porque desejava passar mais tempo com os filhos adolescentes antes que eles fossem para a faculdade. “Eu apenas não posso olhar para trás em minha vida e perceber que eu perdi os últimos quatro anos em que meus filhos ainda estavam em casa. Isso não é viver plenamente”, afirmou.
Após mais de três milhões de visualizações, Slaughter logo se estabeleceu como uma voz influente no debate da política de gênero nos Estados Unidos. Os comentários da autora e sua decisão levantaram questões sobre as expectativas profissionais femininas e a situação do mercado de trabalho. E são justamente nesses questionamentos que a autora se debruçou para escrever seu novo livro, Unfinished Business, um belo manifesto pela igualdade de gênero.
No livro, a proposta da autora é incitar uma discussão para acabar de vez com algumas meias-verdades que frustram muitas mulheres – entre elas a de que a missão de conciliar perfeitamente a carreira e a família só depende de nós mesmas.
Não é à toa que existam raros exemplos de mulheres bem sucedidas em cargos de liderança e influência que conseguem manter o malabarismo da carreira e vida doméstica sem grandes sacrifícios. O abandono do trabalho é socialmente visto como fracasso, mas talvez seja a hora de finalmente reconhecermos que a carreira de uma mulher pode estar envolvida por muitas expectativas irrealistas.
No livro, Anne-Marie aponta que no cenário atual mães nunca conseguirão se igualar de fato aos colegas do sexo masculino. E o grande vilão é o próprio mercado de trabalho, que permite que as empresas ofereçam ambientes de trabalho pouco ou nada hospitaleiros para as mães e gestantes. Até quando levar os filhos ao médico ou participar de reuniões escolares será visto como atitude prejudicial à carreira? Um sistema de trabalho que exige que seus relacionamentos sejam colocados em segundo plano pode mesmo ser positivo?
Na obra, a autora questiona ainda a desobrigação das empresas americanas em fornecer às funcionárias licença maternidade remunerada. É difícil falar de equilíbrio entre vida pessoal e trabalho quando se exige que o trabalho seja vivido 24h por dia. O sistema favorece a crise familiar. O período pós-licença também precisa ser revisto com atenção. Flexibilidade é a chave para dar às mulheres condições reais de conciliar ambições profissionais e vida familiar.
“As empresas sofrem com uma imensa perda de talentos porque não podem atender às responsabilidades familiares dos funcionários. Eles contratam mulheres realmente talentosas e depois as perdem porque não conseguem encontrar maneiras de mantê-las produtivas”, explicou a autora em entrevista ao Business Insider.
Claro que as soluções não são tão simples assim. Elas começam com reflexões profundas sobre as próprias expectativas para o futuro e envolvem conversas francas com nossos parceiros e empregadores. Afinal, o jogo de equilíbrio não é uma exclusividade feminina. “Estes são problemas sociais, problemas no local de trabalho e problemas de casal”, diz ela.
Graças à luta de nossas mães e avós, nossa geração é a mais presente no mercado de trabalho. Para Anne-Marie, chegou a nossa vez de arregaçar as mangas e lutar por um mercado de trabalho que atenda, de fato, às nossas necessidades.