Silvia Brandalise: “A alegria ajuda na cura do câncer infantil”
Criadora do primeiro protocolo de tratamento do câncer infantil no Brasil, a médica foi uma das vencedoras do Prêmio CLAUDIA
Em 1992, um quadro de anemia grave que tornava um menino dependente de transfusão de sangue chamou a atenção da médica pediatra Silvia Regina Brandalise, 71 anos, na cidade de Campinas, interior paulista. Ela percebeu a presença de pequenas pérolas de cor azulada nos glóbulos brancos, o que provocava descoloração na pele. A constatação levou à descoberta de um tipo até então desconhecido de leucemia – quadro que passou a ser chamado de síndrome de Brandalise. Desde 1978, a pediatra paulistana dirige o Centro Infantil de Investigação Hematológica Dr. Domingos Boldrini, na mesma cidade, que montou praticamente sozinha e transformou em instituição de referência mundial no tratamento do câncer e de doenças sanguíneas em crianças
Seus pequenos pacientes (mais de 10 mil em acompanhamento atualmente) são diariamente recebidos em ambientes coloridos e bonitos: no Boldrini, há brinquedoteca, biblioteca e até um centro de informática com curso profissionalizante para adolescentes. “A alegria ajuda na cura”, garante a pediatra.
Em 1985, quando foi inaugurado, o centro contava com uma área de 1,5 mil metros quadrados e dez leitos para internação. Hoje, são mais de 100 mil metros quadrados com equipamentos de última geração. Para garantir o índice de 70% a 80% de cura – o mesmo dos principais centros de primeiro mundo –, Silvia não mede esforços. Além de administrar o hospital, faz acompanhamento ambulatorial, analisa o diagnósticos e coordena reuniões diárias com sua equipe de médicos. Arruma, inclusive, tempo ainda para ler e responder às inúmeras cartas que recebe das crianças em tratamento.
Toda essa dedicação fez de Silvia uma profissional reconhecida aqui e fora do país e lhe rendeu várias homenagens, entre elas o Prêmio CLAUDIA 1997. De lá para cá, a médica, casada e mãe de quatro filhos, nunca mais parou:
“Uma vez, vi uma criança com leucemia tentar o suicídio e senti um vazio na alma. Foi a partir dessa angústia que percebi que eu tinha poder para mudar as coisas. A capacidade estava na minha cabeça e dependia só da minha vontade. Hoje sei que posso chegar aonde quero porque aprendi que para percorrer uma longa estrada sempre se começa com o primeiro passo.” afirmou Silvia em entrevista.
Próximos passos
O Centro Infantil Boldrini comemorou 38 anos no dia 25 de janeiros. Para comemorar, foi comunicado que o centro aumentará ainda este ano. De acordo com a assessoria de imprensa, 30% da construção do Instituto de Engenharia Molecular e Celular foi concluído. Este será o primeiro centro de pesquisas específico para câncer pediátrico no Brasil. A previsão é que a obra seja entregue até dezembro. “O desafio da implantação de uma unidade especifica de pesquisa voltada ao câncer da criança permitirá o desenvolvimento de estudos com terapias-alvo ― hoje restritos ao câncer dos adultos”, explica a Dr. Silvia. O centro de pesquisas está sendo construído ao lado do prédio de Radioterapia e ocupará uma área de cerca de 5 mil metros quadrados.