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Que dia é hoje? Estamos percebendo o tempo passar de formas diferentes

Entre aqueles que estão de home office e aqueles que não conseguem mais trabalhar devido a quarentena, as horas são percebidas de maneiras distintas

Por Colaborou: Gabriela Maraccini
Atualizado em 7 Maio 2020, 15h24 - Publicado em 10 abr 2020, 13h00

“Que dia é hoje mesmo?” talvez seja a pergunta mais feita desde que começamos o período de isolamento social. Ao ficarmos em casa e mudarmos as nossas rotinas repentinamente, como está acontecendo agora, é normal que fiquemos um pouco perdidos no tempo.

“Nós nunca vivemos, no Brasil, algo parecido com o que estamos vivendo hoje. Então, no nosso psique, precisamos trabalhar com o fator incerteza e com o fator angústia. Esses dois fatores podem tanto paralisar quanto gerar uma cobrança muito forte para que sejamos mais produtivos, para que acabemos acreditando que o tempo vai passar mais rápido assim”, opina Livia Marques, psicóloga clínica com foco em Terapia Cognitiva Comportamental, em entrevista a CLAUDIA.

No entanto, as percepções sobre o tempo podem ser diferentes entre aqueles que estão trabalhando muito, durante o home office, e aqueles que não estão conseguindo trabalhar durante a quarentena, como os trabalhadores autônomos. Quem trabalha muito, não vê o dia passar. E quem tem muito tempo livre, percebe os dias cada vez mais longos.

É o caso da jornalista Cibelle Cristina da Silva, 37 anos, e da guia de turismo Gisele Pimenta da Silva, 39 anos. Ambas são mulheres com uma rotina de trabalho agitada, com grandes demandas específicas de cada área e que gostam muito de trabalhar. A diferença é que, com a pandemia do coronavírus e a quarentena, a primeira acumulou ainda mais trabalho e tem menos tempo livre, enquanto a segunda não consegue retomar sua produtividade de antes.

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Cibelle é gerente de comunicação interna de uma grande empresa do setor atacadista, o que, por si só, já significa ter uma alta demanda de serviços. “A minha rotina de trabalho sempre foi muito intensa, por conta da área em que atuo. Chegava às 9 horas no escritório, saía por volta das 20 horas, ia direto para casa, mas conseguia cozinhar alguma coisa, tomar banho tranquila, assistir telejornal, conversar com os amigos. Era uma rotina agitada, mas equilibrada”, revela a CLAUDIA.

Em home office desde que voltou de férias, no dia 17 de março, Cibelle agora define sua rotina de trabalho como insana. “Eu nunca imaginei que trabalharia tanto”, desabafa. Parte do aumento de sua carga horária trabalhando se deve ao fato de que a empresa onde atua faz parte dos serviços essenciais na quarentena, por ser uma rede de supermercados atacadistas. “Com 45 mil colaboradores, todas as suas lojas abertas, a comunicação interna passa a ter um papel essencial no compartilhamento de informações, orientações, companhas de prevenção contra a Covid-19. É uma área que exerce um papel fundamental e, com isso, a demanda é muito grande”, explica.

Cibelle Cristina da Silva, 37 anos
Cibelle Cristina da Silva é jornalista e gerente de comunicação interna (Arquivo Pessoal/Divulgação)

Hoje, a rotina dela se inicia às 8 horas e não tem hora exata para terminar. 22 horas, 23 horas, meia-noite e até 3 horas da manhã foram horários em que ela se viu trabalhando. “O tempo do deslocamento até o trabalho, que era mais ou menos uma hora, agora eu estou trabalhando. Outros horários, como o de almoço, eu não consigo mais fazer. Por vezes, eu fui almoçar 16h ou 18h. Teve um dia que quando eu percebi já era 20h e eu ainda não tinha almoçado”, revela a jornalista.

Cibelle, agora, tenta se disciplinar ao máximo para não se perder na rotina agitada. “Eu paro nem que seja 20 ou 30 minutos para almoçar sem ver o celular e tento finalizar meus trabalhos até 20h ou 21h. E também cuido para que o meu time tenha essa mesma disciplina”, conta. “Eu, sinceramente, gostaria de ter uma quarentena não tão insana quanto a minha. Mas eu logo volto atrás e penso que em um período de crise, trabalhar em um segmento essencial faz com que eu me sinta ainda mais útil e me deixa feliz, por mais cansada que eu esteja. Quando você trabalha para o bem, você não vê o tempo passar”, finaliza.

O outro lado da moeda

Gisele, chamada de Cacau por seus colegas de trabalho e pela criançada, trabalha de maneira autônoma e tinha uma rotina agitada, principalmente depois do Carnaval, quando as agências de turismo a chamavam para fazer passeios escolares, com Estudo do Meio — contato direto e prático com o que é ensinado em sala de aula, por exemplo: se os alunos estão aprendendo sobre animais, as agências os levam para conhecer o zoológico — e eventos de recreação. No entanto, com a suspensão das aulas e o cancelamento de vários eventos, seu trabalho também parou. “Meu último trabalho foi no dia 10 de março, desde então, estou sem trabalhar”, revela a CLAUDIA.

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Nem sempre foi assim. A sua rotina costumava ser muito agitada, com diversos eventos e compromissos durante a semana. “Tinha que olhar na minha agenda todos os dias para saber qual era o roteiro da semana e assim eu ficava focada nos dias e nas horas. Saía sempre muito cedo de casa e normalmente não tinha hora para voltar, então não via o tempo passar. Quando me dava conta, já tinha passado e estava começando outro dia”, compartilha. “Agora, o tempo passa bem mais devagar e sempre me pego pensando em que dia estamos.”

Gisele Silva, conhecida como Cacau, é guia de turismo e recreadora (Estação Alegria/Divulgação)

Apesar do receio de não saber quando vai retornar o trabalho, ainda mais com a crise financeira pós-coronavírus se aproximando, e da dúvida se será preciso trocar de emprego para conseguir manter sua renda, Cacau tenta manter a mente ocupada e o tempo livre preenchido com atividades que antes ela não conseguia fazer.

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“Estou mantendo minha rotina de exercícios em casa, faço meditação, leio livros que já tinha separado para ler e que, antes, eu não conseguia. Estou fazendo curso a distância de Libras, além de estar assistindo a várias séries, que eu gosto muito”, revela. “Tenho também três cachorrinhos que me distraem bastante”, completa ela com risadas.

Nem rápido, nem devagar: o necessário é o equilíbrio

Livia alerta que, tanto para quem está trabalhando muito em home office, quanto para quem não está conseguindo produzir como antes, é necessário haver um planejamento da rotina, para poder dividir o seu tempo da melhor maneira, para ele não passar nem rápido demais e nem tão devagar.

“Ao acordar, já faça um planejamento diário. O mais importante deve ser feito logo de manhã. Depois, separe três tarefas que são importantes, mas que podem esperar um pouco para serem feitas. Ao final do dia, faça aquilo que não é prioritário”, recomenda a psicóloga.

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Ela também alerta para a importância de, no planejamento, incluir pausas: um tempo dedicado para almoçar, levantar e alongar o corpo, tomar um chá ou café. “Você não deixará de produzir. Na verdade, aumentará seu foco e melhorará seu bem-estar para produzir melhor”, afirma.

Já quem passa pelo mesmo que Cacau, é importante ficar atento para não entrar em um estado de melancolia. “Quando você está muito acostumado a produzir e você se encontra em um momento em que não está produzindo, você vê o dia passando lentamente e pensando em quando tudo isso vai acabar. É nisso que precisamos ter cuidado”, reitera Livia.

Nesses casos, é importante cuidar da saúde mental enquanto se está em isolamento, montando uma nova rotina com atividades que possam preencher o tempo vazio e manter uma interação, nem que seja de maneira virtual, com pessoas próximas e queridas. “Todos estão passando por esse momento. A questão é como saber lidar com isso”, afirma.

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Em tempos de isolamento, não se cobre tanto a ser produtiva:

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