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“A melhor coisa que podemos fazer é oferecer aos filhos amor incondicional”

Julie Lythcott-Haims, autora de How to Raise an Adult, falou a CLAUDIA com exclusividade

Por Bruna Nicolielo (colaboradora)
Atualizado em 27 out 2016, 22h29 - Publicado em 16 jan 2016, 07h00
Getty Images
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Autora do recém-lançado livro How to Raise an Adult, (em tradução livre, “Como criar um adulto”), Julie Lythcott-Haims, ex-reitora da Universidade de Stanford, observou em uma década no cargo que, a cada ano, os calouros eram mais brilhantes, mas menos capazes de cuidar deles próprios. Seus responsáveis, por sua vez, foram se tornando mais e mais intrometidos. “Dar liberdade aos filhos significa tolerar um pouco de incerteza em troca de ensinar as habilidades de que eles precisam para ser competentes e confiantes”, afirma ela, que teve a ideia para o livro quando, depois de um dia atendendo pais ansiosos e jovens sem iniciativa, se surpreendeu cortando o bife para o próprio filho, então com 10 anos – que, claro, já tinha condições de fazê-lo sozinho. Será que aa ânsia de proteger as crianças, estamos criando para o futuro adultos dependentes, sem iniciativa e incapazes de lidar com frustrações? Veja o que a profissional acha sobre isso.

Pais superprotetores são todos iguais?

Não. E no livro eu me concentro em três comportamentos mais comuns: a superproteção, de quem acredita que o mundo é assustador, inseguro e imprevisível e que, portanto, é preciso evitar todas as coisas ruins, em vez de preparar as crianças para enfrentá-lo; a intromissão, de pais que acreditam saber o que é melhor; e aquela na forma da resolução de problemas, daqueles que fazem muito em nome dos filhos. Em Stanford, vi jovens adultos que, de tão dirigidos, acabaram se sentindo forçados a escolher determinado curso universitário com base nas expectativas da família. Também acompanhei outros que pareciam satisfeitos por ter quem resolvesse tudo por eles, inclusive as atividades escolares, e assumisse tarefas como ficar de olho nos prazos de entrega de trabalhos, solicitar informações da secretaria e até mesmo contestar resultados de provas. Eu me perguntava se algum dia aqueles estudantes seriam capazes de se tornar adultos.

Que conselhos daria às mães que tentam compensar o excesso de trabalho com superproteção?

Todos queremos que nossos filhos sejam bem-sucedidos e felizes. Para ajudá-los nisso, devemos nos concentrar no desenvolvimento de seu caráter e de seus valores. Enquanto os pais se preocupam em preencher o tempo da prole com aulas de piano, dança e idiomas, paradoxalmente, parecem não ter muito interesse nos sentimentos, desejos e nas experiências dela. Isso leva os filhos a sentir que só valem a pena como seres humanos quando atendem às expectativas. Então, eis meu conselho: a melhor coisa que podemos fazer é oferecer aos filhos amor incondicional, o que significa mostrar que eles são amados porque existem, não por causa de uma nota ou realização. E precisamos ensinar mais e mais competências à medida que amadurecem. Vamos embora um dia e é importante ter certeza de que eles podem fazer sozinhos as tarefas básicas da vida, desde acordar, vestir-se e alimentar-se até se responsabilizar por seus pertences, tarefas e prazos, trabalhar, administrar uma casa e ter relacionamentos saudáveis. Eles não adquirem as aptidões e a confiança para ser adultos em um passe de mágica – a infância deve ensinar-lhes as coisas que precisam saber para ser adultos um dia.

Quais são os efeitos do excesso de interferência dos pais?

Estudos mostram que crianças criadas por pais que fazem tudo por elas têm mais probabilidade de apresentar ansiedade e depressão. Para desenvolver um saudável senso de si próprio, é preciso ver que seus esforços levam a resultados. Por isso, mesmo quando agem com boas intenções, os pais que planejam, decidem, ajudam e resolvem problemas pelos filhos os privam da oportunidade de desenvolver essa noção de si mesmos.

Como os pais podem identificar que estão superprotegendo sua prole?

Fique atento à sua linguagem. Dizer “nós” ou “nosso trabalho escolar” é sinal de que você está se relacionando com seu filho de maneira não saudável. Preste atenção nas suas interações com outros adultos da vida dele, como professores e treinadores de futebol. Discutir com eles é outro sinal preocupante. Você vive com medo? Você se preocupa tanto com o paradeiro ou bem-estar de seu filho que se mantém em contato constante com ele? Ou está tão obcecada com a educação que sente que ele não será bem-sucedido se não for sempre o primeiro da classe? Essas atitudes podem fazer uma criança ou jovem adulto se sentirem invadidos e ensiná-los a simplesmente reagir e responder para você em vez de aprender como se comportar responsavelmente no mundo. Pense no que você era autorizado a fazer na sua infância (como brincar na rua) que não permite que seu filho faça. Sim, os tempos mudaram, mas as crianças ainda devem aprender por si próprias, seja a preparar uma refeição simples, a comprar em uma loja, seja a circular pela cidade. Pergunte a si mesma como você pode dar mais liberdade a cada ano. Isso significa tolerar um pouco de incerteza em troca de ensinar as habilidades de que seu filho precisa para ser competente e confiante.
 
* O livro sairá no Brasil pela Rocco ainda no primeiro semestre de 2016
 

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