Vilarejos na Índia proíbem celulares para mulheres solteiras e meninas
Lideres comunitários argumentam que o contato com tecnologia tem corrompido as jovens e destruído famílias
Menos de 8 meses após o lançamento do Digital Índia, um projeto de “conectividade móvel” liderado pelo primeiro-ministro Narendra Modi, várias aldeias do país instauraram uma proibição do uso de telefones móveis por mulheres solteiras e meninas.
Citando o uso de telefone celular por mulheres jovens como a criação de “um incômodo”, os líderes comunitários de Suraj, uma aldeia no estado de Gujarat, comparam o efeito da tecnologia para mulheres ao de álcool para homens.
“O uso do telefone celular por mulheres criou uma série de perturbações na nossa sociedade. As meninas acabam se equivocando. Esta prática pode quebrar famílias e ruir relacionamentos”, disse Raikarnji Thakor, um líder da comunidade de Gujarat norte em entrevista ao Hindustan Times.
A partir de agora, se uma jovem é pega usando ou portando um aparelho celular na vila Suraj, ela será multada em 2.100 rúpias (aproximadamente 31 dólares). A pessoa responsável por delatá-la ainda recebe uma recompensa financeira.
Logo a medida se estendeu também para a vila Basauli, a cerca de 80 km de Agra, uma cidade no estado de Uttar Pradesh, no norte da Índia e lar do icônico Taj Mahal. Todas as meninas menores de 18 anos estão proibidas de usar dispositivos móveis, bem como meios de comunicação sociais sob o argumento de que as ferramentas tecnológicas corrompem os bons costumes.
Caso as regras sejam violadas, a menina infratora e sua família têm de varrer as estradas da aldeia por 500 metros por cinco dias, ou pagar multas que podem chegar a mil rúpias, cerca de 14 dólares.
Em entrevista ao Times of India, o representante da aldeia Basauli disse: “As meninas são estragadas ao se envolver em relacionamentos com meninos em tenra idade, porque usam telefones. Isto leva ainda mais para a criminalidade. Em nossos tempos, não houve tais problemas, mas esta tecnologia tem mimado-os e foi necessário controlá-la.” Ramveer Singh acrescentou ainda que uma reunião com os anciãos da aldeia e homens chefes de família decidiu que haverá uma vigilância constante sobre as meninas que possuem celulares. Inclusive com a instalação de informantes entre a comunidade para delatar possíveis infrações.
Curiosamente, o desejo de proteger as meninas da comunidade resume-se apenas ao uso de tecnologia, uma vez que o esforço para controlar o porte de aparelhos eletrônicos não se estende a prevenção de crimes, estupros, tráfico e casamentos infantis – crimes que permanecem roubando a infância de meninas indianas.