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Tem greve de mulheres, dia 8, no mundo. E no Brasil também

Um 8 de março nada róseo. O lema que as brasileiras levarão às ruas é este: “Aposentadoria fica, Temer sai! Paramos pela vida das mulheres

Por Patrícia Zaidan Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 24 fev 2017, 19h09 - Publicado em 24 fev 2017, 15h36
Ilustração da artista Bonbon Oiseau (@bonbonoiseau), que vive em Nova York e contribuiu com o desenho para o movimento Women's March on Washington.  (Bonbon Oiseau/Reprodução)
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O recado que as mulheres pretendem dar no dia 8 de março em mais de 30 países surgiu na Argentina, dia 19 de outubro de 2016. A organização Ni Una Menos puxou um protesto para denunciar sete feminicídios naquela semana e 200 por ano. Quatro dias depois, na Polônia, ocorriam manifestações contra a indiferença do estado às violências de gênero. As polacas, que paralisavam suas atividades, pela segunda vez, entraram em contato com as argentinas em solidariedade. Redes foram se formando para concluir que a ação não podia mais ser localizada.

No dia 31, já se conectavam a elas Coréia do Sul, Itália, Israel, Irlanda e Rússia. Em 21 de janeiro, quando 500 mil americanas entoaram um “Fora Trump”, tornou-se indiscutível: ou o grito passa a ser uníssono e internacional ou continuaremos falando às pedras. O problema é planetário.

Assim, feministas dos Estados Unidos, como Angela Davis e a filósofa Nancy Fraser, publicaram em The Guardian uma carta anunciando que está nascendo um novo movimento feminista, de caráter internacional, com os tentáculos expandidos para se contrapor ao racismo, ao sexismo, à misoginia e à economia que tem escravizado as mulheres. Não é mera coincidência: somos as mais pobres em todos os países da Terra. Com salário sempre menor que o dos homens e obrigadas à nos submeter a uma obtusa lógica de produção, que suga a energia, devolve pouco e ainda rouba o tempo que poderíamos ter para nós mesmas.

Parênteses: Passar 10 horas trancadas em um escritório ou indústria foi bom principalmente para os homens (que tiveram com quem dividir as obrigações que eram só deles) e para o dono do dinheiro. Quando vejo uma mulher poderosa, no alto da hierarquia de uma grande empresa, questiono: É poder ou subserviência? Se ela repete ali o rito de exploração à outra (sua colega), aos outros (clientes, fornecedores, impactados do entorno), com foco no deleite, no lucro de poucos e distante da busca por uma humanidade sem fome, guerra e doença, a conclusão é rápida: uma mulher no topo do negócio não serviu para nada.

A carta assinada por Angela Davis (Mulheres dos Estados Unidos, vamos fazer greve. Vamos nos unir e assim Trump verá nosso poder”) mobilizou para uma greve que quer acertar as contas com os usurpadores, prevê um feminismo solidário, para 99%, que junte as trabalhadoras, suas famílias e aliados no mundo inteiro.

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Então, uma frase passou a correr de boca em boca, de rede em rede chamando para a greve interplanetária:

“Se nossas vidas não importam, que produzam sem nós”.

Cada país acrescentará a sua demanda. Aqui no Brasil, as coordenadoras (entre elas a União Brasileira de Mulheres, a Marcha Mundial de Mulheres) decidiram que a linha central vai ser ancorada neste slogan, adotado em São Paulo e em muitas capitais:

“Aposentadoria fica, Temer sai! Paramos pela vida das mulheres”

Motivos não faltam: a reforma da Previdência nos prenderá no escritório, na indústria, nos shoppings, nos laboratórios, nas empresas… até não haver mais tempo de viver para nós. Estou cansada de contar assassinadas, de mencionar o número de estupradas, surradas em casa e de mulheres mortas em abortos clandestinos – a quem o Congresso Nacional, o governo central e o dos estados insistem em menosprezar. Há décadas faço isso: no dia 8 de março contabilizo os prejuízos enfrentados pelas mulheres, as carências, o abandono. Também há anos ouço o rufar dos tambores como se houvesse um substancial empoderamento da mulher. Que empoderamento?

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Se o nosso trabalho não merece respeito, se nos pagam mal e nos cobram tanto, se os filhos não podem ser criados por nós (os meus cresceram quase sozinhos, com a mãe muito eficiente na empresa), então, fiquem aí produzindo no nosso lugar, neste 8 de março. Talvez percebam que o mundo vai mal, está falido, em conflitos – e quem o conduziu até aqui, senhores, foi o sexo masculino.

Em São Paulo, a manifestação começará às 15 horas na Praça da Sé. Na sua cidade, procure o local onde as bravas e indignadas vão se juntar para demonstrar que força, agora, significa juntar todas as mulheres em um grito solidário, ao mesmo tempo, em todos os cantos do mundo.

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