Amarração para o amor
Na nova coluna da Marcela Leal, a obsessão amorosa e o preço que podemos pagar
Sandra era apaixonada por um cara do trabalho chamado Marcelo. Ela não sabia nada sobre ele, trabalhavam em setores diferentes e ela era nova na empresa. De vez em quando, eles se encontravam no café e, a cada encontro, o interesse dela era maior, o dele nem tanto.
Com o tempo, Sandra coletou informações a respeito de Marcelo com os colegas: estava recém-separado, tinha um filho pequeno e morava na Mooca. Durante o expediente, Sandra sempre dava um jeito de encontrar com Marcelo; no café, no elevador, na saída, e recebia sempre um “Oi!” simpático dele, porém, infelizmente, desprovido de qualquer outra intenção.
Sandra descobriu com uma amiga da empresa que Marcelo era taurino com ascendente em sagitário. Também stalkeou Marcelo pelo Favebook, claro, e descobriu onde ele fazia aula de tênis. Sim, Sandra estava obcecada: “Será que Marcelo está saindo com alguém? Será que ele é gay? Por que ele não me dá bola?”. E, em meio a essas divagações, um investimento de três meses focados neste homem, pensando neste homem e sonhando com este homem se passaram e nada de Marcelo se interessar por ela.
Um dia, Sandra enfrentou sua timidez e resolveu ser clara: “Marcelo, que tal um chope hoje depois do expediente?” . E Marcelo secamente respondeu: “Nossa, que legal! Pena que hoje já tenho compromisso. Valeu!”. O sangue de Sandra subiu todo pra cabeça. Ela estava decidida a conquistar o moço, afinal era uma mulher bonita e bastante paquerada.
Inconformada e desgraçada da cabeça, Sandra resolveu tomar uma atitude radical do tipo “partir pra ignorância”. Foi a um Pai de Santo e pediu para fazer uma amarração: “Se vira, amigo. Eu quero esse homem!”. Ela fez um cheque de três mil reais para que o tal Pai de Santo comprasse o “material” para o trabalho e foi embora. “Agora vai!”, pensou.
No dia seguinte, tudo continuava como antes, exceto pelo fato de que Marcelo passou pela porta de sua sala e deu um “Bom dia!”. Nada mal, mas nada bom também. Três dias depois, porém, Marcelo a convidou para finalmente tomarem um chope. Sandra estava radiante, pois a tal amarração tinha funcionado. Os santos e entidades estavam dispostos a fazer Sandra feliz, pelo menos era o que pensava.
Na mesma noite, os dois ficaram juntos e dormiram juntos. Um sonho! Marcelo foi carinhoso e perfeito com Sandra. Tudo mudou, realmente. Marcelo até ligou no dia seguinte… E em todos os outros dias da semana também. E em pouco tempo ele já estava lhe cobrando coisas e querendo saber com quem ela falava pelo Whatsapp e em dois meses ele se transformou num MALA.
Sandra voltou ao Pai de Santo e pediu para que ele desfizesse a amarração: “Não é possível!”, o Pai de Santo respondeu. “Peça para as entidades o direcionarem pra outra mulher! Ligue para as entidades agora e fale pra elas que eu pago o dobro. Posso pagar uma viagem pra Disney pras entidades pra elas tirarem umas férias depois!”. O Pai de Santo falou que com estas coisas não se brinca, pedido feito é pedido aceito. Ela não queria o homem? Lá estava ele ligando mais uma vez enquanto ela estava na consulta.
O homem que Sandra idealizou não era esse. E, muito provavelmente, ele sempre foi esse xarope, com amarração ou sem. Sandra teimava em encaixar qualquer um nos seus sonhos, teimava em encaixar o que ela acreditava como perfeito em qualquer um que conhecesse. Bastava cismar com alguém e lá estava o rapaz em cima de um cavalo branco e ela, com um buquê na mão. Provavelmente, um dia Sandra vai aprender a fluir com o Universo e entender que o melhor para ela não é ela que decide. Simplesmente flui.
Marcela Leal é humorista e escreve esta coluna duas vezes por mês. Para falar com ela, clique aqui!