3 mulheres que contrariam estereótipos e são apaixonadas por games
Quem é que disse que mulher não gosta de jogar videogame? Conheça essas três fãs de games que vão fazer você deixar os estereótipos de lado
Depois de mostrar o perfil de mulheres que trabalham no desenvolvimento de games, nossa série agora foca nas fãs. São garotas tão aficionadas pelos jogos que montam fansites que ficam famosos, gerenciam equipes de jogadores e até fazem cosplay de seus personagens preferidos.
Flávia Alves, 29 anos, nasceu em Uberlândia (MG) e hoje vive em Palmas (TO). É editora-chefe da página WoWGirl.
Quando e como foi seu primeiro contato com games?
Comecei jogando Sonic no Master System. Dos MORPGs (RPGs online), meu primeiro foi o Ragnarok, quando tinha uns 8 ou 10 anos.
Quais são seus jogos preferidos? Por quê?
Gosto de indie games (jogos independentes) porque eles privilegiam a história. Para mim, jogos são experiências emocionais. Sou apaixonada por MORPGs (RPGs online) porque neles eu tenho uma experiência social dentro do jogo. Conheci muitos amigos no World of Warcraft.
O que é e como funciona o WoWGirl?
O WoWGirl é a maior fonte de conteúdo sobre o jogo World of Warcraft em português do mundo. Nosso fansite é escrito apenas por mulheres, mas não exclusivamente para mulheres. Recebemos apoio da Blizzard (produtora do jogo), que reconhece nosso papel como uma plataforma importante para o produto deles. Eles nos mandam brindes para sortearmos no site e nos chamam para cobrir a BlizzCon (conferência da produtora que acontece em Los Angeles desde 2005) com todas as despesas pagas.
Como é lidar com a participação dos homens em um site sobre games feito apenas por mulheres?
Às vezes nos sentimos acuadas. Somos sempre pré-julgadas só porque quem está escrevendo é uma garota. Muitos gamers homens acham que se você é bonita, não joga bem, se joga bem, é porque deve ser uma garota solitária, feia, sem amigos… Para mim, jogar sempre foi tão natural. Quando meus pais compraram um videogame foi pensando em mim e no meu irmão. Jogávamos juntos. No WowGirl escrevemos para iniciantes, e muitos gamers homens mais veteranos criticam nosso trabalho. Às vezes chegam ao ponto de assédio mesmo. Há comentários bem agressivos de vez em quando. Mas nós moderamos isso e com o passar do tempo estou percebendo uma melhora.
Renata Sikorski, 27 anos, nasceu e mora em Caxias do Sul (RS). É diretora de arte e ilustradora.
Quando e como foi seu primeiro contato com games?
Meu primeiro contato com games foi aos 8 anos quando ganhei um Master System III.
Quais são seus jogos preferidos? Por quê?
Diablo, Heroes of the Storm, Starcraft 2, Don’t Starve, Skyrim, entre outros. Gosto muito da história e dos personagens. No caso de Heroes e Starcraft tem também a parte estratégica, do trabalho em equipe, poder jogar com os amigos.
O que te atrai mais nos games?
Apesar de gostar bastante da parte de raciocínio e dos desafios de um jogo, o que mais me atrai é a história mesmo. Quando uma história me encanta de verdade, busco fora do jogo mais sobre os personagens, histórias paralelas, tudo relacionado com aquele universo.
A Kerrigan do Starcraft é um dos personagens que mais gosto, por isso ela é um dos temas favoritos de minhas ilustrações. Também gosto de fazer cosplay (se fantasiar como seus personagens preferidos).
O que te atraiu a fazer cosplay?
Sempre fui fã da cultura japonesa, quando comecei a participar de eventos, me apaixonei pelo universo cosplay também.
Você faz cosplay de personagens de games? Quais? E por quê?
Eu fiz a Morrigan de Darkstalkers. Sempre fui fã da personagem, foi meu primeiro cosplay e o que mais gosto.
Você já participou de campeonatos do jogo? Como as mulheres são recebidas e encaradas nos campeonatos?
O campeonato que participei era só de mulheres, então todo mundo ficava mais a vontade. Mas acho que em um campeonato normal elas se sentem meio deslocadas, pois ainda não há muitas mulheres participando. No meu caso não curto muito a parte competitiva dos jogos, acho estressante e meio frustrante. Além disso, precisa dedicar muito tempo para ficar realmente boa, não dá pra ficar jogando um monte de jogos ao mesmo tempo. Tem de escolher um e se focar nele pra conseguir melhorar.
Você acha que o mundo dos games ainda é machista? Por quê?
Acho a questão do machismo mais complicada quando se trata de jogos online. Na maioria das vezes você joga com estranhos que nem sempre são educados. Alguns se aproveitam do anonimato para ofender os outros. E se você for mulher, isso piora muito.
Angelika De Marchi, 22 anos, nasceu em Campinas (SP) e hoje vive em Itu (SP). Estuda Rádio e TV no Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio (CEUNSP).
Como foi seu primeiro contato com games?
Jogo desde que me conheço por gente. Tenho um irmão mais velho e comecei jogando Sonic no Mega Drive.
Quando e como você entrou nesse mundo dos MMORPGS?
Conheci o Starcraft quando tinha 12 anos, na época não era muito comum achar meninas que jogassem esse game. Com o tempo, passei a jogar mais seriamente e aí passava 12, 13 horas jogando. Depois que dei uma entrevista em um canal do YouTube, fui convidada pelo Terra para administrar times de jogadores. Aliás, foi assim que chamei um menino que hoje joga Starcraft em uma gamer house americana. Tenho muito orgulho em ver onde ele chegou.
Você acha esse mundo dos games machista?
Em partes, sim. Sentimos mais isso quando se joga online. Mas mesmo assim, conheci muitos amigos jogando online. Alguns até conheci fora do ambiente virtual. São pessoas incríveis, maravilhosas. Cheguei a ir a alguns Barcraft, um encontro de jogadores de Starcraft.
Você acha que as personagens femininas ainda são pouco representadas nos games?
Tanto a indústria quanto os jogos vêm mudando. Veja a mudança da Lara Croft, por exemplo. Hoje a personagem é muito mais complexa do que nos primeiros jogos dela como protagonista. Ser nerd não era legal, hoje é. As coisas mudam.
Hoje, como você se relaciona com esse mundo dos games?
Tive de dar um tempo por conta da faculdade. Sinto muita falta de passar horas jogando com os amigos, mas hoje faço faculdade de Rádio e TV para continuar nesse mundo dos games de alguma forma. Quero me especializar na cobertura dessa área. Atualmente dirijo um programa sobre games que produzimos na faculdade.
Que conselhos você daria para uma garota que quer entrar de cabeça nesse mundo?
Não se acanhe. É sempre bom ser comunicativa. As mulheres têm mesmo de dar a cara a tapa. Mas ainda bem que somos nós que temos algo a provar, porque se fosse o contrário, os homens não segurariam essa bronca.