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A emocionante e inspiradora história de Florence Nightingale

A inglesa que mudou hábitos, desafiou a sociedade e dedicou a vida aos doentes. Por isso seu aniversário é o Dia Mundial da Enfermagem

Por Ana Claudia Paixão
Atualizado em 12 Maio 2020, 14h54 - Publicado em 12 Maio 2020, 11h30

Em março desse ano, exposições e até homenagem da Família Real marcaram a abertura da celebração pelos 200 anos de nascimento de Florence Nightingale, mais conhecida na Inglaterra como “A dama com a lanterna”.  A enfermeira e reformista social britânica é conhecida como a fundadora da enfermagem moderna, por isso, no dia do seu aniversário é o Dia Internacional da Enfermagem. Florence foi fundamental para estabelecer novas regras de saneamento que até hoje são adotadas e essenciais. 

Nascida na elite, mas envolvida com o povo

Florence Nightingale nasceu em uma família inglesa com boas condições sociais, circulando quando jovem entre a elite britânica. Sua mãe sonhava com um casamento que trouxesse luxo para as duas filhas, mas Florence, a caçula,  nunca se sentiu bem com o mundo de luxo e frequentemente entrava em conflito com ela. Filantropia sempre atraiu Florence, que tomava a iniciativa de ajudar aos menos favorecidos como vocação divina, tanto que, aos 16 anos, decidiu que seria enfermeira.

A escolha não foi bem-vinda em casa. Na época, uma moça bem nascida não poderia ter um trabalho remunerado, ou melhor, não deveria ter nenhum trabalho, mas sim ter se casar. Ela desafiou os pais indo estudar enfermagem na Alemanha mesmo assim. Sete anos depois retornou à Inglaterra e impressionou seus patrões no hospital em Middlesex  por conta de sua dedicação. Na época, a pandemia de cólera dizimava cidades e países, com as pobres condições de saneamento contribuindo para que a doença se espalhasse. Da mesma forma que enfrentou a oposição dos pais, Florence decidiu fazer como missão melhorar as práticas de higiene e conseguiu colaborar para a redução do índice de mortes no hospital de Middlesex com seu procedimento. Sua saúde pessoal foi afetada durante o processo, mas ela não vacilou em nenhum momento em seguir cuidando dos outros antes mesmo de pensar em si mesma.

(Time Life Pictures/Mansell/The LIFE Picture Collection via Getty Images/Getty Images)

A guerra da Crimeia e a virada nos hábitos

Quando a Guerra da Crimeia estourou, em 1853, pelo menos 18 mil soldados ingleses acabaram hospitalizados em pouquíssimo tempo. Na época, não havia enfermeiras mulheres em campos de batalha. Porém, as deficiências no atendimento aos feridos, que estavam em condições desumanas, levaram ao Secretário de Guerra, Sidney Herbert, a solicitar ajuda à Florence para organizar um grupo de enfermeiras para ajudarem os soldados na Crimeia. Em poucos dias, 34 mulheres lideradas por ela chegaram em Constantinopla e o que encontraram parecia ser indescritível de tão assustador. A água contaminada, pacientes jogados no chão em meio as suas próprias fezes, ratos, baratas… suprimentos básicos como sabão e ataduras acabando a cada hora. Tifo e cólera matavam mais do que os ferimentos de batalha. Florence deu um basta nisso.

E não o fez sozinha. Ela separou centenas de vassouras e esfregões, selecionou os que estavam menos enfermos e todos que puderam ajudaram a limpar o hospital, do teto ao chão. Enquanto isso, ela seguia em todos os momentos em que estivesse acordada, cuidando dos doentes e feridos. Dormia pouco. À noite, circulava entre as camas com uma única lâmpada iluminando o caminho, daí o nome que viria a ser conhecida, a dama da lanterna. O trabalho liderado por Florence reduziu em dois terços o número de mortes.

Mas ela não parou por aí. Para melhorar o saneamento, ela determinou a criação de uma cozinha especial para os pacientes com uma necessidade de dieta mais restritiva. Ela criou uma lavanderia onde as roupas de cama eram limpas com frequência e, para distrair os que já estavam convalescendo, ela criou uma biblioteca. As medidas foram tão bem sucedidas que o Exército inglês passou a determinar como regra que todos os hospitais – no país e onde seus soldados estivessem sendo atendidos – seguissem as instruções do que Florence fez na Crimeia. Como resultado, foi criada a Comissão Real de Saúde no Exército, em 1857.

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Florence ficou um ano e meio na Crimeia e só retornou para a Grã Bretanha quando o conflito estava solucionado. Foi recebida como heroína, algo que a tímida Florence quase morreu de vergonha porque detestava ser o centro das atenções. A Rainha Vitória a presenteou com uma joia, que veio a ser chamada de Nightingale e um prêmio de 250 mil libras esterlinas.  

A lâmpada turca que a enfermeira usava para poder chegar até os doentes (Tristan Fewings/Getty Images/Getty Images)

Ajudando nas estatísticas também  

Uma vez em casa, Florence passou a trabalhar com a Comissão de Saúde e ajudar na análise de dados de mortalidade no exército. Ficou assustada quando soube que entre 16 a 18 mil soldados morriam mais de doenças facilmente evitáveis do que no próprio combate. Uma criação sua ajudou a tornar os números ainda mais visíveis: ela literalmente desenhou um diagrama (hoje chamado de Diagrama Nightingale Rose) que mostrava a redução da mortalidade de forma que não havia dúvida de compreensão para qualquer um que o visse. As medidas, os desenhos e a dedicação de Florence inspiraram novas medidas de saneamento no Exército e fora. Por sua criação matemática, Florence se transformou na primeira mulher a ser membro da Sociedade de Estatística Real e foi feita membro honorária da Associação Americana de Estatística.

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O diagrama mostrando as causas de morte no exército britânico durante a Guerra da Crimeia criado por Florence Nightingale, em 1859 (Courtesy National Library of Medicine. Smith Collection/Gado/Getty Images/Getty Images)

O prêmio que recebeu da Rainha, sem surpresa para quem acompanhava sua trajetória, foi totalmente revertido para criação de um hospital (Saint Thomas) e, dentro dele, de uma escola de enfermagem para mulheres. 

Não é surpreendente a paixão e admiração dos ingleses por Florence Nightingale. Inspirada em sua história, muitas mulheres passaram a querer estudar para serem enfermeiras.

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Objetos pessoais de Florence Nightingale (Tristan Fewings/Getty Images/Getty Images)

Doença e morte

Estar exposta em condições que ajudou a mudar fizeram de Florence uma vítima de doenças também. Ela contraiu o que chamavam de “Febre da Crimeia” e nunca conseguiu se recuperar 100%. Aos 38 anos ela não conseguia mais sair da cama e ficaria assim até sua morte. Nem sua condição delicada a impediu de trabalhar. Mesmo em casa, recebia políticos e advogava por reformas no sistema de saúde. Era uma autoridade internacional – e muito procurada – por todas as questões de saúde e saneamento.

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Em agosto de 1910, aos 90 anos, Florence Nightingale adoeceu repentinamente. Num primeiro momento parecia ter se recuperado. Porém em três dias os sintomas pioraram e ela faleceu subitamente, em casa, em Londres. Ela havia pedido um funeral e enterro discretos, o que foi respeitado por sua família, mesmo com a insistência do Governo Britânico em algo maior.

Hoje a escola original de enfermagem criada por ela é um Museu, o Florence Nightingale Museum, que reúne obras em sua homenagem, assim como objetos pessoais da enfermeira.

O Dia Mundial de Enfermagem é celebrado em seu aniversário desde 1974. Em um ano tão doloroso, onde as iniciativas que Florence defendeu ainda salvam vidas, é mais importante ainda celebrar a vida e o exemplo de alguém que se dedicou a salvar vidas. Nossa gratitude e admiração por todos os funcionários de saúde são imensos, mas hoje celebramos com mais carinho do que nunca.

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