Entenda como funciona a terapia de Gerson em “Passione”
Psiquiatra e psicoterapeuta Eduardo Ferreira-Santos responde perguntas mais comuns sobre o tratamento
Gerson (Marcello Anthony), à esquerda, e Flávio Gikovate (à direita)
Foto: TV Globo/Divulgação
Quem acompanha a novela “Passione” sabe dos esforços do personagem Gerson (Marcello Anthony) para se livrar de um problema sexual por meio da terapia. Mesmo com o assunto debatido abertamente na trama da Globo, ainda há muito preconceito em torno na terapia.
À pedido da revista ANAMARIA, o psiquiatra e psicoterapeuta Eduardo Ferreira-Santos responde às perguntas mais comuns sobre terapia. Confira:
Fazer terapia não é coisa de louco ou de gente doente?
Não. A terapia tem várias funções: desde melhorar o conhecimento que a pessoa tem sobre si mesma até curar problemas mentais graves. E, obviamente, nem todo mundo precisa desse tipo de tratamento.
Para que pagar para conversar, se eu posso recorrer a um amigo de graça?
A conversa realizada entre as quatro paredes do consultório é diferente, porque tem um objetivo específico: ela busca mais dados para a pessoa se entender, se relacionar melhor com os outros e se desenvolver na profissão. E o foco é sempre o paciente, o que não ocorre em um bate-papo informal de vizinhas.
O tratamento no consultório pode interferir no sexo com meu companheiro?
Só se existirem medos, inibições e outras dificuldades na área sexual.
Como eu percebo que estou precisando da ajuda de um profissional?
Quando há sofrimento psicológico. Você passa a se sentir ansiosa, medrosa, aborrecida, angustiada, desmotivada, desconfortável ou algo do gênero. Pode chorar por qualquer motivo e não encontrar prazer nas coisas que antes a deixavam feliz e disposta. Situações delicadas e mais específicas, como a morte de um parente querido ou o término de um longo relacionamento amoroso, também podem pedir um tratamento.
Posso me tratar em qualquer idade?
Sim. A probabilidade de transformação é maior nas pessoas mais jovens, mas tenho pacientes de até 80 anos. Vale lembrar que, quanto mais cedo a pessoa buscar ajuda, melhor.
Qual é a diferença entre o trabalho de um psicólogo e o de um psiquiatra?
O psicólogo pode aplicar testes psicológicos e o psiquiatra pode medicar. Para trabalhar com psicoterapia, porém, ambos precisam se especializar após a faculdade – de Psicologia, no primeiro caso, ou de Medicina, no caso do psiquiatra.
Gerson (Marcello Anthony) e Flávio Gikovate gravam cena de terapia em “Passione”
Foto: TV Globo/Divulgação
Como é a consulta?
Existem mais de mil técnicas, da psicanálise à regressão. Estudos mostram, no entanto, que um bom resultado não depende da linha, e sim de você se sentir bem com o profissional escolhido. Em geral, a consulta funciona em cima de uma queixa – a conversa busca fazer com que o próprio paciente perceba onde está o problema.
O psicoterapeuta pode contar o que eu disse para outras pessoas?
Não. A não ser que você seja avisada e concorde com o uso do conteúdo da consulta em trabalhos científicos (com a identidade preservada, claro!). Situações extremas, que colocam a vida em risco ou demandam internação, fogem dessa regra.
Se eu levar meu filho, saberei o que ele falou?
Se ele for criança, sim, pois a estratégia do tratamento é aconselhar os responsáveis. No caso dos adolescentes, o psicoterapeuta convida os pais para a sessão e, juntos, eles abordam a questão.
Quanto tempo demora para a pessoa se considerar curada?
Depende. Há casos em que o paciente trabalha um problema de cada vez e, em quatro meses, no máximo, está tudo resolvido. Pra quem busca o autoconhecimento, porém, não existe limite.
Como vou saber se fiquei realmente boa?
Observando suas ações e sentimentos e analisando o retorno que outras pessoas dão sobre você.
Todo mundo precisa tomar remédio?
De jeito nenhum. O remédio funciona como um facilitador – e só deve ser usado em alguns casos. Eu costumo brincar que você pode carregar os tijolos na mão, mas a construção terminará mais rápido se usar um carrinho para ajudar.
E se eu for contra?
O processo será mais lento e difícil, mas não impossível. Um bom antidepressivo, por exemplo, estimula a produção de serotonina, aumentando a sensação de bem-estar. É como um salto alto que ajuda a ver mais longe. Quando você conseguir enxergar do outro lado, pode tirar o sapato.
Por que existe tanto preconceito com relação à medicação?
Por causa do bombardeio de gente desinformada e, principalmente, do mau uso.
Tomar só o remédio, sem as consultas, resolve?
O remédio alivia os sintomas, mas não soluciona a causa.
Como reconhecer um bom profissional?
Pesquisando sua formação.
Onde procurar?
Comece levantando indicações com os amigos (de preferência, parecidos com você). Também vale a pena recorrer à internet ou aos programas de rádio e TV.