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“Precisamos de pelos menos 30% de apoio para mudar algo”

Abaixo, você confere o nosso bate-papo com Andrea Chamma, que lidera um projeto pelo desenvolvimento da carreira de mulheres

Por Isabella D'Ercole Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 8 Maio 2017, 13h44 - Publicado em 31 Maio 2016, 16h10
Raquel Espirito Santo
Raquel Espirito Santo (/)
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Desde cedo, Andrea Chamma desejou traçar o próprio rumo sem ser limitada por ninguém. “Para isso, eu sabia que teria que ter independência financeira e precisaria ser a melhor”, conta. Assim, foi estudar e ainda jovem ingressou no mercado financeiro. Entre os muitos colegas homens, encontrou seu diferencial: “Prestava muita atenção aos clientes e antecipava movimentos”, lembra ela. Dali, foi trabalhar na área de investimentos do Citibank. “Havia muitas mulheres lá. Na época, não entendia a diferença que isso faz. Hoje, vejo que uma empresa que já tem mulheres possui o olhar aguçado para mais de um padrão de funcionário. Não acredito em desbravar uma área de homens sozinha”, conta. Chegou ao cargo de Vice-presidente. Saiu do banco para virar diretora do ING, instituição financeira holandesa, e, dali, para o ABN AMRO Bank. Em 2002, foi convidada para ser Vice-Chairwomen do Bank of America Merrill Lynch. “Nesses anos todos de mercado, comecei a entender a importância de falarmos sobre a desigualdade de gênero e as dificuldades que mulheres enfrentam para chegar ao topo”, explica. Recentemente, aos 50 anos, deixou a instituição para cuidar de um projeto voltado à formação profissional de mulheres. “Temos que nos unir porque sozinhas não vamos a lugar nenhum. Ao mesmo tempo, precisamos mudar os modelos das empresas para que eles sejam mais benéficos às mulheres”, defende.

Por que ainda não vemos muitas mulheres no topo?
Tomamos decisões baseadas em experiências anteriores, ou seja, se vemos poucas mulheres diretoras e presidentes, achamos que elas estão no lugar errado. Provavelmente, cairemos no estereótipo: homem de quarenta e poucos anos, vinte de experiência e branco. Temos que quebrar o padrão de forma consciente. Ao colocarmos mais mulheres no topo, vamos ter uma geração toda que vê isso com naturalidade.

Você já ocupou muitos cargos altos. Alguma vez sofreu preconceito por ser mulher?
Não tenho filhos, então passei mais da metade da vida ouvindo: “mas ainda vai ter…” É a mesma história das referências, é com a maternidade que sempre associamos as mulheres. Mas o universo feminino tem muitos lados, temos múltiplos interesses. Tem o trabalho, o casamento, os filhos, os pais. São modelos inconscientes, mas que, se mudados, farão grande diferença. Imagina se o homem assumisse algumas dessas funções. A estrutura piramidal tem que virar redonda. Ele pega um pedaço, ela pega um pedaço e dá um caldo bem bom. A mulher não precisa ficar cuidando de tudo sozinha e o homem não precisa ser um guerreiro solitário.

Analisando a situação atual, qual é uma característica que falta à mulher e que dificulta sua ascensão?
Com tanto sob sua responsabilidade, a mulher abandona o networking, ele fica por último na lista de tarefas. Mas, se eu tiver que recomendar alguém para uma vaga, tem que ser uma pessoa que eu conheço. Visibilidade, poder de negociação são coisas importantes que temos que aprender. Falo para as mães: ‘diga à sua filha que ela negocia bem, que ela tem iniciativa’. Só falamos para as crianças que elas são lindas, bonitas. E aí você constrói no inconsciente que isso é o importante. Ao mesmo tempo, saber negociar é uma ferramenta para parar com essa coisa de vender sofrimento, de trabalhar demais. Negocie seus horários, suas tarefas e tenha uma vida mais equilibrada.

Dentro das empresas, o que as mulheres podem fazer para romper com os padrões?
Uma voz sozinha não faz barulho o suficiente. Precisamos de pelo menos 30% de adeptos para convencer a mudar algo. Então, mulheres, união e organização são essenciais. A maneira que apresentamos a ideia também faz muita diferença. Em vez de chegar e reclamar ‘Eu nunca emendo feriado e o fulano sempre emenda’, repense sua entonação. Proponha: ‘Que tal se a gente tentar um calendário de rodízio de feriados? Quer que eu organize um?”. Chegue com a solução. E reúna apoio, já vá para a reunião com os 30% de aprovação. No Bank of America Merrill Lynch não tinha sala de amamentação. Um dia eu encontrei uma menina tirando leite com a bombinha no banheiro e quase enlouqueci. Perguntei o que ela estava fazendo ali e ela me disse que não tinha outro lugar. As salas de reunião eram de vidro. Aí pedi para fazerem uma salinha fechada com cadeira, geladeira. Perguntei para as outras mães como elas faziam e cada uma contou uma história diferente, mas ninguém tinha questionado a falta de estrutura. O que acontece é que os homens nunca tiraram leite e não encontraram uma mulher no banheiro tirando leite. A mudança da sociedade acontece quando revemos as regras que eram feitas por homens para homens. Então, nada de aceitar estruturas de 50 anos atrás. Vamos nos articular mais para mudar isso.

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Você me falou que sempre buscou um diferencial como profissional. Qual foi ele?
Eu sempre gostei de estudar. Vou viajar a trabalho e aproveito para fazer um curso no destino. À medida que você estuda e aprende, você muda. Tem coisas que precisamos fazer na nossa rotina, como supermercado, cuidar da saúde, mas pense onde mais você está gastando seu tempo. Será que você precisa mesmo ir a todas as aulas de balé da sua filha? Que horas você lê? A mudança não é natural. Ela precisa de esforço. O coração, por exemplo, contrai e expande. É isso que você tem que fazer, contrair e expandir, afinal, fazer o mesmo movimento repetidamente não muda nada.

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