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Mitos sobre pessoas trans e travestis que precisam ser combatidos

Neste 29 de janeiro, dia da visibilidade trans, resolvemos quebrar algumas mentiras contadas por aí.

Por Lucas Castilho
Atualizado em 20 jan 2020, 22h02 - Publicado em 27 jan 2017, 11h00

“Pessoas T”, que é a forma como podemos nos referir aos homens e mulheres transexuais e às travestis, nasceram em um corpo que não representa de fato o que e quem elas são. E, infelizmente, por causa disso, enfrentam níveis gigantescos de violência e discriminação.

Leia Mais: 11 mentiras batidas sobre feminismo que precisam parar de ser repetidas

Para se ter uma ideia, em 2015, aconteceram 295 assassinatos de pessoas trans e travestis no mundo. 123 dessas mortes aconteceram no Brasil, como informou a ONG Transgender Europe. Um absurdo.

Além desses números, é comprovado que pessoas T estão quatro vezes mais propensas a viver na pobreza e experimentam o desemprego o dobro do que a população em geral. Se a pessoa for negra essa margem sobe para quatro vezes, como apontou o relatório “Injustice at Every Turn”.

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Por isso, as capas de Caitlyn Jenner para a Vanity Fair e Laverne Cox, estrela de “Orange Is the New Black”, para a TIME e Entertainment Weekly são tão importantes. Assim como a conquista da top Andreja Péjic ao ser anunciada como a primeira mulher trans a ser rosto de uma campanha de beleza, na Make Up For Ever.

Essas ações colocam luz – e dão voz – para um assunto, muitas vezes considerado tabu e que precisa ser discutido, por se tratar de uma questão de Direitos Humanos.

Com ajuda de Agatha Lima, mulher transexual, militante e atual presidenta do Conselho Estadual dos Direitos da População LGBT de São Paulo, de Luiz Fernando Prado, homem trans, integrante da família LGBT Stronger e ativista e militante de Direitos Humanos, e de Monique Rodriguez, travesti e militante, procuramos desmistificar algumas das mentiras que contam sobre homens e mulheres trans e travestis.

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1. Não existe diferença entre transexual, transgênero e travesti

Existe, sim. De acordo com Agatha, as pessoas transexuais são pessoas que nasceram com um gênero (homem ou mulher), mas que não se identificam com ele. “Por exemplo, a mulher trans nasce com o sexo biológico masculino, mas a sua identidade de gênero, que é a forma como ela se percebe, e orientação sexual são geralmente femininas. Já as travestis, são pessoas que têm o sexo biológico masculino, mas que possuem identidade de gênero ambígua”, explica. Segundo ela, elas podem se identificar tanto com seu lado homem, quanto com seu lado mulher e ter orientação sexual fluída. Agora, cabe a cada pessoa dizer ou definir o que ela é. “É ela quem define o que é e como quer ser reconhecida”, avalia Monique.

2. Para ser uma mulher transexual ou uma travesti é preciso fazer uma cirurgia

Mentira. E para começar, não se fala em “cirurgia de mudança de sexo”, o termo correto é redesignação sexual (CRS). Luiz Fernando explica bem essa dúvida: “A transexualidade é algo além de se fazer modificações corpóreas, se trata de um incômodo em viver num gênero que em nada lhe representa”. O importante mesmo é se sentir confortável com o seu corpo. “Uma trans pode ser trans sem ter começado a hormonização, sem ter colocado peitos, feito cirurgia ou laser. É mulher ou homem e ponto, não importa o jeito que está”, diz Monique. É só importante destacar que, segundo Agatha, uma travesti dificilmente vai optar por uma cirurgia, justamente por essa identidade de gênero ambígua.

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3. Pessoas transexuais são todas homossexuais

Essa questão causa muitas dúvidas em quem não está familiarizado com o universo das pessoas T. É comum a confusão de que ser um homem ou mulher transexual é, logo, ser homossexual. Mas gênero, que é a percepção individual de cada um sobre ser homem, mulher ou algo a mais, não é sinônimo de orientação sexual.

Ser uma pessoa transexual ou travesti não significa necessariamente ser homossexual. “Se for uma mulher trans e gostar de outra mulher, ela é lésbica, e se for mulher trans e gostar de homem, é heterossexual e por aí vai…”, explica Monique.

4. Pessoas transexuais e travestis escolheram ser assim

Óbvio que não. Como dito acima, a identidade de gênero é a percepção do indivíduo de ser um homem ou uma mulher (ou alguém que não se identifica de forma binária) e isso é algo que nasce com a pessoa. De acordo com Monique, por a sociedade dividir os seres humanos em apenas “macho e fêmea”, quando criança, a pessoa – sem informações – se vê obrigada a se encaixar nesses padrões, daí a ideia errônea de que se trata de uma escolha. “Ninguém escolhe ser humilhado socialmente em todos os espaços de convívio”, avalia Luiz.

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E, sim, existem teorias médicas sobre quais motivos as pessoas nascem transexuais ou travestis. Por exemplo, alguns falam que hormônios usados durante a gravidez podem ser a causa e outras pesquisas afirmam que tem a ver com a atividade cerebral. Mas a verdade é que, mais importante do que o porquê, a comunidade de pessoas T precisa nesse momento de aceitação e respeito. #Prioridades

5. Ser uma pessoa transexual ou travesti significa ser um homem fantasiado de mulher ou uma mulher fantasiada de homem

De forma alguma. Como dito acima, as pessoas T nasceram dessa forma. Carmen Carrera, que é militante da causa, modelo e mulher trans desconstruiu essa ideia equivocada em apenas uma frase: “Eu não sou um homem fingindo ser uma mulher. Eu sou uma mulher”. Caso encerrado?

Divulgação
A atriz transexual Jamie Clayton, estrela da série “Sense8”, do Netflix ()

6. Transexualidade é uma doença

Não. Apesar disso, o Transtorno de Identidade de Gênero ainda é listado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma doença mental. Porém, a CID 2015 (Classificação Internacional de Doenças) promete tratar a transexualidade não mais como um distúrbio de saúde, mas como uma condição que exige intervenção médica em alguns casos. 

Segundo a entidade, destacar a possibilidade de intervenção é necessário para que, principalmente, essas pessoas possam receber tratamento nas redes públicas e particulares. E é justamente essa a luta travada atualmente, como explica Agatha: “A nossa luta maior não é sair do CID, porque ele ainda garante o acesso ao atendimento em hospitais públicos, a nossa luta é a transexualidade não ser mais tratada como uma doença mental”.

7. Transfobia não existe

Existe, sim, e está tanto nos “pequenos” atos, desde quando alguém se recusa a chamar uma pessoa trans por seu nome social, até nos crimes de ódio cometidos mundo afora todos os anos. Para se ter uma ideia, de acordo com relatórios internacionais, 50% dos assassinatos contra pessoas T ocorreram somente no Brasil em 2014. É importante apenas não confundir transfobia com o homofobia, tá? Monique alerta que são coisas diferentes e bem simples de entender: “Nós somos trans, então, é transfobia”.  E para quem ainda não está convencido que não existe transfobia, Luiz Fernando traz um relato:

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“A transfobia existe a partir do momento em que as pessoas julgam homens trans como mulheres lésbicas masculinizadas por simplesmente não ter uma genitália masculina. Existe quando corremos o risco de sermos estuprados em um banheiro masculino se houver alguma desconfiança por parte de alguns frequentadores daquele espaço. Existe ao frequentarmos locais que se exige RG documentação imagine o constrangimento de apresentá-lo e nele constar um nome e sexo feminino você tendo uma aparência masculinizada. Existe quando em um serviço de saúde publica se recusam a nos chamar pelo nome social pelo fato do tal nome civil constar no prontuário. Existe ao não se conseguir emprego digno devido a documentação e temos de nos empregar em subempregos e ainda termos de implorar para nos respeitarem nos tratando como gostaríamos. Não queremos fazer apologia a nada, queremos ter direitos como quaisquer outros cidadãos e sermos respeitados pelo que somos”. 

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