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Vítima de estupro e agressor escrevem livro juntos depois de anos

"A demonização dos agressores pela mídia atrapalhou minha recuperação", justificou a islandesa Thordis Elva, que na época do crime tinha 16 anos

Por Da Redação
21 mar 2017, 17h11

Thordis Elva era uma adolescente de 16 anos quando foi estuprada pelo namorado Tom Stranger, que tinha 18 anos na época. O caso ocorreu em 1996, após uma festa natalina em Reykjavik, capital da Islândia. Eles namoravam havia apenas um mês e tinham bebido rum. Thordis passou mal durante a festa e Stranger a levou para casa.

Foi preciso muito tempo para que ela tivesse a noção de ter sido vítima de violência sexual e, por isso, não denunciou o caso na época. “Eu tinha 16 anos e estava apaixonada pela primeira vez na vida. Fiquei machucada e chorei muito por semanas, mas tudo era muito confuso para mim. Tom era meu namorado, não um lunático. E o estupro ocorreu na minha cama, não em uma viela. Quando finalmente concluí que havia sido estuprada, Tom já tinha voltado para a Austrália, ao final de seu programa de intercâmbio”, disse à BBC

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Palestras

Nove anos depois do ocorrido, Thordis decidiu entrar em contato com Stranger, escrevendo uma carta. Para a surpresa dela, o australiano respondeu com uma confissão e uma oferta de “fazer o que fosse necessário”. Pela legislação islandesa, o crime já tinha prescrito.

Os dois decidiram, então, escrever juntos um livro relatando o ocorrido. A obra chamou a atenção dos organizadores das conferências TED (disponível em inglês) e a dupla foi convidada a palestrar em um evento. A palestra já foi assistida por mais de 2,7 milhões de pessoas.

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“Repudiei o ato mesmo quando o cometia. Mas contei para mim mesmo uma mentira, a de que havia sido sexo, não estupro. Negligenciei o imenso trauma que causei a Thordis. E a mentira me deixou com uma culpa atroz”, afirma Stranger.

Críticas

Desde então, eles vêm sofrendo críticas de pessoas preocupadas com a possibilidade da aparição da dupla despertar traumas em vítimas de estupro.

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Thordis, que atualmente vive na Suécia com o marido e um filho, diz não estar fazendo recomendações para outras vítimas, mas tentando enfatizar a responsabilidade do agressor por meio do que chama de “desmonstrificação” de perpetradores.

A demonização dos agressores pela mídia atrapalhou minha recuperação. O fato de Tom não ser um monstro e, sim, uma pessoa que tomou uma decisão terrível tornou ainda mais difícil para mim reconhecer seu crime. Não quero receitar uma fórmula às pessoas. Ninguém tem o direito de dizer a uma vítima de estupro como lidar com a dor. Mas a violência sexual não pode ser tratada apenas como assunto feminino. Homens cometem a maioria dos ataques, mas suas vozes não estão representadas proporcionalmente nessa discussão, “ disse à BBC.

Ao mesmo tempo Stranger é acusado de se beneficiar com o sucesso do livro. A questão monetária foi levantada em vários países e organizações exigiram que a dupla revelessa a divisão de direitos autorais. Ele fica com uma parte minoritária do dinheiro das vendas, mas prometeu repassá-lo A ONGs envolvidas com vítimas de violência sexual.

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Ativistas apontam que o caso entre Thordis e Stranger é único e não pode ser usado como exemplo para entender os demais. “O debate é bem-vindo, mas com ressalvas, porque cada experiência (de estupro) é única”, garante Fay Maxted, do Survivors Trust. Esses grupos, agora, pedem que Stranger questione outros estupradores de forma pública, para que eles também participem da discussão.

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