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#TemQueFalar: “Fui estuprada aos 9 anos pelo padrasto da minha amiga”

Gabriela, hoje com 25 anos, só foi entender mais tarde o que havia acontecido. Leia seu depoimento

Por Redação CLAUDIA
Atualizado em 22 out 2016, 16h11 - Publicado em 3 nov 2015, 08h00

Na última semana, as mulheres brasileiras se uniram em torno do tema #PrimeiroAssédio, capitaneado pelo grotesco ataque sofrido por uma participante do MasterChef infantil – ela tem apenas 12 anos. A mobilização levou muitas delas a compartilhar em suas redes sociais casos semelhantes ou ainda mais graves, que deixam sequelas profundas em suas vítimas. Algumas delas, porém, preferiram guardar suas histórias para si, por medo de ser identificadas por seus agressores. Publicamos a história de uma leitora que, 15 anos após um ataque sexual, ainda tem medo de ser encontrada. Não demorou para que outras mulheres nos procurassem. Em comum, o desejo de dividir seus traumas, medos e culpas. Especialistas apontam que falar sobre eles é uma das maneiras eficientes de superá-los. Por isso, criamos o movimento #temquefalar. Um espaço de cura, que incentiva a troca de experiências e, sobretudo, traz o assunto à tona, para evitar novas vítimas entre crianças e mulheres. Clicando aqui, você lê o depoimento de Mariana, 46 anos, e aqui o de Marcela, 42 anos. Leia agora o depoimento de Gabriela.

“Tenho 25 anos, sou administradora, casada e tenho um filhinho de 4 meses. Nasci e cresci em uma cidade pequena no interior de Goiás.

Quando eu era criança, era normal brincar na rua ou na casa dos vizinhos. Luzia era minha melhor amiga. Na escola, só ficávamos juntas e, quando eu chegava em casa, jogava os materiais da escola no quarto e corria para casa dela, que era logo na esquina da minha. Ela morava com a mãe e o padrasto. Ele costumava ser muito gentil comigo e minha irmã.

Um dia, Luzia não foi à aula. Assim que cheguei da escola, fui à casa dela ver o que havia acontecido. Chegando lá, eu a chamei no portão. O padrasto dela apareceu na porta da sala e me disse: ‘Entra, ela está no quarto se vestindo, acabou de sair do banho’. Então entrei, cheguei na porta da sala e achei a casa meio quieta. Não sei como explicar, mas senti um frio na barriga que me incomodou. Eu tinha nove anos.

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Sentado no sofá, ele repetiu: ‘Pode entrar, ela está no quarto’. Eu continuei sentindo esse frio estranho na barriga. Sentei no pilar da área de fora e disse que esperaria lá. Foi quando ele se levantou, foi até a cozinha e voltou com as mão cheias de balinhas. Ele parou no meio da sala, olhou para mim e perguntou se eu queria, e sim, claro que eu queria. Ele continuou parado, estendeu a mão e me pediu para buscar.

Me lembro muito bem daquele homem bem alto, moreno, com uns 50 anos. Ele usava um chapéu branco e estava com os olhos estavam meio vermelhos. Sempre fumava. Então eu me levantei, entrei na sala e peguei as balinhas na mão dele. Quando minha mão tocou na dele, ele agarrou a minha, me puxou com bastante agressividade, e me jogou no sofá.

Eu nem sabia o que era sexo, ou o que ele poderia fazer, mas fiquei bem assustada. Fiquei travada, não conseguia falar, gritar, empurrar, ou chorar, só olhava para ele e tentava entender o que ele estava fazendo. Então ele abriu a calça, levantou minha saia, colocou minha calcinha pro lado e me penetrou. Ainda consigo me lembrar da dor intensa que senti. Tremi, mas não gritei, nem chorei. Não sei quanto tempo durou, eu sei que eu não sabia onde ele estava colocando aquilo, já que o que eu tinha era pequeno e só servia para fazer xixi. Sei que doía muito, e sempre que parava de doer, ele colocava de novo. No meio de toda essa confusão, ouvimos o portão da casa abrindo. Ele se levantou rápido, me puxou, me colocou de pé e disse para eu sair. Quando cheguei na porta da sala, minha amiga estava chegando com a mãe. Ela me recebeu como sempre e disse que estava na casa da avó. Enquanto ela foi guardar a bicicleta eu fui embora. Minhas pernas doíam.  

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Cheguei em casa e entrei direto no meu quarto. Queria contar para a minha mãe, mas tive medo de apanhar e de acharem que a culpa era minha, ou pior, como eu contaria o que tinha acontecido se eu nem sabia bem o que tinha acontecido, que nome poderia dar àquilo? Então não contei. Depois de muitos dias sem voltar a casa da minha amiga, ela me perguntou por que não estava mais indo lá, e só disse que estava de castigo, mas na escola não me aproximava dela. Sentia raiva por ter sentido dor e achava que a culpa era dela por não estar lá. Alguns anos depois é que fui entender o que havia acontecido. Fiquei muito mal, sentindo tanto ódio de mim mesma! Eu me questionava: por que não gritei ou chorei ou contei pra minha mãe? Por que não fiz nada?

Comecei a desenvolver um comportamento estranho, passava todos os dias na porta da casa deles, desejando que acontecesse de novo, para eu ter a chance de agir diferente. Isso aconteceu por muito tempo, até que comecei a ter pesadelos, e gritava muito à noite. Foi quando minha mãe começou a se aproximar de mim e tentar descobrir o que estava acontecendo comigo. Seis anos depois, me senti segura para contar pra ela. Lembro que minha mãe desabou, chorava muito, tremia, perguntava por que eu não tinha contado antes. Mas, depois que contei pra ela, me senti mais livre, os pesadelos passaram, mas as lembranças não. Ainda preciso de acompanhamento psicológico, por ser um pouco agressiva. Soube há pouco tempo que esse homem abusava também da minha amiga, mas ele acabou fugindo de casa e não o viram mais.

O diálogo entre nós, adultos, e as crianças envolvidas no nosso dia a dia, como filhos, sobrinhos ou primos mais novos, é muito importante. O maior motivo de não contar o que aconteceu é medo de ser castigada, mas não, a culpa não é nossa. Precisamos falar, expor não nossa intimidade, mas sim a falta de caráter, respeito, desses abusadores.”

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